Conheça a rede de suporte social pública existente em São Paulo dirigida à pessoa idosa
Um levantamento feito sobre a rede de suporte social existente para a população acima de 60 anos da maior metrópole da América Latina, levantando serviços e respectivos equipamentos existentes na cidade para este segmento populacional, apontou, em 2020, que a maior parte daqueles que são diretamente designados à pessoa idosa são os que estão nos setores de assistência social e saúde, identificado, inclusive, pela adjetivação dos serviços com a palavra “idoso” (Côrte e Lopes, 2022).
No quadro abaixo elencamos os tipos de serviços por setor que garantem uma rede de suporte aos idosos.
Os dados coletados fizeram parte do projeto “Diagnóstico socioterritorial para a pessoa idosa na cidade de São Paulo: construção de subsídios para a defesa de direitos e para a capacitação de conselheiros”, desenvolvido pela Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da PUC-SP.
A gestão desse projeto foi feita por mim e seus resultados estão expressos no livro A pessoa idosa na cidade de São Paulo: subsídios para a defesa de direitos e controle social, disponível gratuitamente em e-book.
Vamos conhecer o que a cidade oferece como rede de suporte social pública?
Assistência Social | Saúde | Educação | Cultura | Esporte e Lazer |
Centro de Convivência Intergeracional (CCINTER) | Ambulatório Médico de Especialidades (AME) | Educação de Jovens e Adultos (EJA) | Biblioteca | Centro Educacional e Esportivo (CEE) |
Centro de Acolhida Pop Rua | Ambulatório Médico de Especialidades Idoso (AME Idoso) | Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) | Casa de Cultura | Centro de Esporte e Lazer (CEL) |
Centro de Referência do Idoso (CRI) | Assistência Médica Ambulatorial (AMA) | Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) | Centro Cultural | Clube da Comunidade (CDC) |
Centro Dia | Unidade Básica de Saúde (UBS) | Centro Municipal de Capacitação e Treinamento (CMCT) | Cinema | Clube da Comunidade dos CEUS (CEU) |
Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) | Unidade de Referência à Saúde do Idoso (URSI) | Universidade Aberta | EMESP | Serviços Social do Comércio (SESC) |
Núcleo de Convivência de Idoso | Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (CRI – IPGG) | Centros Educacionais Unificados (CEU) | Fábrica de Cultura | Campos de Malha e/ou Bocha |
Serviço de Alimentação Domiciliar para a pessoa idosa | Centro de Referência à Saúde do Idoso (CRI) | Fab-lab | Museu | |
Centro de Acolhida Especial para Idosos | Programa de Acompanhamento ao Idoso (PAI) | Telecentro | Oficina Cultural | |
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) | Unidade de Pronto Atendimento (UPA) | Ponto de Leitura | ||
Centro de Referência Especializado e Assistência Social (CREAS) | SESC | |||
Centro Pop | Teatro |
Os quadros abaixo mostram a quantidade dos serviços existentes nas áreas da Assistência Social e Saúde existentes na cidade de São Paulo. Trata-se da rede de suporte social pública construída ao longo dos 470 anos da cidade.
CONFIRA TAMBÉM:
ASSISTÊNCIA SOCIAL | |
Centro de Convivência Intergeracional (CCINTER) | 20 |
Centro de Acolhida Pop Rua | 07 |
Centro de Referência do Idoso (CRECI) | 01 |
Centro Dia | 25 |
Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) | 573 (17 públicas) |
Núcleo de Convivência de Idoso | 90 |
Serviço de Alimentação Domiciliar para a pessoa idosa | 01 |
Centro de Acolhida Especial para Idosos | 18 |
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) | 54 |
Centro de Referência Especializado e Assistência Social (CREAS) | 32 |
Centro Pop | 06 |
Constatamos que a maior concentração dos serviços está localizada nas regiões Sul e Leste, onde se encontra não só a maior concentração populacional de idosos, como também os idosos mais vulneráveis, e que, por consequência, deveriam ser os que mais demandam rede de suporte social pública. Nessa mesma ocasião fizemos um estudo e entrevistamos 1.009 pessoas idosas (60% cadastrados no CadÚnico), pessoas acima de 60 anos, para saber sobre o conhecimento que tinham dessa rede de suporte social pública e a resposta obtida foi que a maioria disse desconhecê-los.
Verificamos nesse estudo que em todos os setores da política pública, quanto mais os serviços destinam-se exclusivamente à população idosa, maior o desconhecimento verificado. Tomando por referência os serviços de assistência social, por exemplo, embora 72% dissessem conhecer o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), apenas 22%, o Centro de Convivência do Idoso (CCI); 16%, o Núcleo de Convivência do Idoso (NCI).
SAÚDE | |
Ambulatório Médico de Especialidades (AME) | 19 |
Ambulatório Médico de Especialidades Idoso (AME Idoso) | 02 |
Assistência Médica Ambulatorial (AMA) | 12 |
Unidade Básica de Saúde (UBS) | 471 |
Unidade de Referência à Saúde do Idoso (URSI) | 13 |
Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (CRI – IPGG) | 01 |
Centro de Referência à Saúde do Idoso (CRI) | 01 |
Programa de Acompanhamento ao Idoso (PAI) | 55 |
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) | 24 |
Na saúde, aconteceu o mesmo: a política pública, quanto mais voltada à população idosa, ela é menos conhecida, e quanto mais universal, mais conhecida; com uma disparidade ainda maior do que aquela apresentada no setor de assistência social. Enquanto 98% dos respondentes disseram conhecer a Unidade Básica de Saúde (UBS), apenas 25% disseram conhecer a Unidades de Referência à Saúde do Idoso (URSI). Esse padrão se repete para todos os setores da política pública.
A pesquisa deixou evidente que a população busca a rede de suporte social pública cujo caráter de universalidade esteja mais presente. Ou seja, menos programas voltados exclusivamente à pessoa idosa e mais programas de caráter universal, envolvendo não importa qual público alvo. O único serviço público que apresenta número de usuários significativo é a Unidade Básica de Saúde (UBS) (Côrte e Lopes, 2022). Do total dos respondentes, 77% disseram ser usuários de UBS, seguida de Hospital Público (58%), AME (55%) e UPA (52%), todos eles serviços de saúde de abrangência universal. Os serviços de saúde direcionados especificamente para pessoas idosas eram desconhecidos pelas próprias pessoas mais velhas.
A mesma observação vale para os serviços de assistência social, é reduzido o número de respondentes que se diz usuário de serviços voltados à população acima de 60 anos. Ressalta-se que a pesquisa apontou que a população idosa do município de São Paulo disse contar, sobretudo, com rede de suporte social familiar.
Constatamos, na ocasião, que informações relativas às áreas de educação e cultura foram as de mais difícil acesso, inclusive aquelas que dizem respeito à Universidade Aberta. O que vale também para cultura que são equipamentos destinados à população em geral, sem uma especificação clara voltada para a pessoa idosa, embora nada exclua a possibilidade de que projetos ou programas específicos para a pessoa idosa sejam realizados naqueles espaços.
No entanto, a ausência de uma especificação evidencia a pouca preocupação em deixar transparente quais são esses programas e projetos que garantam um suporte às pessoas acima de 60 anos. A ausência da designação “idoso” para outros serviços também evidencia que o idoso objeto da política pública do município de São Paulo é o que demanda assistência social ou sanitária, portanto, o idoso em maior situação de vulnerabilidade. Seria importante que a Prefeitura Municipal de São Paulo se preocupasse em concentrar num único ambiente intersetorial (site) todos os serviços, projetos e programas destinados à pessoa idosa, de fácil acesso, como o SPInfo 60+
Agora me fale, você conhece a rede de suporte social pública de seu município?
Colabore com a pesquisa sobre Rede de Suporte Social de Idosos
por Camila Rocha Ferreira (*)
A rede de suporte social é muito importante e significativa para o processo de envelhecimento e velhice. Pode ser composta por uma rede de suporte formal, que abrange os serviços de atendimento à pessoa idosa, como equipamentos públicos da assistência social (Núcleos de Convivência, Centros de convivência intergeracionais, Centros-dia, Instituições de Longa Permanência para Idosos…) e de saúde (Unidades Básicas de Saúde, Unidade de Referência à Saúde do Idoso, Estratégia Saúde da Família, Programa de Acompanhe de idosos…); ou informal, constituída por familiares, amigos, relações de trabalho, vizinhos e convívio comunitários e sociais.
O cenário da Pandemia de COVID-19 lançou luz quanto a importância de uma rede de suporte presente e atuante. Outro aspecto importante destacar é a quantidade de idosos que está vivendo sozinho, por diversos motivos e não tem um mínimo de rede para contar. O perfil da pessoa idosa que mora sozinha ou com uma rede fragilizada merece especial atenção dos serviços públicos voltados aos 60+, uma vez que tal fator afeta diretamente em seus cuidados integrais.
Com a chegada do envelhecimento a rede de suporte dos 60+ gradativamente declina, vulnerabilizando o processo de envelhecimento, o qual já tem inúmeras perdas intrínsecas. Certamente este é um dos desafios das Políticas Públicas brasileiras.
A pesquisa
A pesquisa a qual estou desenvolvendo – Evidências de Validade de Estrutura Interna de Rede de Suporte Social de idosos (ERSSI) – no mestrado em Gerontologia pela EACH/USP, trata da busca de evidências da estrutura interna de Rede de Suporte de pessoas idosas. É um estudo quantitativo e psicométrico. A Escala de Rede de Suporte Social de Idosos (ERSSI) é baseada na perspectiva de Suporte Social e vista como um mecanismo de investigação de um processo de transferência complexo que envolve uma interação entre o indivíduo e a sua rede de suporte, dividido em três núcleos (Família, Amigos e Vizinhos).
É um instrumento genuinamente brasileiro que retrata as tradições e cultura de nosso país.
Participe e contribua com a Ciência e a busca de Políticas Públicas voltadas para pessoas 60+ no Brasil.
Dê sua contribuição, seja respondendo a pesquisa, se você tem 60+, ou divulgando na sua rede.
https://forms.gle/qn1u2PaAeFDGbFmi6
(*) Camila Rocha Ferreira – Assistente Social, Pós graduada em Gestão e Organização de Políticas Sociais (FMU), Psicologia e Saúde Pública (USP) e Gestão de Redes de Atenção à Saúde (FIOCRUZ) com residência em Serviço Social Hospitalar (FUNDAP), Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa Envelhecimento, Rede de Suporte Social e Políticas Públicas (ENREPO). E-mail: camilarochaoliveira@usp.br
Referência
Côrte, Beltrina & Lopes, Ruth Gelehrter da Costa (Orgs.). A pessoa idosa na cidade de São Paulo: subsídios para a defesa de direitos e controle social. São Paulo: Portal Edições/PUC-SP, 2022, 567p (impresso). A versão e-book está disponível gratuitamente aqui.
Atualizado às 15h51