Os avatares de Inteligência Artificial (IA) demonstram que muito trabalho ainda precisa ser feito no sentido da aceitação da aparência do envelhecimento nas redes sociais.
Monica Tritone Medeiros (*)
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Durante algumas semanas, ao final de novembro, as redes sociais ficaram tomadas de imagens futuristas e quase irretocáveis de muitas pessoas, que foram manipuladas por meio de um aplicativo de Inteligência Artificial (IA), o Lensa, uma plataforma de edições de imagens que cria versões de super avatares. O aplicativo em questão tem a função de modificar a aparência trabalhando as aparências e proporcionando peles perfeitas, cabelos e olhos brilhantes, bocas encarnadas, expressões vibrantes e até posturas realçadas com acessórios de guerreiros, reis, rainhas e afins. Muitas dessas pessoas que retratavam orgulhosamente as imagens manipuladas pelo aplicativo Lensa pertenciam à faixa etária dos maduros.
Grandes esforços têm sido feitos para que a velhice seja trabalhada com naturalidade e aceita com suas mudanças físicas, consequência que ocorre aos seres vivos e que, segundo Stefanacci (2022), se inicia a partir dos 30 anos com um declínio característico e constante de células e órgãos, resultando em modificações funcionais e na aparência. Porém, tais mudanças no aspecto físico que ocorrem de forma natural pelos efeitos do processo de envelhecimento, ainda não são bem-vindas de forma geral por muitos envelhescentes, principalmente na sociedade ocidental. De acordo com Motta (2002), as pessoas, mesmo fazendo concessões, não querem ter uma aparência associada ao desgaste, proporcionando um mal-estar relacionado ao envelhecer do ponto de vista físico.
As redes sociais constroem universos pessoais onde cada uma procura mostrar cotidianos perfeitos. Por sua vez, os recursos e filtros para manipular as selfies estão ali de forma acessível para alterar as imagens. Segundo Klotz (2017) a contemporaneidade trouxe o controle para que as pessoas possam moldá-las à sua forma, assim, pode-se compreender a superexposição nas redes sociais, em um novo jeito de pensar trazido pela modernidade. No entanto, como dissociar estas imagens tão artificiais e impostas pela sociedade e encarar a aceitação pela nova estética trazida pelo tempo?
Da mesma forma que as redes sociais são os maiores meios de exposição de imagens perfeitas e irretocáveis, também contam com influenciadores que fazem um trabalho sério e importante a favor do envelhecimento e da beleza dessa fase da vida, abordando a liberdade de escolha de deixar os cabelos brancos, as rugas de expressão, enaltecendo a real aparência, fato que ocorre principalmente entre as mulheres. Ainda de acordo com Klotz (2017) muitas idosas são porta-vozes do envelhecimento nas redes sociais, divulgando e favorecendo um posicionamento a favor de uma relação positiva com a aparência trazida pelo avanço da idade.
O que podemos concluir dessa reflexão é que muito trabalho ainda precisa ser feito no sentido da aceitação com a própria imagem do envelhecimento nas redes sociais. Envelhecer é bom e mostrar a real aparência é bem mais empoderador do que usar um acessório disponibilizado por inteligência artificial.
Referências
KLOTZ, G.A.Q. Percepção estética do envelhecimento feminino(recurso eletrônico). Revista Mais 60 – Estudos sobre envelhecimento, Portal Sesc SP. v.28 n.67. 2017.
MOTTA, A. B. Envelhecimento e sentimento do corpo. In. MINAYO, M.C.S.; COIMBRA JUNIOR, C. E. A. (Orgs). Antropologia, saúde e envelhecimento (recurso eletrônico). Rio de Janeiro (RJ). Fiocruz. 2002. 41p.
STEFANACCI, R. Mudanças no corpo com o envelhecimento. (recurso eletrônico). Manual MSD, 2022.
(*) Monica Tritone Medeiros é Mestre em Psicogerontologia pelo Instituto Educatie de Ensino e Pesquisa. Autora do livro “O Corpo Envelhescente: Percepções de Mulheres a Partir dos 40 Anos” Portal Edições, 2022). E-mail: monica.tritone@uol.com.br.