Tomie Ohtake, referência aos 100 anos

Homenagens e mais homenagens em diversos estados brasileiros com nada menos que 15 exposições, passando, claro, por São Paulo com a exposição “Influxos das Formas”. Sim, nada mais justo, afinal Tomie Ohtake completará no dia 21 de novembro 100 anos.

 

 

Atomie-ohtake-referencia-aos-100-anos produtiva Tomie revela na mostra em novembro seu processo de criação nas pinturas, telas em processo de finalização.

Como afirma Antonio Gonçalves Filho, do Jornal “O Estado de S. Paulo”, em sua reportagem com Tomie em 05/08/2013, “são trabalhos que, curiosamente, retomam questões já presentes em sua pintura dos anos 1960, um dos melhores períodos de sua produção”.

Ele completa: “Em Influxos das Formas, mostra com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, o vocabulário cromático e formal criado por Tomie é revelado por meio de collages, desenhos e croquis que o último curador encontrou guardados no fundo das gavetas da casa da artista, além de pequenas maquetes de esculturas. São cem obras conservadas por mais de seis décadas, desde que Tomie resolveu seguir o conselho do pintor japonês Keisuke Sugano, em 1951, e criou seu primeiro quadro”.

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O percurso de um artista e as escolhas da mulher

Gonçalves Filho em sua matéria fala um pouco do percurso profissional de Tomie, da mulher e da mãe que guarda características bem marcantes da cultura japonesa. Abaixo trazemos os principais trechos da matéria:

Ela pede ao filho Ricardo, diretor do instituto que leva o nome da mãe, para buscar no quarto a pequena tela, de 1952, uma das poucas que escapou de uma enchente no bairro paulistano onde morava na época. É uma natureza-morta, um vaso de flores de um vermelho intenso, cor que se tornaria sua marca registrada – as outras são o azul e o amarelo, curiosamente as primárias usadas por Mondrian, embora Tomie não tenha comungado do neoplasticismo do holandês, que usava blocos de cor separados de forma assimétrica por linhas retas.

Tomie não gosta da reta. “Não é da natureza humana”, justifica, defendendo a linha curva que marcaria as formas de sua pintura e a arquitetura de seu filho Ruy Ohtake (…).

Tomie, contudo, não associa sua pintura a uma revelação mística. Criou os filhos em colégios católicos apenas por considerar que Ruy e Ricardo deveriam receber educação compatível com a religião dominante do país que adotou para viver, aos 23 anos de idade.

“Meus pais não queriam que eu viesse ao Brasil atrás do meu irmão e, ao chegar aqui, tive de ficar por causa da guerra”. Foi justamente em novembro de 1936 que o Japão assinou o pacto com a Alemanha nazista. Forçada pelo irmão a ficar, Tomie Nakakubo aqui encontrou o engenheiro-agrônomo Ushio Ohtake (“um bonitão”, diz ela), casou-se e teve seus dois filhos. Só começou a pintar quando os meninos estavam em idade escolar. “Primeiro vem a família”, justifica, reforçando a tradição japonesa.

Dona de casa, ela pintou seu primeiro quadro aos 39 anos, a citada natureza-morta com flores. “Depois, passei a reunir amigos pintores japoneses aqui em casa para pintarmos juntos”. Ela fez paisagens da Mooca, onde morava, e, em 1953, passou a integrar o grupo Seibi, que organizava mostras de artistas japoneses. São, portanto, seis décadas de uma pintura que já nasceu premiada.

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