Sr. Wendelin nasceu no dia 02 de outubro de 1936, em Pomerode, Santa Catarina. Aposentou-se na construção civil, como servente de pedreiro. É casado com dona Rovena, de 70 anos, tem cinco filhos (3 homens e 2 mulheres), sete netas e um neto.
A velhice em Pomerode
Em 1913, o pai do Sr. Wendelin, senhor Alberto Siewert, descendente de alemães, construiu a casa em estilo enxamel, onde o Sr. Wendelin mora até hoje, com sua esposa, seu filho Rogério, de 26 anos, a nora Adriana e a neta Júlia. Localizada no Médio Vale do Rio Itajaí-Açú, Pomerode é uma pequena cidade a 178 quilômetros de Florianópolis, com uma população de 25.000 habitantes.
Pomerode surgiu com a imigração alemã no Brasil, em 1861, com a chegada dos primeiros imigrantes. A criação da colônia, estrategicamente entre Blumenau e Joinville, foi incentivada pelo grupo do Dr. Hermann Blumenau, para que fortalecesse o comércio entre ambas. Os lotes de terras foram divididos entre os imigrantes, que passaram a se dedicar à produção de arroz, batata, fumo, mandioca, feijão e a criação de animais. Com a chegada do século 20, pequenas indústrias se instalaram na região, com destaque para o ramo de porcelana e têxtil.
Pomerode possui o maior acervo de casas em estilo enxaimel do Brasil. A forte influência germânica vai muito além da arquitetura encontrada nas ruas da cidade. O idioma alemão e dialetos germânicos ainda hoje são falados com freqüência pela maioria dos pomeranos.
A maior parte dos imigrantes alemães vieram da região histórica da Pomerânia, situada entre o norte da Alemanha e Polônia e de onde se origina o nome do município. Os pomeranos são descendentes de uma mistura de povos germânicos e eslavos. Quando chegaram ao Brasil, os pomeranos não se identificavam como sendo alemães, pois possuíam características culturais distintas, porém, com o passar do tempo, acabaram se incluindo entre os alemães.
A Casa de Wendelin Siewert faz parte da Rota do Enxaimel, maior concentração de edificações em estilo enxaimel existente fora da Alemanha e tombada pelo patrimônio Estadual.
São cerca de 70 casas espalhadas ao longo do trecho, cercadas pela paisagem bucólica da localidade de Testo Alto. No início da rota está a casa comercial Weege. Quase no final do trajeto a Casa Wachholz, a edificação enxaimel mais antiga da cidade e também o mais antigo cemitério da cidade, junto à Igreja Testo Alto. Foi visitando a rota enxaimel que conheci Sr.Wendelin. Com a ajuda de sua nora e de seu filho, marcamos um encontro em frente à sua casa e passamos algumas horas conversando, vendo fotos da família e falando sobre envelhecimento.
Sr. Wendelin me explica que a construção enxaimel é um tipo de construção de modelo alemã, feito com toras de madeira e tijolos maciços e que quando os imigrantes alemães chegaram em Pomerode, era o único tipo de construção que eles sabiam fazer.
Casa tipo Enxaimel
Envelhecer em Pomerode
Sou o filho mais novo dos homens, esta casa foi meu pai quem construiu.
Sempre trabalhei na roça, plantava aipim (mandioca), arroz, milho e criava um pouco de gado.
Esse morro que você está vendo em frente a minha casa, eu subia e descia várias vezes ao dia.Meu pai também tirava o sustento da família desta terra. O milho era para alimentar os animais, e o resto da plantação para alimentar a família.
Hoje sobraram só 4 vacas que dão leite, alguns patos e alguns porcos para vender. O leite tirado das vacas é quase todo para o nosso consumo, minha mulher faz queijo, manteiga e pão no forno à lenha. Sobra pouco leite para vender. Não vale a pena, o lucro é muito pequeno, eles pagam R$ 0,37 o litro e nós ainda temos que pagar o frete. Dá para ganhar uns cem reais por mês.
Até o ano de 1989, eu só cuidava da roça. Depois fui trabalhar na construção civil como servente de pedreiro. Todos os dias saía de casa às 5:30 horas e pedalava minha bicicleta uma hora e meia até chegar no trabalho. Fiz isso durante 11 anos e há 7 anos eu me aposentei.
A família Siewert
Meu pai se chamava, Alberto Siewert e minha mãe Anna. Eles tiveram 12 filhos. Seis homens e seis mulheres. Meus pais trabalharam muito para criar os filhos. Meu pai faleceu com 81 anos e minha mãe com 83. Já faleceram dois irmãos e uma irmã. Uma das minhas irmãs reside em Blumenau, os demais em Pomerode.
No centro da foto: Sr. Alberto e Dona Anna. Ao lado do pai estão as noras sentadas e os filhos atrás, em pé. Ao lado da mãe, as filhas sentadas e os genros, atrás em pé. Sr. Wendelin, destacado por uma seta branca.
A saúde
Dizem que cigarro faz mal e a cachaça também. Eu não fumo e não tomo cachaça, só um pouco de cerveja nas festas. Acho que é importante ser feliz, deixar as coisas acontecerem naturalmente. Não ter inimigos e preservar a união da família.
Minha saúde é boa. Posso comer de tudo e não tenho diabetes e nem problema de pressão. Hoje o pessoal que trabalha nas fábricas sofre mais pressão, vive pior. Eles têm que cumprir uma produção e por isso o desgaste é maior.
É diferente envelhecer em Pomerode?
É melhor. Aqui em Testo Alto tem muito verde, o ar é puro. Não tem violência, é o bairro mais tranqüilo de Pomerode.
O senhor recebe alguma verba para ajudar na manutenção da casa, já que é patrimônio histórico?
Não, não recebemos. Temos que conservar, porque como a estrutura é de madeira pode aparecer cupim. Isso já aconteceu uma vez, mas conseguimos resolver o problema.
Religião
Sou evangélico. A religião é muito importante na vida da gente. Temos uma igreja aqui perto onde nos reunimos. Na verdade não é uma igreja, é apenas uma casa comunitária onde o culto é feito em alemão e às vezes em português também. Estamos fazendo rifas e festas para arrecadação de dinheiro para a construção de uma igreja e de uma capela mortuária perto de nosso cemitério. A comunidade local é muito unida. Todos ajudam. Meu filho também trabalha para a comunidade da igreja e faz parte da diretoria.
As comunidades de bairro organizam eventos para conseguir verbas para a melhoria das suas entidades locais como: escola, igreja, clubes culturais, dentre outras.
A casa Wendelin
Quando estávamos conversando apareceu o filho mais novo, Rogério, de 26 anos, com a sua filhinha Júlia, de 1 ano, e se juntaram a nós. Sempre que o Sr. Wendelin não entendia algum significado da palavra em português, Rogério gentilmente explicava para ele em alemão e ele me respondia em português.
As 3 gerações: Sr. Wendelin, o filho Rogério e a neta Júlia
Ficamos na varanda da casa conversando e não tive a oportunidade de conhecer dona Rovena, segundo eles ela estava ocupada na cozinha, fazendo pães e doces para seu aniversário que seria comemorado no dia seguinte. Mais tarde me confidenciaram que ela era tímida, por isso não queriaaparecer. O Sr. Wendelin entrou na casa e voltou com muitas fotos da família. Então me mostraram uma foto dele com dona Rovena, para que eu a conhecesse.
Sr. Wendelin e Dona Rovena Rogério, Sr. Wendelin e Adir
Na casa, todos falam alemão. O vovô diz que a neta Júlia já balbucia alguma coisa porque eles conversam com ela em alemão.
Quando encerramos nossa conversa, já me encaminhando para voltar ao centro da cidade, Adir, e sua esposa Dóris, me convidaram para um café na casa deles, próxima a casa do Sr. Wendelin. Fiquei surpresa, Dóris estava com a mesa posta para um super café, com leite fresco tirado naquele dia, queijo, manteiga, pão e cuca caseira, feitos em casa, no forno à lenha. E mais: bolo de chocolate, melado, etc.
Sentei-me como se fizesse parte daquela família que eu conhecera há algumas horas e nem sabia se veria novamente. Sentamos todos à mesa, juntamente com os filhos de Dóris e Adir: Jackson e Jeane e continuamos a nossa conversa, só que agora, sobre a nova geração dos Siewert.
Nota
A entrevista não foi gravada como habitualmente ocorre. Estava visitando Pomerode e não carregava um gravador. Meus recursos se resumiam a uma caneta, algumas folhas de papel e o celular para tirar fotos.
A neta do Sr. Wendelin, Jeane, de 20 anos, gentilmente se prontificou a receber por e-mail a redação e ler para os seus pais e para seu avó autorizar a publicação. E assim foi feito.