Um estudo realizado pelo farmacêutico André de Oiiveira Baldani, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, mostrou que a cada cem idosos que tomam remédios regularmente, pelo menos 44 possuem receitas médicas com medicamentos considerados inadequados para eles.
São dados extremamente preocupantes, revelando que: 30,9% dos idosos tomam remédios por conta própria (automedicação); 37,1% não usam os remédios conforme prescritos na receita; 46,2% relataram reações adversas aos medicamentos; e apenas 12,6% receberam orientações do farmacêutico quando retiraram os remédios.
A pesquisa foi realizada em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e aplicada a uma amostra de mil idosos, entre novembro de 2008 e maio de 2009. Dentre todos os entrevistados, 468 usam apenas as farmácias do SUS (Sistema Único de Saúde) para conseguir os medicamentos. A média de idade dos participantes foi de 69,8 anos.
Ter um índice de 44,2% de idosos tomando medicamentos inadequados, é muito preocupante, segundo Baldani: “Esse tipo de remédio compromete a segurança e a qualidade de vida deles.”
Mas quando um remédio pode ser considerado inadequado para um idoso? Quando faltam evidências sobre sua segurança para essa faixa etária e além disso, como o organismo dos mais velhos absorve e elimina o remédio com menos eficácia, alguns medicamentos devem ser evitados por eles, a exemplo, os remédios usados para tratar alergias.
Com relação a esse tipo de medicamento, a pesquisa mostrou que alguns idosos receberam prescrições de antialérgicos de primeira geração. No entanto, esses medicamentos causam sonolência, o que aumenta o risco de quedas em pessoas dessa faixa etária. Por isso, os antialérgicos de primeira geração são considerados inadequados para os mais velhos. Segundo o médico geriatra Clineu Almada Filho, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo): “O ideal seria prescrever um antialérgico de segunda geração. Mas, muitas vezes, esses remédios não são encontrados no sistema público. Geralmente a dose tem que ser menor, mas isso não significa que deve ser a metade. Depende de cada pessoa, que deve ser avaliada por um médico.”
O que provocam no organismo?
Para entender de que forma um medicamento age no organismo do idoso, é preciso conhecer primeiro as mudanças causadas pelo avanço da idade. Almada Filho explica que, com o envelhecimento, há perda de massa muscular, aumento do volume de gordura e diminuição da quantidade de água. Como há medicamentos que agem no músculo (como os para problemas cardíacos) e outros que atuam nos tecidos gordurosos (como os ansiolíticos), sua ação no organismo se altera com o passar dos anos. Afirma o médico: “Os remédios que se depositam na gordura têm um volume de distribuição maior, o que prolonga seu tempo de ação. Já os que atuam nos músculos têm um local de ação menor, por isso acabam se acumulando.”
O problema fica mais grave ainda porque, segundo o médico, os órgãos começam a perder desempenho por volta dos 40 anos. Isso piora a absorção do medicamento pelo organismo (metabolizada no fígado) e sua posterior eliminação (feita pelos rins ou intestino). “Como há acúmulo de remédios, menos locais para ação do fármaco, metabolização deficiente e eliminação prejudicada, esses medicamentos têm risco grande de causar problemas nos idosos.”
O consumo de remédios inadequados, assim como a automedicação, aumenta as chances de ocorrer dois problemas nos idosos: as reações adversas e as interações medicamentosas (quando um fármaco interfere ou anula a ação de outro).
Segundo o levantamento da USP, 46,2% dos idosos relataram reações adversas aos medicamentos, que são os efeitos colaterais causados por um fármaco, como diarreia, náusea, azia, dores, boca seca, mal-estar, insônia, sonolência, impotência, entre outros.
Baldani aponta três possíveis razões para justificar a prescrição de remédios inadequados: a falta de conhecimento de alguns profissionais de saúde; a falta de opções de remédios no sistema público; e a baixa renda dos idosos, que ficam sem acesso às outras drogas do mercado. “Às vezes é difícil para o profissional de saúde, porque, ou ele prescreve o remédio que tem na rede pública, ou o idoso fica sem o medicamento. Mas isso exige mais estudos para comprovar”, explica o médico.
Fonte: Notícias R7, em 05/02/2011. Disponível Aqui