Se o etarismo sobre corpos jovens ocorre a todo instante, o que esperar aos 60+?
Por Monica Tritone Medeiros (*)
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Estamos em 2024 e cenas de etarismo sobre corpos femininos vêm se perpetuando nas mídias e nas redes sociais. Um caso recente ocorreu num famoso Reality Show de enorme audiência com uma jovem mulher, mostrando para todo o país que ainda nos encontramos muito distantes de vencer o etarismo a respeito dos corpos femininos.
Falas preconceituosas sobre mulheres acima dos 30 anos ainda não mudaram e se fazem muito presentes com o acesso das redes sociais. Se o etarismo sobre corpos tão jovens ocorre a todo instante, o que esperar disso tudo? Como essas mulheres se aceitarão com 40, 50, 60 ou 70+?
O etarismo e o corpo das mulheres, uma história antiga
De acordo com o site da Columbia University Irving Medical Center (2022), o termo etarismo ou idadismo deriva da palavra ageísmo, expressão utilizada pela primeira vez em 1968 pelo gerontólogo americano Robert N. Butler numa entrevista para o jornal Washington Post, quando fez referência sobre a discriminação ao envelhecimento.
A relação do corpo das mulheres e o preconceito com o mesmo ao envelhecer, vem de longa data. Segundo Del Priore (2018) no Período Colonial brasileiro, o corpo da mulher tinha apenas uma serventia – a procriação da espécie. Sant’Anna (2014) nos traz que a partir de 1880, a propaganda da época já mostrava a importância de se ter uma aparência jovem. A partir daí o problema foi se perpetuando.
Com a Proclamação da República, a busca pela juventude fortaleceu-se, marcando uma nova época em que a “velhice” ficaria no passado. Nesse tempo, a estimativa de vida dos brasileiros era até os 40 anos de idade, quando as pessoas já eram consideradas “velhas”. Ao que parece, os homens da época envelheciam de forma melhor. Ainda de acordo com a autora, em 1920 as mulheres envelheciam antes mesmo da menopausa e piadas relacionadas à idade, bem como à aparência delas eram corriqueiras, presentes maciçamente em revistas e almanaques da época.
Mas não foi diferente com o passar dos anos, quando a mídia e a comunicação exigiam fortemente corpos perfeitos, jovens e impecáveis, de acordo com os padrões de cada época. Hoje, emissoras de TV ainda dão preferência para atores mais jovens, abrindo mão dos mais velhos. As redes sociais que trazem explicitamente a preferência por corpos jovens, ao mesmo tempo, vem fazendo um trabalho importante com influenciadoras 40, 50, 60, 70+ mostrando que corpo ideal é corpo longevo, feliz e cheio de história pra contar.
Por isso, toda ajuda para combater o etarismo com o corpo feminino será mais do que bem-vinda. Pelo jeito, ainda teremos muito o que combater, mas o fundamental é unirmos forças para fazê-lo.
Referências
COLUMBIA UNIVERSITY IRVING MEDICAL CENTER. Robert N. Butler: Pioneer in Study of Aging. 2022. Disponível em: <https://www.cuimc.columbia.edu/news/robert-n-butler-pioneer-study-aging>; útimo acesso em: 14 jan. 2024, 20h55.
DEL PRIORE, M. História das Mulheres no Brasil. São Paulo (SP). Editora Contexto (2018).
SANT’ANNA, D.B. História da Beleza no Brasil. São Paulo (SP). Editora Contexto (2014).
(*) Monica Tritone Medeiros é Mestre em Psicogerontologia pelo Instituto Educatie de Ensino e Pesquisa. Autora do Livro “O Corpo Envelhescente: Percepções de Mulheres a partir dos 40 anos” (Portal Edições, 2022). E-mail: monica.tritone@uol.com.br
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