Sinal verde para o idoso

Não é possível colocar um freio no envelhecimento, assim como também não dá para tirar as chaves do carro das mãos do avô, da avó ou de qualquer outro idoso da família e impedi-los de dirigir. Respeitar seus direitos de ir e vir e permitir que ele conduza um veículo — e a própria vida — é algo que a família precisa apoiar, mesmo com o avançar da idade e, conseqüentemente, das limitações.

 

Assegurar o trânsito livre ao motorista que já passou dos 60 anos, mas ainda se sente disposto e com saúde, é uma forma de ajudá-lo a manter sua independência e a elevar sua auto-estima. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), cerca de 12% da população idosa de países do Primeiro Mundo dirige. No Brasil, acredita-se que o índice de motorização seja ainda maior.

Antes de colocar a chave na ignição, preste atenção também ao modelo de carro a ser adquirido. Com movimentos muitas vezes mais lentos, os idosos encontram facilidades ao dirigir um veículo com direção hidráulica.

Para quem tem dificuldades de enxergar, o ideal é adaptar um espelhinho redondo de amplificação periférica da visão no espelho retrovisor direito.

Em casos de viagens, a dica é se programar antes para parar a cada 40 ou 50 minutos em um posto de gasolina, restaurante ou lanchonete para descansar por 15 minutos. Neste período, dá para se hidratar, ir ao banheiro, esticar as pernas e descansar a mente.
Uma boa opção para quem sofre com a artrite reumatóide (uma doença que causa a inflamação das articulações) é uma bola de câmbio maior.

Se o idoso sente alguma dificuldade no trânsito, ele deve redobrar a atenção e dirigir com paciência e calma. Guie por distâncias menores em lugares que já conhece, já passou e sabe o trajeto. Isso facilita, assim como dirigir em horários mais apropriados, especialmente durante o dia.

Por mais prudente que seja o condutor, porém, é impossível negar que, à medida que ele envelhece, seu corpo passa a sofrer uma série de déficits e que essas perdas, no trânsito, significam perigo à vista e podem colocar a vida tanto de motoristas quanto de pedestres em risco.

Com o passar do tempo, há uma perda gradual da coordenação motora, e os reflexos de ação e reação do corpo, comandados pelos músculos e articulações, se tornam mais lentos. Para sair com agilidade de situações repentinas e difíceis (típicas da hora do rush e do vaivém caótico dos carros pelas estradas), o reflexo é uma reação imprescindível para o motorista. Ele funciona como uma espécie de co-piloto, que alerta imediatamente o condutor sobre o que fazer, por exemplo, para evitar uma tragédia e desviar do carro dirigido por um jovem embriagado que ultrapassa o sinal vermelho.

Mas não é só. Graças a algumas perdas visuais, auditivas e até aos sintomas de doenças típicas dessa fase da vida, conduzir um veículo após os 60 anos torna-se uma atividade complexa que requer integração rápida e contínua de habilidades cognitivas, sensoriais, perceptivas e motoras.

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Não há limite máximo de idade para dirigir. Mas a partir dos 65 anos, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) precisa ser renovada a cada três anos. Problema maior enfrenta o idoso com CNH categoria profissional, cuja exigência é de visão máxima em ambos os olhos. Neste caso, sua provável redução da capacidade visual com o avançar da idade poderá rebaixá-lo, durante o teste, à categoria de motorista amador. Neste caso, a lei pede visão máxima em pelo menos um olho. Freqüentar o oftalmologista e manter os óculos em dia é uma dica importante para quem deseja continuar dirigindo. Muitas vezes, somente a troca dos óculos já traz muitos benefícios. Não devemos mais ter a idéia de que é normal o idoso enxergar mal, nem ouvir mal. Para ambos os casos, aliás, há alternativas cada vez mais modernas de tratamento e de recuperação das perdas. Os especialistas recomendam que, a partir dos 60 anos, sejam realizados exames de saúde periódicos, especialmente auditivos e oftalmológicos. Os exames da vista, por exemplo, ajudarão a evitar ou tratar precocemente as doenças oftalmológicas, como o glaucoma, e outras como a hipertensão e o diabetes, capazes de causar uma perda periférica do campo visual. Na prática, essa falha na visão faz com que o idoso não enxergue um carro que se aproxima pela lateral ou tenha dificuldades extras para manobrar o carro.

Motivos para pisar no freio

Na terceira idade há uma diminuição na velocidade do processamento visual. Com isso, o idoso passa a ter dificuldades para se adaptar a mudanças abruptas de claridade ou escuridão. Daí a dificuldade dos ‘vovôs do trânsito’ para lidar com o início repentino de luzes brilhantes, como, por exemplo, os faróis de um carro vindo no sentido contrário.

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A catarata, um problema comum que aparece com o envelhecimento e deixa a visão opaca, também é um obstáculo na hora de dirigir, especialmente à noite. O aposentado Antonio Matias, de 70 anos, reconhece essas limitações na prática. Mas sabe lidar bem com elas. Há pelo menos quatro anos, ele diz evitar sair de noite com seu Gol 1.0. “Neste horário, é difícil ler placas de ruas, encontrar numerações e se livrar dos apressadinhos”, admite Matias. Quando sair de noite é inevitável, ele prefere pegar um táxi.

Segundo Marcela Cypel, oftalmologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a grande dificuldade do idoso ao guiar um carro não está diretamente relacionada à visão. Coordenadora do Projeto 100 Anos, da Unifesp, que estuda a visão em pacientes centenários, ela explica que, dos 60 aos 80 anos, cerca de 65% dos idosos ainda têm uma visão considerada ótima. Após os 80, a porcentagem de idosos que permanecem com a visão ótima é razoavelmente alta (35%). Além disso, cerca de 60% ainda apresenta visão boa ou próxima do normal. Só mesmo a partir dos 90 anos é que essa porcentagem de idosos que enxergam muito bem cai para 15%. E, finalmente, acima dos cem anos, é difícil encontrar alguém com uma visão excelente.

O único reflexo visual que se altera com o envelhecimento é o de acomodação, relacionado com a capacidade do músculo dilatador da pupila de se contrair e com o espessamento do cristalino, explica Marcela. Esse processo, denominado presbiopia, tem início aos 40 anos e se estende até os 60. Traz como efeitos colaterais a dificuldade para ler. Na prática, isso não afeta em nada o ato de dirigir e, mesmo se afetasse, poderia ser facilmente solucionado com o uso de um par de óculos específico para enxergar de perto.

Marcos Antonio Pirito, diretor científico da Abramet, lembra que a função auditiva é até mais importante para a direção — e que, a partir dos 60 anos, a maioria das pessoas sofre com problemas auditivos. “Pessoas que não conseguem rastrear sistematicamente os sons do ambiente do trânsito podem tornar- se conscientes da presença de um veículo ou pedestre apenas quando alguém buzina alto ou com a ajuda do passageiro ao lado”, explica Pirito.

Chaves liberadas

Com bom senso e consciência de suas limitações, caso exista alguma, não há problema algum de um idoso sair por aí dirigindo. Para evitar dor de cabeça, a especialista Marcela Cypel, da Unifesp, recomenda que o idoso e a família fiquem atentos a qualquer sinal de dificuldade. Na prática, isso pode ser averiguado quando o condutor bate o carro com freqüência, apresenta difi- culdades para estacionar, passa o sinal vermelho, porque não conseguiu distinguir as cores, entre outras ocorrências.

É bom que os parentes saiam, de tempos em tempos, com o motorista para fiscalizar sua forma de dirigir, mas sem agressões ou comentários grosseiros. Se perceber que ele não pode dirigir sozinho, a saída é colocar alguém para acompanhar. Proibir o idoso de dirigir é uma das piores atitudes que a família pode tomar, pois isso vai deprimi-lo. Para garantir sua segurança (e a de outras pessoas) sem magoálo, o caminho é se dispor a levá-lo sem demonstrar que se trata de um favor ou que ele atrapalha. A família que tiver condições pode ter um motorista à disposição, o que assegura a independência do idoso. Tente colocar-se no lugar dele, mas sem ser permissivo. Se não há como o idoso dirigir, tente mostrar a ele que há outras atividades importantes a serem executadas. Desta forma, ele vai se sentir útil e ativo.

Preste atenção ao semáforo

Saiba quais são as situações que podem fazer um idoso dirigir com mais precaução ou até aposentar o carro, pelo menos por algum tempo:

Sinal vermelho
• Infarto agudo do miocárdio, com colocação de marcapasso: parar de dirigir por um mês.
• Síncope (um mal-estar) de origem desconhecida: parar de dirigir por um ano.
• AVC (derrame), sem seqüelas, ou Ataque Isquêmico Transitório: parar de dirigir por pelo menos um mês.
• Epilepsia controlada: não dirigir por um ano após suspensão dos remédios e não dirigir à noite por três anos.

Sinal amarelo
• Angina (dores no peito) ao dirigir: pare o carro até que os

sintomas desapareçam.
• Diabetes controlada com remédios orais e comprovação de ausência de problemas visuais ou de hipoglicemia: licença anual para dirigir.

• Diabetes controlada com insulina: licença semestral para dirigir, mediante confirmação de boa saúde a cada renovação do exame médico.
• Demência recente: permitida a direção até onde conseguir níveis adequados de julgamento. Renovação anual da licença para dirigir.

Sinal verde
• Diabetes controlada apenas com dieta: não há problemas para direção veicular.
• Idosos com exames médicos e saúde em dia.

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