Suporte social e o contexto social

Suporte social e o contexto social

O suporte social é uma variável importante para a saúde dos idosos, mas não há uniformidade quanto ao modo de avaliar. A existência de uma variedade de técnicas avaliativas reflete a complexidade do assunto.

 

A presença das interações sociais parece contribuir para um melhor enfrentamento das situações adversas que podem surgir no cotidiano dos idosos.  Mas, atualmente, uma parcela dos idosos tem enfrentado rede de suportes sociais escassas, que não atendem as demandas necessárias.

A família, por ser o contato mais próximo e por, muitas vezes, residir no mesmo domicílio que os idosos, acaba por se tornar o principal sistema de apoio informal. Entretanto, hoje a dinâmica desse suporte tem se modificado, trazendo novos desafios.

Nas últimas décadas notou-se que a nova geração de filhos que está inserida em uma cultura que preza por independência e autonomia, impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Esta conduta acaba por fazer com que os filhos não se tornem presentes na vida de seus pais idosos e, assim, o suporte social oferecido não se demonstra adequado. Em países economicamente desenvolvidos, onde o processo de envelhecimento ocorreu de forma lenta, foi possível que a sociedade se adaptasse de forma apropriada do ponto de vista social, político, econômico e familiar para lidar com o fenômeno. Diferente de países em desenvolvimento, que pela velocidade que se encontram no processo de envelhecimento, sofrem com o impacto que tal mudança causa aos diversos segmentos da sociedade. Em virtude disso, diversos conflitos se estabelecem, sejam de ordem familiar, econômica, política, previdenciária, social, gênero ou de saúde.

O suporte social da família funciona como fator protetor para os idosos no processo de enfrentamento e recuperação de enfermidades, estresse e outras experiências difíceis da vida. Por conta disso, avaliar a composição familiar e as funções que seus membros desempenham na vida dos idosos é importante para o fornecimento de informações significativas para o planejamento do cuidado adequado aos idosos, capaz de satisfazer necessidades biopsicossociais de seus membros.

O suporte social é uma variável importante para a saúde dos idosos, mas não há uniformidade quanto ao modo de avaliar. A existência de uma variedade de técnicas avaliativas reflete a complexidade do assunto.

Para representar graficamente o suporte social de idosos brasileiros, temos alguns instrumentos validados:

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Genograma
Instrumento que representa a estrutura e a dinâmica familiar, podendo incluir dados sociodemográficos, a história clínica e as relações interpessoais entre os elementos de pelo menos três gerações de uma família.

Ecomapa
Representa a força, o impacto e a qualidade da ligação dos membros da família com o meio, ou seja, com a vizinhança.

Diagrama da Escolta
(Kahn & Antonucci, 1980). Mensura e representa o tamanho e a eficiência dos comboios sociais.

Mapa Mínimo de Relações do Idoso (MMRI)
(Domingues, 2000). Identifica os relacionamentos significativos para o indivíduo, avalia o tamanho da rede de suporte social, conhece a natureza da relação (amigos, membros da família, da comunidade e da rede social e de saúde), a frequência de contatos e o suporte percebido referente a cinco funções: visita, companhia, cuidados da casa, cuidados pessoais e auxílio financeiro.

Para avaliar a rede de suporte social validados para o português do Brasil temos os instrumentos:

Social Support Questionnaire (SSQ)
(Saranson, et al., 1983). Identifica o número de pessoas que constituem o apoio social percebido pelo participante e a satisfação do mesmo em relação a este suporte.

Escala de Apoio Social Utilizada no Medical Outcomes Study
(Sherbourne et al., 1991). Avalia quatro dimensões de apoio social: material, que abrange provisão de recursos práticos e auxílio material; afetiva, demonstrações físicas de amor e afeto; interação social positiva, referentes à habilidade da rede social em satisfazer as necessidades individuais em relação a problemas emocionais.

Apgar de Família ou Family Apgar
(Smilkstein, 1970). Mensura a satisfação dos membros da família em relação a cinco componentes considerados básicos na unidade e funcionalidade de qualquer família: adaptação (recursos familiares oferecidos quando se faz necessária uma assistência), companheirismo (reciprocidade nas comunicações familiares e na solução de problemas), desenvolvimento (liberdade, disponibilidade da família para mudanças de papéis e para alcance de maturidade ou desenvolvimento emocional), afetividade (intimidade e às interações emocionais num contexto familiar) e capacidade resolutiva (decisão, determinação ou resolutividade existentes).

A avaliação das relações sociais é cada vez mais necessária, para uma atenção integral à pessoa idosa. É necessário pensar nos novos paradigmas sociais, buscando maneiras para favorecer o atendimento adequado e a manutenção do suporte social aos idosos, tendo em vista o aumento da população de idosos nos próximos anos frente a redes de suporte sociais escassas e  que não conseguem atender a todas as demandas necessárias dessa população.

Referências

  1. Fraiman, A.. Idosos Órfãos de Filhos Vivos – Os novos desvalidos. Disponível em: <https://anafraiman.com.br/idosos-orfaos-de-filhos-vivos-os-novos-desvalidos/>. Acesso em: 11 abr. 2017.
  2. Rinco, M., Lopes, A. & Domingues, M.A. (2012) Envelhecimento e Vulnerabilidade Social: discussão conceitual à luz das políticas públicas e suporte social. Revista Temática Kairós Gerontologia,15(6).
  3. Alvarenga, M. R. M., Oliveira, M. A. C., Domingues, M.A.R. C. , Amendola, F., & Faccenda, O. (2011). Rede de suporte social do idoso atendido por equipes de Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, 16(5)
  4. Domingues, M.A.R.C., Ordonez, T.N., Lima-Silva, T.B., Nagai, P.A., Barros, T.C.de & Torres, M.J. (2012, dezembro). Revisão sistemática de instrumentos de avaliação de rede de suporte social para idosos. Revista Temática Kairós Gerontologia,15(6).

Marisa Accioly R C Domingues

Assistente Social, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Doutora e Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Atuou na área hospitalar até 2006, como Assistente Social do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, desenvolvendo atividades no serviço de geriatria daquele hospital, além de coordenar cursos de atualização e especialização em gerontologia. Atualmente é docente do curso de Gerontologia, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Atua na área de Envelhecimento, Suporte Social e Políticas Públicas. E integra dois grupos de pesquisa: Núcleo de Pesquisas e Estudos em Gerontologia (NEPEG) e Grupo de Pesquisa em Necessidades de Saúde do Idoso (GPENSI). E-mail: [email protected]

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Assistente Social, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Doutora e Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Atuou na área hospitalar até 2006, como Assistente Social do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, desenvolvendo atividades no serviço de geriatria daquele hospital, além de coordenar cursos de atualização e especialização em gerontologia. Atualmente é docente do curso de Gerontologia, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Atua na área de Envelhecimento, Suporte Social e Políticas Públicas. E integra dois grupos de pesquisa: Núcleo de Pesquisas e Estudos em Gerontologia (NEPEG) e Grupo de Pesquisa em Necessidades de Saúde do Idoso (GPENSI). E-mail: [email protected]

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