Nós brasileiros estamos envelhecendo. Não se trata de especulação, é um fato, os números estão aí para comprovar que não somos mais um país jovem. E a mídia não nos deixa esquecer que num futuro muito próximo seremos muitos e tomados por questões inquietantes que preocupam: teremos cuidados apropriados e suficientes para uma caminhada rumo à uma velhice tão longa, que durará tantos anos?
Segundo reportagem de Cleide Carvalho: “a cada ano, 1,1 milhão de brasileiros chegam aos 60 anos, fronteira para o início do envelhecimento. Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) das Nações Unidas indicam que, daqui a 40 anos, a população idosa brasileira vai aumentar em 45 milhões de pessoas, das quais 15 milhões terão mais do que 80 anos. Atualmente, apenas 2,8 milhões de brasileiros já passaram da casa dos 80”.
Não faltam projeções, estudos, cálculos, estatísticas para tornar o cenário mais alarmante do que já é. Viveremos num futuro bem próximo o chamado “Old Boom”, lembrando o falecido efeito “Baby Boom”, um termo que se popularizou no pós Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento importante da natalidade nos Estados Unidos. Mas um país invadido por crianças e jovens soa como algo agradável em representações de um potencial sem limites. Já a simples ideia de uma invasão de velhos, denuncia preocupação e alerta de perigo iminente.
Paulo Saad, chefe da Divisão de População da Cepal (Celade/Cepal), resume a situação:
É como se fosse uma Argentina inteira com mais de 60 anos. Ou um Chile com mais de 80. É preciso se acostumar com a ideia de que esta é uma sociedade que está envelhecendo. Diante de uma perspectiva alarmante deste envelhecer de todos nós, numa verdadeira “explosão de velhos”, é lógico que a mídia alerte incessantemente sobre a urgência de medidas preventivas num modo diferente de viver que, com certeza, exigirá cuidados específicos em vários setores, antes passados despercebidos pela população e governo.
“Essa mudança causa impacto nos sistemas de saúde e previdência e também nas próprias cidades. Nas grandes metrópoles, sequer o tempo de travessia de ruas nos semáforos é adequado aos pedestres, muito menos a quem se locomove de forma mais lenta que o normal”, alerta a reportagem de Carvalho.
A pesquisadora do Laboratório de Informações em Saúde (LIS/ICICT/Fiocruz), Dália Romero afirma que “Morrer hoje antes de 74 anos é uma morte prematura. A sociedade já compreende que tem condições de viver bem até essa idade.” A questão, segundo a especialista “é que ninguém está acostumado a falar em morte prematura de idoso, é um preconceito e um desconhecimento.”
Se vivemos mais, que seja, então, com boa qualidade de vida. Em função disto, campanhas voltadas para os idosos são fundamentais e muito bem-vindas. Um exemplo é a vacinação contra a gripe. Segundo a matéria de Carvalho, “para os especialistas, o país precisa urgentemente de novas campanhas de controle de doenças crônicas voltadas a este público”.
Faltam profissionais qualificados
Na reportagem “Geriatria No Brasil – Cursos e Pós-Graduação em Geriatria/Gerontologia” vinculada no jornal “Bom Dia Brasil” da Rede Globo, o problema da profissionalização é ressaltado: “O Brasil tem 1 geriatra para cada 5 mil idosos, o recomendado segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria é de 1 geriatra para 1 mil idosos. Por que faltam geriatras no Brasil?
Se pensarmos que uma consulta no consultório dura, por volta de uma hora e trinta minutos e, outras tantas horas em atendimento fora do consultório, é possível entender as razões da especialidade não ser a mais procurada pelos profissionais da medicina. Sílvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia confirma: “as universidades brasileiras sequer formam geriatras em número suficiente para atender a demanda de pacientes. Temos hoje, no país inteiro, apenas 984 geriatras, muito aquém da necessidade.
Apenas 50 médicos por ano se especializam nesta área.
“Na avaliação dos especialistas, o Brasil está envelhecendo em 30 anos o que a Europa demorou um século. Por isso, tem de pensar e agir com mais rapidez. Solange Kanso, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), lembra que em 2040 o país terá 56,7 milhões de idosos. Em número absoluto, é mais que o dobro da quantia atual. Quem vai cuidar destas pessoas?” – indaga Kanso.
Teremos instituições de longa permanência suficientes, acessíveis financeiramente à população idosa e com adequada qualidade nos serviços? Pelo que se vê atualmente, a carência de locais deste tipo é enorme e mais uma vez a família fica e ficará cada vez mais sobrecarregada com obrigações, deveres e culpas num cuidar tão delicado.
Taís de Freitas Santos, representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil alerta: Se não houver políticas públicas para cuidado com idosos, o Brasil terá pessoas idosas cuidando de idosos mais velhos ainda. Pessoas com 70, 80 anos estão cuidando de pessoas com 100, pois o grupo dos centenários também aumenta.
O mercado de trabalho também sofrerá modificações profundas na sua estrutura, afirma Carlos Eugênio de Carvalho, demógrafo da Fundação Seade, responsável pelas pesquisas populacionais do governo de São Paulo: O processo de envelhecimento não tem volta. Não haverá espaço para preconceito. As pessoas mais velhas terão de ser qualificadas para as inovações tecnológicas e a dinâmica do emprego será modificada. Haverá reflexos no lazer, no consumo e na mobilidade.
Referências
BOM DIA BRASIL (2011). Geriatria No Brasil – Cursos e Pós-Graduação Em Geriatria / Gerontologia. Acesse Aqui. Acesso em 07/10/2011.
CARVALHO, C. (2011). Envelhecimento: 1,1 milhão de brasileiros chegam aos 60 anos a cada ano. Disponível Aqui. Acesso em 07/10/2011.
IMAGENS: Old Age, Adolescence, Infancy (The Three Ages), 1940, Salvador Dali. Acesse Aqui. Acesso em 08/10/2011, e Infográfico, disponível Aqui. Acesso em 10/10/2011.