Sr. Armando Cordeiro da Silva, 63 anos: relata as grandes paixões de sua vida. Uma delas é o futebol, que ele pratica até hoje.

Sr. Armando é pai de uma linda advogada de 30 anos de seu primeiro casamento. Uma filha de quatro anos e uma esposa de 38 são suas outras paixões declaradas. Ele confessa que teve alguns problemas para ser aceito pela família dela, por ela ser muito mais jovem. Ele me recebeu em sua casa em Piracicaba junto com a esposa e filhas A entrevista foi quase um bate-papo. O Senhor Armando é muito espontâneo e a nossa conversa fluiu clara e objetiva.

Marisa Feriancic

 

Filho de um português João Bernardo da Silva e Dona Angelina Cordeiro, brasileira (ambos falecidos), nasceu em São Paulo no dia 11 de junho de 1941. É o terceiro nascido de sete irmãos. Em 1978, mudou-se de São Paulo para Piracicaba a rabalho. Gostou da cidade, fez muitos amigos, constituiu nova família e nem pensa em voltar para São Paulo.

Lembranças da infância

Eu tive uma infância feliz. Éramos em 7 irmãos, quatro homens e 3 mulheres. O mais novo dos homens faleceu em 1989. Lembro com muito carinho do meu avô materno. Quando eu tinha meus seis, sete anos de idade ele ia à minha casa me levar balas. Tinha um tio muito querido, o tio Carlos, irmão de minha mãe. Sempre que ele ia lá em casa dava um dinheirinho pra gente. Deixava umas moedas. Eu gostava mais das balas do avô. Criança não sabe o que fazer com dinheiro.

Eu fui uma criança sadia, muito feliz. A família era grande e dependia muito do trabalho do meu pai. Tinha uma irmã mais velha e um irmão, que ajudava meus pais a cuidar dos mais novos. Os brinquedos eram conservados e passava do mais velho para o mais moço. Não tinha dinheiro para comprar brinquedo para todos. Bicicleta era uma só. Ela era conservada e todos usaram a mesma. Não acho que isso era problema. Tivemos falta de dinheiro, falta de serviço, mas tive uma infância sadia, cercada de amigos e de irmãos. Eu sempre gostei de ler.

Quando eu tinha dez anos eu ganhei um livro “Vinte mil Léguas Submarinhas” de um senhor, nosso vizinho, o Sr Antônio. Fiquei tão feliz com o livro, que pedi para ele ser meu padrinho de crisma e ele aceitou. Meu padrinho tinha três filhos homens que eram nossos amigos. O mais novo, o Toninho baby, é meu amigo até hoje e mora na mesma casa que os pais moraram. Jogávamos bola juntos quando crianças e até fundamos um Clube de futebol. Faz algum tempo que a gente não se vê, mas estou planejando ir à São Paulo para fazer-lhe uma visita.

Nasci numa casa no Bairro da Parada Inglesa e morei lá até me casar, em 1968. Era uma casa boa, com um quintal grande. Naquela época a gente brincava na rua, com carrinho de rolimã, empinava pipa, jogava muita bola, fazia fogueira nas festas juninas e soltava balões. Minha mãe gostava muito de plantas e no quintal da casa tinha muitas árvores; jabuticabeira, abacateiro, limoeiro, etc. Tinha uma pequena horta também. O abacateiro ficava na frente da casa, era a marca registrada da casa. Ele ficava bem no meio do jardim.

Eu sentava embaixo do abacateiro e ficava lendo “Vinte mil Léguas Submarinhas”. Tinha uma coleçõe do “Reader’s Digest” que eu também gostava de ler. Ganhei de presente, chegava um livro por mês. Eu lia todos. Meu marcador de página era feito com uma nota de dinheiro, que hoje faz parte da minha coleção de notas antigas. Tenho todas guardadas. Tenho uma pequena coleção até hoje.

Um pequeno grande economista

Quando tinha uns 12 anos, inauguraram um cinema perto de casa, chamava-se Cine Urca. Os donos, Sr. Juvenal e Dona Olga, eram amigos de minha mãe. Eu fui trabalhar lá no cinema para ganhar um dinheirinho. Ajudava na limpeza, recolhia, vendia os vasilhames, e com isso fui guardando dinheiro. Com 13 anos eu tinha dinheiro para dar entrada num terreno. Falei com meu pai e ele achou a idéia interessante. Ele resolveu comprar um terreno para cada filho. Aos 14 anos consegui meu primeiro emprego. Comecei a trabalhar numa empresa de rolamentos, como auxiliar de escritório. Eu paguei meu terreno sozinho. Terminei de pagar com quinze anos. Fiquei nessa empresa até janeiro de 2005. Trabalhei e me dediquei 49 anos da minha vida a essa empresa. Foi difícil me desligar.

A escola e a primeira namorada

Existiam duas escolas estaduais próximas da minha casa. Uma mais elitizada, a Silva Jardim, que ficava no Tucuruvi, e outra mais simples, a Frei Galvão, que ficava na Parada Inglesa. As salas eram galpões de madeira. Quando chovia alagava toda escola. Terminei o curso primário na Escola Frei Galvão. Nessa época a situação financeira era difícil. A família era grande, minha mãe sempre ajudou meu pai, costurou muita roupa para fora. Minha mãe fazia meu uniforme escolar. Era um casaquinho todo branco, sem gola, com dois bolsos e um calção azul-marinho com bolso. Eu pegava minha malinha pesada de cadernos e livros e lá ia eu todo feliz, arrumadinho para a escola. Minha mãe era muito caprichosa. Enquanto ela teve força e saúde ela fez tudo pelos filhos.

Com 12 anos, consegui mudar para o outro colégio que era melhor. Nesse colégio, conheci uma menina linda que tinha 10 anos de idade que se chamava Vanda. Foi meu primeiro amor. Tenho a foto dela até hoje. O pai dela era amigo do meu pai e convidou-nos para damas de honra de um casamento. Eu já estava com 14 anos e ela com 12. Saí desse colégio, fui para o outro, e nós nos afastamos. Nessa época eu estava muito envolvido com o esporte e já tinha conquistado muitos amigos.

Tinha um campinho encima de um morro, perto de casa. Era o famoso “Morro Careca”, onde nós jogamos muita bola. Minha mãe não gostava muito, meu pai também não. Do quintal da minha casa dava para avistar o morro. Muitas vezes eu saía e avisava minha mãe que ia jogar bola. Chegava no morro e dali a pouco minha mãe já estava gritando me chamando. Lá ia eu para a padaria buscar pão, leite e outras coisas mais. Eu ficava muito bravo, acabava de sair e a mãe já me chamava. Eu saía bravo do campo ia até a padaria e voltava para o campo novamente. Perdia meia hora de bola. Mas tudo bem sabia que era minha obrigação, minha mãe sempre fazia tudo por mim. Tinha os irmãos mais novos e os mais velhos tinham que colaborar.

A paixão pelo futebol

O esporte foi uma das coisas melhores coisas que aconteceu na minha vida. Com 15 anos eu fundei um clube de futebol apoiado pelos pais de meus amigos e também pelo meu pai. Através do futebol eu consegui fazer muitos amigos, alguns eu conservo até hoje. Meu amigo Rino é um exemplo. Quando nos conhecemos ele tinha cinco anos e eu tinha nove. Até hoje somos amigos. Hoje ele mora em Curitiba, mas a gente mantém contato. Trabalhamos juntos na mesma empresa durante anos. Esse amigo morava em frente ao campinho de futebol onde nós jogávamos. Às vezes a bola caía na casa dele e ele ia devolver a bola para a gente. Um dia ele atravessou o campo e perguntou se podia jogar. Ele era tão pequenino, tinha só cinco anos, mas nós deixamos ele jogar no gol.

Hoje a gente lembra disso e dá risada. Ele ficou jogando com a gente e mais tarde montamos um time e ele foi nosso goleiro. Trabalhamos juntos durante muito tempo. Eu sou padrinho do filho dele, o meu afilhado já é casado e tem três filhos. Através do esporte eu conheci muitas pessoas e fiz ótimas amizades.

Em 1958, o Brasil foi Campeão Mundial de futebol pela primeira vez. Isso entusiasmou a garotada que já gostava desse esporte. Aos 12 anos, eu tinha um grupo grande de amigos que jogavam futebol lá no “campo careca”. Eram amigos do bairro. Eu me relacionava também com os pais deles. O senhor Teixeira, pai do meu amigo Silvio gostava muito de futebol. Um dia falei para ele que queria montar um time de futebol. Ele se entusiasmou com a idéia e disse que me ajudaria. Nós éramos muito moleques ainda e precisávamos de orientação.

Ele disse que a primeira coisa que nós precisaríamos era dinheiro. Mas como iríamos conseguir dinheiro? Juntamos os trocadinhos de cada um e compramos um livro de capa dura, dourada, que se chamava “Livro de Ouro”. Era um livro onde iríamos anotar todas as assinaturas e as doações para montar o time de futebol. Nós éramos em 16 moleques, mas ficaram cinco na organização: eu, o Toninho baiano, o Toninho baby, o Silvio e o Rino. Não tive mais contato com o Silvio. O Toninho baiano faleceu. O Rino e o Toninho Baby são meus amigos até hoje.

No bairro da Parada Inglesa existia uma sociedade chamada “Sociedade Socorros Mútuos Alvorecer”. Ela existe até hoje em outro endereço. Em 1958 essa sociedade era voltada para a assistência médica. Tinha dois médicos e dois advogados. Os associados tinham assistência médica, alguns serviços de radiologia e outros atendimentos. Como ela era muito importante e respeitada no bairro, resolvi nomear o nosso clube de: “Esporte Clube de Alvorecer da Parada Inglesa”.

A cor predominante da Sociedade médica era azul e branca e nós colocamos as mesmas cores no nosso Clube. Quando compramos o livro, eu, o Toninho baby e o Toninho baiano fomos até a sociedade médica, pedir autorização para usar o nome deles, se eles aceitassem poderíamos pedir uma colaboração em dinheiro. Nós éramos muito moleques, mas éramos espertos. Eles se entusiasmaram com a idéia e perguntaram quem ia ser responsável. Nós falamos que era o Sr. Teixeira. Pediram para falar com ele. E aí fomos, os cinco moleques, o Teixeira, o pai do Toninho baiano e meu pai. Eles assinaram nosso “Livro de Ouro” como fundadores do Clube. Depois disso fomos à padaria, ao açougue e às lojas de calçados pedir contribuição. O Walter, irmão do Toninho baby, que era mais velho que nós, se ofereceu para administrar nossas finanças. Depois de uns quatro meses conseguimos nos organizar e arrumamos o dinheiro para uniformes, meias, bola, e cada um compraram sua chuteira. Enfiamos tudo num saco e pronto. Mas e agora? Onde iríamos jogar? Não tínhamos nem dinheiro nem local.

Nessa época, existia uma coluna na Gazeta Esportiva, que se chamava: “Convite para futebol”. Bastava mandar uma carta para a Gazeta e ela publicava. Nós mandamos uma carta dizendo: procuram-se adversários. Começou a surgir convites que chegavam pelo correio. Era muito legal. Ficamos felizes e sentíamo-nos muito importante com tudo o que estávamos conseguindo. Vinha convites de Indaiatuba, Campinas, Rio Claro, etc. Aí surgiu outro problema: precisávamos de translado e nós éramos todos pobres, não podíamos pagar. Um senhor amigo nosso tinha um caminhão que transportava cal. Nós lavávamos a carroceria desse caminhão e levava a gente para jogar no campo dos adversários. Viajamos muito na carroceria desse caminhão. Onde hoje é o Parque Anhembi, tinha vários campos de futebol administrado pela prefeitura. Nós não tínhamos campo e não podíamos convidar ninguém para jogar. Tive a idéia de ir até a prefeitura. Fui até a prefeitura, mas para usar o campo, era preciso ser filiado à Federação Paulista de Futebol e para ser filiado era necessário ter registro. Constituímos uma diretoria, alugamos uma sala, fizemos uma sede própria e registramos o Clube. Cada elemento que vinha jogar pagava uma taxa e ficava associado. Tinha uns 20 moleques que pagavam a mensalidade do Clube. Fui tesoureiro durante muitos anos. Filiamos o Clube na Federação Paulista e assim conseguimos o campo da prefeitura para jogar com outros times.

O Campo ficava a nossa disposição aos sábados, das 14 horas até escurecer. Não tinha iluminação. Em troca nós tínhamos fazer a manutenção do campo todo, inclusive das redes. Eram quatro times que usavam o campo no final de semana. Nós dividíamos as tarefas. Cada final de semana era um time que cuidava do campo. Era um mutirão para cortar toda aquela grama. Usávamos tesoura, foice, o que era possível. Sempre tinha um que não fazia nada, aquele bom de bola que não queria pagar, aquele que rasgava o calção e não queria repor, etc. Tínhamos que ser unidos e organizados. Rateávamos todos os custos. A gente se virava sozinho. O Clube foi crescendo e funcionou durante muitos anos. Hoje eu sei não como ficou. Quando eu vim morar no interior de São Paulo, o Clube ainda estava atuante. Ganhei muitos torneios, faixas. Quebrei clavícula, perna, dedo do pé, da mão, quebrei 3 costelas, etc. Hoje está tudo inteiro outra vez. Quando mudei para Piracicaba, abandonei o Clube. Hoje meu contato mais freqüente é com o Rino.

O namoro ou o futebol

Quando eu tinha 18 anos, fui convidado para jogar no Rio de Janeiro, eu namorava uma moça muito bonita, eu me apaixonei por ela. Ela era filha de um dentista e o pai dela não aprovava o namoro. Ele me criticava por eu jogar futebol, na opinião dele quem jogava futebol não prestava. Tudo besteira. Eu não tinha vício nenhum. Tinha pessoas que se envolviam com drogas, mas eu nunca me envolvi com nada disso. Meu objetivo era jogar futebol. Nessa época, em 1964, eu tive que fazer um acordo com empresa que eu trabalhava para poder jogar no Rio de Janeiro. O torneio de futebol duraria 15 dias. Minha namorada não gostou que eu fui para o Rio de Janeiro jogar, e quando voltei, discutimos . Ela também havia discutido com o pai pelo mesmo motivo. Eu disse a ela que se era para escolher entre o namoro e o futebol eu ficaria com o futebol e nunca mais a vi.

A amiga confidente

Eu tinha uma amiga há oito anos, que morava perto de casa e era minha confidente. Conversávamos muito sobre nossos problemas. Ela sempre me aconselhava sobre meus namoros. Um dia falei para ela que a próxima namorada que eu tivesse eu iria me casar. Ela se candidatou. Começamos a namorar e em 1968 nós casamos. Depois de seis anos de casados ela engravidou, tivemos nossa filha. Quando mudei para Piracicaba em 1977, minha filha tinha dois anos. Construí uma casa boa para a família, mas passamos por alguns momentos difíceis como casal. Quando minha filha entrou na faculdade, nós nos separamos. O casamento se acabou, mas ficou o fruto desse relacionamento que é uma moça muito bonita, que hoje tem 30 anos, é advogada e tenho muito orgulho dela. Nunca parei de jogar futebol. Aqui em Piracicaba, fiquei sócio de um clube onde encontrei muitas pessoas que me acolheram, fiz outros amigos e cheguei a ser diretor de esportes desse clube.

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Segundo casamento

Conheci uma mulher, mãe de três filhos, nos apaixonamos e eu comuniquei para minha filha que iria morar com essa mulher. Aluguei um apartamento e fomos morar juntos. Eu, ela e seus três filhos.Ficamos juntos durante oito anos, as crianças cresceram e nosso relacionamento um dia terminou. Após a separação passei uma fase muito difícil. Tive depressão e não conseguia me concentrar no trabalho. Recebi apoio de meus amigos, da família e superei tudo isso.

Terceiro casamento

Depois de dois anos que eu estava separado, conheci minha atual esposa. Ela era casada, se separou e começamos um relacionamento. Minha filha foi a primeira pessoa a saber do meu novo relacionamento. Minha filha achou que ela era muito nova e muito bonita para mim. Ela tinha 32 anos e eu 58. No começo foi muito difícil, a família dela teve dificuldades para aceitar nosso relacionamento, mas aos poucos os problemas foram sendo solucionados e hoje convivemos todos muito bem.

Estou muito feliz, tenho uma companheira maravilhosa não só fisicamente porque ela é linda, mas porque me entende, me dá muita força, carinho, tudo que eu preciso. Ela tem seus caprichos como toda mulher, mas eu também tenho o meu. Quando brigamos é por besteiras, coisinhas infantis. Nas coisas sérias a gente se entende. Se a gente briga, ela deixa uma mensagem na minha agenda e eu deixo uma mensagem na agenda dela. Às vezes a gente briga por e-mail, eu respondo por e-mail e tudo bem. Conversamos sobre tudo.

Eu coloco a minha opinião, ela coloca a dela. Às vezes eu sinto que ela fica chateada com algumas coisinhas. Ela não gosta de futebol e não gosta de bebida. Eu continuo jogando futebol e gosto de beber uma cerveja. Se eu tomo duas cervejas no final de semana ela já fica preocupada. Eu continuo jogando futebol duas vezes por semana: às terças-feiras à noite e aos sábados. Eu faço 65 anos em junho, mas a idade não me pesa. Não sinto que tenho essa idade. Os amigos do clube brincam comigo, acham que estou muito bem em campo, brincam, apertam minha bunda e dizem que eu tenho silicone. Eu acho que é o esporte, mas é também meu biotipo.

Quando o assunto é Viagra

Eu sou da opinião que quem faz o homem é a mulher. Se você tem uma mulher que te agrada, te provoca, você não precisa disso. Ouço algumas pessoas falarem que usam esses medicamentos como o Cialis, o Viagra, etc. As pessoas já me perguntaram se eu faço uso desses medicamentos, por causa da idade. Eu não faço, nunca experimentei e tenho medo. Mas existe uma curiosidade. Não estou precisando. Penso que como a performance com certeza muda para melhor, você acaba fazendo uso constante, sem necessidade. Qualquer alteração você acaba recorrendo ao medicamento. Vira um circulo vicioso.

Eu não discuti isso com a minha mulher, mas eu penso que se o homem recorre a isso para ter uma relação, a mulher deve se sentir pouco desejada. Esses medicamentos são pra quem tem alguma disfunção sexual. Seja psíquico ou orgânico. As pessoas que tomam e não tem problemas de disfunção, acho que é besteira. Não quero recorrer a isso. Minha companheira não reclama. Se ela fala que está bom só para me agradar ela consegue me agradar porque eu acredito nela. Minha mulher sempre me valoriza. Isso é importante para o homem. Mexe com a nossa auto-estima

Mudanças de emprego na Terceira idade

Ninguém é insubstituível numa empresa. Trabalhei por 49 anos numa empresa, o presidente teve problemas de saúde, foi afastado, a família assumiu a empresa e resolveu fazer mudanças drásticas. Gerenciei a filial de Piracicaba durante 25 anos e me avisaram com um ano de antecedência que essa empresa iria fechar. Foi um ano difícil. De muita incerteza, de muita insegurança. Não sabia bem o que fazer, mas fui preparando meu terreno, sabendo que a qualquer momento a empresa iria encerrar. Procurei contatos para continuar no ramo, e achei por bem abrir uma empresa de representação. Em janeiro de 2005, recebi uma carta da empresa dizendo que eles queriam que eu continuasse com a representação deles. Eu me desligaria da empresa, mas continuaria com a representação. Eu trabalhava na área técnica e eu seria somente representante comercial. Como as áreas ficaram limitadas, o faturamento seria insignificante. Seria um terço do que eu ganhava. Procurei uma outra empresa para representar e o primeiro currículo que enviei, eles me chamaram. Achei por bem consultar um amigo e ele me falou uma coisa interessante. Que o meu caso com a antiga empresa era como um casamento. Que eu estava casado com a empresa. Assim como tomei coragem para romper um casamento eu deveria fazer o mesmo com a empresa. Eu tinha a empresa como se fosse uma esposa. Eu fui dormir com aquilo na cabeça. No dia seguinte tomei coragem e liguei para outra empresa, eles disseram que não poderiam pagar o salário que eu merecia. Eu disse que não importava ganhar menos.

Aceitei e estou lá até hoje. Eles estão satisfeitos com o meu trabalho e eu estou também. Lá eu faço também a parte técnica. Eu adoro fazer isso. Sempre que existe um problema de manutenção de um equipamento, que envolve a montagem e aplicação de rolamentos, eu vou até a empresa e oriento; o porquê do ruído, do desgaste, oriento a capacidade de carga, lubrificação, etc. Trabalho com qualquer tipo de equipamento que envolve rolamentos, menos caminhão, automóvel e trator. Pode ser setor petroquímico, usina de açúcar, de papel, de celulose, de tecelagem, etc. Estou contente porque faço o que eu gosto.

A parte financeira ainda precisa melhorar. Com 15 dias de empresa eu consegui fechar um contrato com uma firma e eles precisaram aumentar a quantidade de rolamentos no estoque. Com o peso a prateleira caiu. Ficamos até as duas da manhã arrumando as prateleiras. A empresa está em expansão, e já estão arrumando um espaço físico maior para trabalhar. Eu estou bem mentalmente, fisicamente, e estou bem de amor. Não posso exigir mais nada da vida. A minha mulher me ajuda muito e se entende bem com a minha filha.

Como é ser pai novamente com quase 60 anos?

Sr. Armando responde emocionado.

Para mim, foi uma benção. Eu fui pai há 30 anos. Sempre tive vontade de ter outros filhos. Não deu certo, mas hoje é diferente. Não sou o pai que gostaria de ser. Nem sempre podemos agir de acordo com a nossa vontade. Às vezes por falta de tempo, às vezes por questão financeira. Condição física, sei lá, por várias questões; mas sou um pai feliz. Eu não tive um neto ainda e não tive aquele segundo filho que eu queria em outras épocas.

O início da gravidez da minha mulher eu ficava muito preocupado com a saúde do bebê. Uma das minhas irmãs me deu muito apoio, me ajudou muito. Minha preocupação foi até o nascimento. Estava preocupado também com a minha idade. Eu pensava: Com quase 60 anos como eu vou acompanhar o crescimento dessa criança? O que ela vai precisar que eu não vou poder fazer? Ter uma criança em casa, ajudá-la a crescer, me dá uma força enorme. Ela me dá uma vitamina de vida. Aliás, eu tenho essa vitamina em dose dupla. A dedicação, o amor, o respeito que eu recebo da minha mulher. Eu digo a ela, que saio todos os dias para trabalhar com vontade de voltar para casa. Temos o hábito de deixar bilhetes e mensagens. Outro dia eu deixei uma mensagem para ela: “Hoje, eu não tinha vontade de sair para trabalhar… queria ficar com você”. Nossa casa é o melhor refúgio que podemos ter. É um prazer voltar para casa, me sinto realizado. Minha filha é uma criança saudável, carinhosa e sinto que ela é uma criança feliz. A gente sai com ela em todos os lugares sem problemas. Graças a Deus eu ainda tenho pique para brincar com ela. Eu devo isso ao futebol. Isso para mim é felicidade. É estar bem com aqueles que estão a nossa volta todos os dias.

Eu acho que o diálogo é muito importante entre os casais e com os filhos também. Conversamos muito. Quantos pais às vezes se assustam com o que acontecem com os filhos porque não acompanharam o crescimento deles.

Envelhecimento

Envelhecer é passar os anos. Para o outro eu estou envelhecendo, mas não me vejo velho. Não percebo o envelhecimento. Hoje, quando entro no campo para a jogar bola eu entro com a mesma disposição de antigamente. Nessa disposição eu coloco o prazer e a satisfação de jogar não a performance. Se eu vou acertar a bola, se eu vou fazer gol, pouco importa. O que importa é que eu estou lá e continuo jogando, convivendo com os amigos e me exercitando. Às vezes as pessoas me perguntam admiradas: Você ainda joga bola? Eu respondo: jogo sim. Enquanto tiver alguém para jogar bola para mim, eu estou lá. No dia em que ninguém mais jogar a bola para mim, eu vou me preocupar. Talvez nesse dia, eu ache que envelheci.

Você envelhece quando você deixa de fazer coisas que estava habituado a fazer, coisas que gostava de fazer. A minha filha de 4 anos está envelhecendo.Todos envelhecem. Estou envelhecendo desde que eu nasci, mas talvez daqui para frente eu comece a sentir mais o envelhecimento. Se o conceito de velho é ter mais de 60 anos, então eu já sou velho. Mas eu não me preocupo com isso.Eu não tomo calmantes para dormir e não tomo estimulante para nada. Não tenho pressão alta, nem colesterol, nem diabetes. Estou muito bem assim. Cuido da minha alimentação, faço exames clínicos periodicamente. Tem uma coisa que me preocupa e que é um fantasma para o homem: a próstata. Preocupa-me ter algum problema sério de próstata e precisar de uma intervenção cirúrgica. Faço controle e por enquanto está dentro da norma. Alguma doença grave e cirurgias podem causar problemas de ereção. Para mim isso é um fantasma. Numa vida a dois, quando duas pessoas se gostam, a sexualidade é importante em qualquer idade. Se uma das partes começa a falhar, pode prejudicar o relacionamento. Claro que depende do casal. Não falo só do homem, a mulher também pode ter algum problema e perder o estímulo.

Por enquanto não tenho sinais de disfunção sexual, mas a próstata é um fantasma. Tenho medo mesmo. Às vezes tenho vontade de fugir do exame de próstata. Mas mesmo assim, faço com regularidade.

Religião

A espiritualidade é fundamental para todo ser humano. Não importa a religião. Sou católico não praticante, não rezo todos os dias. Acredito em Deus, mas não sou daqueles que pegam o chicote e ficam batendo nas costas. É preciso cuidar do espírito e do corpo. Penso que tudo tem ser comedido, mas não podemos pensar em Deus só na hora da necessidade. Toda segunda-feira nós colocamos uma toalha branca na mesa e fazemos uma prece. Eu vou mostrar os caminhos para minha filha, mas ela vai seguir a religião que ela quiser. Durante o processo de envelhecimento a religião se torna mais importante porque te dá mais tranqüilidade, mais paz de espírito.

A morte

É a única certeza que temos. Todo mundo sabe que vai morrer. Não tenho fantasmas. Se pudesse escolher, gostaria de ter um botãozinho para desligar na hora certa. Mas como o botãozinho não existe vou vivendo o meu dia e espero não ficar numa cama doente, dando trabalho para os outros. A grande preocupação é com a doença não é com a morte. A família sofre muito com alguém doente, acamado, dependente. A minha preocupação é ficar dependente, não poder comer sozinho, andar, escovar os dentes, etc. Não tenho medo de morrer. Se eu morrer amanhã vou morrer feliz, pelo que eu já vivi, pelo que eu estou vivendo atualmente. Mas nem penso nisso. Eu brinco com o pessoal lá do clube. Eles falam: Vai chover… Não vai dar para jogar bola hoje. Eu digo para eles: vamos jogar sim. Se chover, tudo bem. Hoje eu estou aqui, estou bem, amanhã eu não sei. Às veres nem chove, a gente joga e se diverte.

Quando o Airton Senna morreu, não lamentei a morte dele. Eu gostava dele, ele era um ídolo, mas morreu fazendo o que ele mais gostava. Eu ficaria mais triste se ele tivesse sido atropelado ou morto com um tiro na cabeça. Teve um rapaz que pulou de pára-quedas e o pára-quedas não abriu e o rapaz morreu. Foi uma fatalidade, mas ele fazia isso há 20 anos, e morreu em atividade, fazendo aquilo que gostava. Eu brinco com minha mulher e digo que a melhor forma de eu morrer, seria ao lado dela, fazendo o que eu gosto. Ela fica brava comigo.

O Senhor gostaria de falar mais alguma coisa?

Saudade… Eu sinto muita saudade de meus pais que morreram e sinto saudade dos meus irmãos. Perdi um irmão querido; era o mais novo dos homens. Os outros estão vivos, mas a gente se vê pouco. Sinto falta deles. As briguinhas que às vezes existiram na família foram coisas bobas que toda família tem. A gente sempre se gostou muito e nunca houve nada de sério entre nós. Gostaria de ficar mais perto deles.

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