Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em pessoas idosas: desafios e particularidades

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em pessoas idosas: desafios e particularidades

Tradicionalmente associado à infância, o transtorno pode persistir na vida adulta e avançar para a velhice.


Gabriela dos Santos e Thais Bento Lima da Silva (*)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica crônica caracterizada por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Tradicionalmente associado à infância, o transtorno pode persistir na vida adulta e avançar para a velhice, impactando significativamente a qualidade de vida das pessoas idosas. No entanto, o reconhecimento do TDAH nessa faixa etária ainda é um desafio, devido à escassez de estudos sobre a prevalência, ao subdiagnóstico e à sobreposição dos sintomas com outras condições clínicas, muitas vezes associadas ao envelhecimento.

O diagnóstico do TDAH em pessoas idosas apresenta dificuldades específicas, uma vez que os critérios diagnósticos foram inicialmente desenvolvidos para crianças. Além disso, a sintomatologia pode se modificar ao longo da vida, tornando a hiperatividade menos evidente e destacando sintomas de desatenção e impulsividade. Um dos principais desafios diagnósticos é a diferenciação entre o TDAH e outros transtornos comuns no envelhecimento, como transtornos de humor, ansiedade e comprometimento cognitivo leve (Klen et al., 2019).

Muitas pessoas idosas com TDAH nunca receberam um diagnóstico formal na infância ou juventude, o que dificulta a confirmação retrospectiva do transtorno. A ausência de histórico diagnóstico pode levar a um subdiagnóstico significativo nessa população. Para o diagnóstico correto, é essencial a utilização de instrumentos validados para adultos e pessoas  idosas, associado a uma avaliação clínica detalhada.

Curso online ao vivo Envelhecimento com Deficiência

Os indivíduos idosos com TDAH enfrentam desafios que vão além da sintomatologia central do transtorno. Estudos indicam que o transtorno está associado a uma maior prevalência de transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade (Arpawong et al., 2023). Além disso, a presença do TDAH pode impactar a funcionalidade e a capacidade das pessoas idosas em realizar atividades de vida diária, aumentando o risco de isolamento social e dificuldades em manter relacionamentos interpessoais.

O impacto do TDAH na velhice também está relacionado a variáveis sociodemográficas e cognitivas. Por exemplo, fatores como menor escolaridade, pior condição socioeconômica e acesso limitado a serviços de saúde mental podem contribuir para um pior prognóstico. Indivíduos com menor escolaridade podem ter mais dificuldades em compensar os déficits atencionais, e aqueles em situação de vulnerabilidade social podem ter acesso reduzido a diagnóstico e tratamento adequados.

Cognitivamente, o TDAH pode ser confundido com sintomas iniciais de doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer. No entanto, ao contrário das demências, os déficits cognitivos do TDAH tendem a ser mais relacionados a dificuldades de atenção sustentada e planejamento, sem o comprometimento progressivo da memória, por exemplo, sendo essa uma característica das doenças neurodegenerativas.

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

Estratégias de manejo devem ser adaptadas para a população idosa, incluindo abordagens farmacológicas seguras e intervenções psicoeducativas. Além disso, a inclusão de familiares e cuidadores no processo de tratamento pode favorecer a adesão terapêutica e o suporte emocional necessário para a pessoa idosa com TDAH.

Referências
ARPAWONG, T. E. et al. ADHD genetic burden associates with older epigenetic age: mediating roles of education, behavioral and sociodemographic factors among older adults. Clinical epigenetics, v. 15, n. 1, p. 67, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s13148-023-01484-y. Acesso em: 18 fev. 2025.
FISCHER, S.; NILSEN, C. ADHD in older adults–a scoping review. Aging & Mental Health, p. 1-8, 2024.Disponível em: https://doi.org/10.1080/13607863.2024.2339994. Acesso em: 18 fev. 2025.
KLEIN, M. et al. Longitudinal Neuropsychological Assessment in Two Elderly Adults With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: Case Report.  Front. Psychol. v. 10, n. 1119, p. 1-9, 2019. Disponível em: doi: 10.3389/fpsyg.2019.01119. Acesso em: 18 fev. 2025.

(*)  Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected].
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]

Foto de Helena Jankovičová Kováčová/pexels.


Portal do Envelhecimento

Compartilhe:

Avatar do Autor

Portal do Envelhecimento

Portal do Envelhecimento escreveu 4348 posts

Veja todos os posts de Portal do Envelhecimento
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

-->

Conecte-se com a gente

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS