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Sem a proteção do Espírito Santo, Nossa Senhora da Penha é assaltada!

Dois marginais invadiram o convento de terços na mão. No lugar de armas, terços. Fingindo-se fiéis, usaram os terços como soco inglês para nocautear o frei que acabou imobilizado e com ferimentos por todo o corpo. Levaram o dinheiro do convento e torturaram um senhor de 80 anos sem nenhum remorso. Reflexo do abandono do Estado.

 

Quando o frei Pedro Palácios alcançou o litoral do Espírito Santo, avistou um belo penhasco e seus olhos se encheram de lágrimas. Aquela paisagem fazia parte dos seus sonhos. Foi para isso que veio ao Brasil. Buscava um lar para sua santa. Instalou-se da melhor maneira possível, em uma gruta. Estávamos engatinhando na década de 1550. Mata, índios, portugueses, espanhóis como o frei e lindas paisagens (um mar que não tem tamanho, um arco-íris no ar diria o poeta).

A santa era Nossa Senhora da Penha. A gruta não era exatamente o que ela esperava. Frei Pedro deu um jeito de pendurar a santa na parede, mas logo descobriu que ela tinha vontade própria. Sumiu. O frei convocou todos os índios de todas as tribos para procurá-la. Encontraram a santa no pico do penhasco. Ela escolheu seu altar e só restava ao frei informar a corte que fez todos os esforços para o Pedro Pedreiro dar início à construção do Convento da Penha (1558).

Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, é um dos pontos turísticos mais visitados e o mais importante do Espírito Santo. Com uma vista belíssima da cidade de Vila Velha e do oceano, com Vitória ao fundo. O grande desafio é subir e descer suas escadas.

Pedro tu és padlle

Nas últimas décadas, quem cuida do Convento é outro Pedro, frei Engel, 80 anos. Atua como uma encarnação de Pedro Palácios. Sua vida se confunde com a do monumento. Ele sobe e desce as escadas diversas vezes ao dia. Pedro tu és pedra, tem uma saúde de ferro e é duro na queda.

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Há alguns anos, contemplava o mar quando viu um sujeito em pé sobre as águas. Achou aquilo inacreditável (Não era Jesus, é bom que se diga). Desceu as escadas para ver de perto. Era um instrutor de surf que acompanhava seus alunos de um jeito privilegiado.

Não é pecado sentir vontade. Quem sobe e desce as escadas da Penha todo dia pode se dar ao luxo de se equilibrar sobre uma prancha e remar. Por que não? Yes, I can, pensou Pedro e fez o caminho de volta da santa, desceu o morro. Aos 78 anos, Pedro subiu pela primeira vez em uma prancha. De colete salva vidas, prancha presa ao calcanhar para não escapar, remo em punho, protetor solar e um chapéu para manter o melanoma longe, lá se foi o Pedro Pedra flutuar, matar a vontade de caminhar sobre as águas, sentir o gostinho de liberdade que um dia o amigo do outro Pedro… Esquece, frei Pedro Engel se tornou praticante de Stand up Paddle.

Ataque covarde

Frei Pedro Engel é um homem respeitado e admirado por toda a comunidade. Abençoado pela trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, mas, como toda a população do Estado que acolheu a santa, se sente abandonado pelas autoridades. Por uma política que entende austeridade como ferrar o pobre e favorecer o rico.

 

Pois bem, isso gerou uma crise de segurança e algo que o frei jamais temeu (seus temores são tropeçar e cair ao subir e descer as escadas do monumento ou tombar vítima de uma onda traiçoeira enquanto rema), aconteceu da forma mais covarde que podia imaginar. Dois marginais invadiram o convento de terços na mão. No lugar de armas, terços. Fingindo-se fiéis, usaram os terços como soco inglês para nocautear o frei que acabou imobilizado e com ferimentos por todo o corpo.

Levaram o dinheiro do convento e torturaram um senhor de 80 anos sem nenhum remorso. Reflexo do abandono do Estado. Crise generalizada. Se não respeitam a santa que subiu o morro para proteger os pobres, logicamente não vão respeitar um frei de 80 anos ou quem quer que ande sobre as águas. Deus ajude Pai, Filho e Espírito Santo, pois a tendência é piorar, amém.

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Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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