Trabalho Voluntário: “Da zona de conforto para um mundo cheio de possibilidades”

Essa é a definição de Setsuco Yamashita, uma voluntária angariada pelo Itaú Viver Mais para o trabalho voluntário da Copa 2014, realizado no país em meados do ano. Cinco mulheres acima de 55 anos, engajadas, comprometidas, disponíveis e motivadas pelos valores de participação e solidariedade, contam suas experiências sobre a doação de seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada. Elas comprovam a feminização do voluntariado.

 

 

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesO que Dircea, Izildinha, Setsuco, Lucinda e Giséle têm em comum?

Todas essas cinco mulheres são engajadas, comprometidas e disponíveis. Elas, motivadas pelos valores de participação e solidariedade, doaram seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, ao Programa de Voluntariado com mais de 55 anos do Itaú Viver Mais, atuando na Copa 2014. Uma experiência inesquecível! E você, já fez ou faz trabalho voluntário?

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesEste tipo de trabalho tem até Lei, que considera como serviço voluntário a “atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade”. Trata-se da Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre o serviço voluntário no país e dá outras providências.

A Lei esclarece em seu parágrafo único que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim.

Essa lei surgiu porque o aumento da expectativa de vida tem levado alguns países a formalizarem ações voluntárias. Embora e infelizmente não seja nosso caso, começamos a ver um maior número de trabalhos que envolvem a troca e talentos entre pessoas de diferentes gerações. Eis aí um grande desafio para a cultura de compromisso social. Aliás, como falamos no Portal do Envelhecimento, para que a longevidade seja sustentável é mais do que necessário ações voluntárias intergeracionais.

Dircea, Izildinha, Setsuco, Lucinda e Giséle ainda têm em comum os requisitos necessários para realizar trabalho voluntário no país, como indica a cientista social Andrea Lopes. Entre eles estão: velhice inicial, ser ativo, independente, saudável, ter estrutura familiar estável, grupo ativo de amigos, papéis sociais adultos cumpridos, razoável nível de renda e escolaridade, acesso à informação, tempo disponível e, pasmem, ser mulher!

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesSegundo Lopes (2006), a feminização do voluntariado é definida porque as a) instituições no Brasil oferecem atividades mais femininas e voltadas ao cuidado; b) a ideologia da velhice produtiva e ativa atingiu maciçamente antes as mulheres do que os homens; c) os homens aposentam mais tarde e cada vez mais são chefes de família até idades mais avançadas; e d) as mulheres estão mais autorizadas a lidar e sofrer pelas tragédias coletivas.

E como Dircea, Izildinha, Setsuco, Lucinda e Giséle entraram para o voluntariado?

Para preparar o maior evento esportivo do país, iniciativas institucionais formaram um grupo de trabalho para atuar dentro do contexto de cada entidade durante a Copa do Mundo. Coube ao Itaú angariar um número expressivo de voluntários a fim de atuar junto a cerca de 600 mil turistas de 12 de junho a 13 de julho em algumas regiões do país, dentro do programa Brasil Voluntário.

Mais de 500 pessoas decidiram ser voluntárias, e receberam treinamentos online e presenciais. Os voluntários do Itaú Viver Mais, 82 pessoas na etapa inicial e 34 na etapa de atuação (22 de São Paulo, 2 do Rio de Janeiro, e 10 de Porto Alegre), todas na maturidade, passaram por diversas fases de treinamento, entre elas a de uso de ferramentas, inserção da tecnologia, visita a estádios, treinamento presencial e online e até de primeiros socorros.

Dos 34 voluntários do Itaú Viver Mais, 91% eram mulheres, que atuaram na Fan Fest, estações de metrô, centro de mídia e centro de voluntários.

O Portal do Envelhecimento quis saber de Dircea Capanema, Izildinha Batista, Setsuco Yamashita, Lucinda Bastos e Giséle Bonetti Kloeckner o que essa experiência representou para a vida de cada uma delas. Veja o que elas disseram.

Dircea Capanema

Dircea Capanema, 69 anos, mineira, separada, um filho e uma neta que apoiam o trabalho voluntário, incentivando-a a ir até o fim, mora sozinha. Ela faz parte dos 155 mil idosos do país que moram sozinhos. Uma tendência cada vez mais comum e irreversível. A fim de ajudar o próximo e a sociedade decidiu ser voluntária, acreditando que essa era uma boa oportunidade de colocar sua formação (assistente social) em prática. Dircea diz que sentiu orgulho em participar, pois essa “foi uma boa oportunidade de mostrar a receptividade do país e de estar em contato com outras culturas e povos”. Para ela a experiência enriqueceu sua história de vida.

Dircea conseguiu ampliar seus conhecimentos sobre diversos assuntos a partir dos treinamentos online e presenciais recebidos. Entre eles a dinâmica nos aeroportos do Brasil, primeiros socorros, como e quantas pessoas passam pelas áreas de grande fluxo da cidade. Sua atuação foi junto aos centros de mídia, e por isso teve muito contato com a imprensa brasileira e estrangeira, acompanhando de perto a cobertura da Copa e as expectativas dos profissionais de jornalismo com relação ao evento.

Sobre o maior desafio de ser voluntário diz ser a “doação de tempo, carinho, atenção para pessoas que precisam”. Segundo ela, “dá-se muito, mas recebe-se ainda mais. Esse é um aprendizado que levarei para a vida, para o meu dia a dia”.

Ela reconhece, no entanto, que no Brasil não há uma cultura de voluntariado. “Falta alma e vontade para esse tipo de trabalho”, diz. De acordo com ela, o brasileiro, em sua maioria, trabalha porque será beneficiado de alguma forma, normalmente financeiramente. Mas, “trabalhar voluntariamente não é uma questão de idade e sim de vontade”, explica. A experiência do voluntariado permitiu ainda que Dircea conhecesse melhor a cidade de São Paulo e seus principais pontos turísticos.

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesIzildinha Batista

Izildinha Batista, 60 anos, nasceu em São Paulo, e estudou até o ensino fundamental. Assim como Dircea ela também mora só e conta com o apoio do filho, seu grande incentivador. Ela acredita que as pessoas a partir de 55 anos estão preparadas para serem voluntárias, mas muitas vezes não se dão a oportunidade. Segundo ela é preciso mudar a visão e experimentar o novo, “dessa forma se vive mais e melhor”, diz.

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Para ela é importante as pessoas acima de 55 anos serem voluntárias e atuarem em outras áreas não só no esporte, mas também na saúde, escolas, eventos. Assim como Dircea, ela também deseja ir para o Rio de Janeiro ser voluntária nas olimpíadas do Rio 2016. Seu lema é: “Todo o trabalho voluntário enobrece a alma e ajuda no desenvolvimento do indivíduo”.

Izildinha entrou no Brasil Voluntário a partir de sua participação do Itaú Viver Mais, pois quando o pessoal do banco foi angariar voluntários para a Copa ela e suas amigas logo se animaram e se inscreveram. Daí para os treinamentos foi um passo. Aliás, ela diz que desconhecia muitas das informações que foram passadas e isso serviu para, além de “ampliar seu conhecimento, colocar o que aprendeu em prática no seu dia a dia”. Reconhece que os cursos foram ótimos e por isso se sentiu muito segura e equiparada para atuar.

Ser voluntária no maior evento esportivo do mundo lhe permitiu conhecer pessoas novas, fazer amizades, se empolgar, ter alegrias, festas, e conviver com diversas pessoas. Hoje ela está em busca de novos desafios.

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesSetsuco Yamashita

Setsuco, 67 anos, natural de Duartina, Interior de São Paulo, casada, cursou até ensino médio, mora em Taboão da Serra (SP) e tem um casal de filhos que a apoiou muito. Ela é amiga de Izildinha, quem a incentivou a ser voluntária. Assim como para Dircea, o treinamento foi importante para Setsuco, ampliando seus conhecimentos em relação a cidade onde mora, que é muito grande, descobrindo coisas novas, como o funcionamento do metrô. Ela atuou em volta do estádio e em centros de apoio aos voluntários.

Para ela, essa experiência lhe permitiu sair da sua zona de conforto para um mundo cheio de possibilidades.

Lucinda Bastos

Lucinda da Paz Nunes Pereira Bastos, 59 anos, participante do Itaú Viver Mais no Central Plaza Shopping, atuou na Copa do Mundo por 23 dias, estando na Arena Corinthians, Casa das Nações, sala de Imprensa e FIFA Fan Fest, em São Paulo.

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidades“Desde que começamos a ouvir sobre a possibilidade de trabalhar na Copa do Mundo no Brasil, eu e minha amiga Rita Santos fomos saber como poderíamos participar. Foi uma das experiências mais extraordinárias que tive. Ver tanta gente diferente, sotaques, roupas, sapatos, maquiagens, cabelos… E olha que já viajei para vários países com culturas e costumes bem diferentes… Mas o que vi foi completamente distinto de tudo o que já tinha visto na vida.”

Giséle Bonetti Kloeckner

Giséle Bonetti Kloeckner, 70 anos, professora aposentada, e seu marido, Irineu Jacob Kloeckner, 74 anos, estão no Itaú Viver Mais há dois anos. Eles (na foto, à direita) mostraram para os turistas a simpatia e hospitalidade do povo gaúcho. Atuaram no Aeroporto Salgado Filho, no Mercado Central e no Parque da Harmonia, em Porto Alegre (RS).

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesSegundo ela, no Clube Caixeiros Viajantes eram mais de 30 candidatos para o trabalho na Copa do Mundo e ficaram ela, o marido e mais uma pessoa. “Isso nos encheu de alegria, o nosso ego ficou lá em cima, porque achávamos que já estávamos pendurando as chuteiras e iríamos mais uma vez ser úteis”, comentou.

Diz que “quando estamos felizes, podemos transmitir alegria para as pessoas”, por isso, ao saber que recepcionariam os turistas e que a cada quatro pessoas que chegassem, somente uma iria aos jogos e as demais fariam turismo, decidiram, ela e o marido, dedicarem seu tempo àqueles que ficassem fora dos jogos. Assim, considera que o trabalho de acolhimento foi fundamental para que os turistas vissem que o Brasil não é como mostram nos jornais. Disse que no aeroporto “era aquele mundo de turistas alemães, argentinos, holandeses, franceses, argelinos, coreanos e nós indicávamos os caminhos, os acompanhávamos até os ônibus e entregávamos todas as informações sobre a cidade: hotéis, restaurantes, ruas, pontos turísticos”.

Giséle conta que ficou estarrecida com a quantidade de gente que viu naquele período, assim como a educação das pessoas. Época em que fez muita amizade, “pena que terminou tão cedo”, conclui.

trabalho-voluntario-da-zona-de-conforto-para-um-mundo-cheio-de-possibilidadesVoluntário Rio 2016

Aqueles que se entusiasmaram ao lerem esta matéria e tiverem interesse em saber como é ser voluntário num evento desse porte, lembramos que o Rio 2016 está chegando e as inscrições para ser voluntário vão até o dia 15 de novembro de 2014. Serão várias atividades no Rio de Janeiro e nas cidades que receberão jogos de futebol. Entre elas: receber o público nas arenas de competição, indicar o melhor caminho, ajudar os estrangeiros a se comunicarem…

O que é preciso para ser um Voluntário Rio 2016?

Para fazer parte do time de voluntários é preciso ter: 18 anos completos até 28 de fevereiro de 2016; dez dias disponíveis durante a realização dos Jogos Olímpicos e/ou Paralímpicos; Ensino fundamental (desejável); e disponibilidade para participar do processo seletivo e passar pelos treinamentos, que poderão corresponder a três dias em alguns casos.

Do voluntariado esporádico ao voluntariado contínuo

Com tanto trabalho a ser realizado neste país, quem foi “picado” pelas ações solidárias, pode fazer delas um trabalho contínuo em suas vidas como novo projeto de vida. Você conhece as ações que podem ser feitas perto de sua casa? Na sua igreja? Na UBS de seu bairro? Que tal se oferecer para acompanhar uma pessoa idosa dependente por uma tarde dando chance ao cuidador descansar ao menos por umas boas horas? Ou ler histórias para crianças com câncer hospitalizadas; ajudar a alfabetizar jovens e adultos; ler para crianças em shoppings; visitar idosos institucionalizados… enfim, o Brasil carece de gente como você, que faz a vida do outro um pouco melhor e a sua valer mais a pena!

Referências

LOPES, Andrea. Trabalho voluntário e envelhecimento: um estudo comparativo entre idosos americanos e brasileiros. Tese de doutoramento defendida na Unicamp, Campinas, 2006.

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