Alarmistas brincam com a ideia de que robôs vão substituir pessoas no emprego. Na verdade, eles podem se tornar nossos colaboradores essenciais, liberando-nos a gastar menos tempo em tarefas mecânicas. Rodney Brooks enfatiza quão valioso isso pode ser à medida que o número de adultos em idade de trabalhar cai e o número de aposentados cresce. Com olhos que se movem e braços que reagem ao toque, ele nos apresenta Baxter, o robô que pode trabalhar junto com idosos.
TED 2013/Traduzido por Isabel Villan e revisado por Luciana Negrao *
Arthur C. Clarke, um famoso escritor de ficção científica da década de 1950, disse que: “Superestimamos a tecnologia no curto prazo e a subestimamos no longo prazo.” E acho que isso é um pouco do medo que temos de empregos desaparecendo em razão da inteligência artificial e dos robôs. Estamos superestimando a tecnologia no curto prazo. Mas estou preocupado se vamos ter a tecnologia de que precisamos no longo prazo. Porque a demografia vai realmente nos deixar com muito trabalho que precisa ser feito e que nós, nossa sociedade, vai ter que construir nos ombros de aço de robôs no futuro. Então, tenho medo de que não tenhamos robôs suficientes.
Mas o medo de perder o emprego para a tecnologia tem estado por aí há um longo tempo. Lá em 1957, havia um filme com Spencer Tracy e Katharine Hepburn. Vocês sabem como terminou, Spencer Tracy trouxe um computador, um mainframe de 1957, para auxiliar os bibliotecários. Os bibliotecários na empresa faziam coisas como respostas para os executivos: “Quais são os nomes das renas de Papai Noel?” Eles pesquisavam. E esse computador ia ajudá-los com esse trabalho.
Bem, claro, um computador em 1957 não era de muito uso para esse trabalho. Os bibliotecários tinham medo de que seus empregos desaparecessem. Mas isso não é o que aconteceu de fato. O número de empregos para bibliotecários cresceu por um longo tempo depois de 1957. Foi somente quando a Internet a Web e os motores de busca entraram em cena que a necessidade de bibliotecários diminuiu. E acho que todos em 1957 subestimaram completamente o nível de tecnologia que nós carregamos por aí, em nossas mãos e em nossos bolsos, hoje. E podemos simplesmente perguntar: “Quais são os nomes das renas de Papai Noel?”, e sermos informados instantaneamente — ou qualquer outra coisa que quisermos perguntar.
A propósito, os salários dos bibliotecários subiram mais rápido que os salários de outros empregos nos EUA nesse mesmo período, porque os bibliotecários se tornaram parceiros dos computadores. Os computadores se tornaram ferramentas, e eles conseguiram mais ferramentas do que poderiam usar e se tornaram mais eficientes durante esse tempo.
A mesma coisa aconteceu nos escritórios. Nos velhos tempos, as pessoas usavam planilhas. Planilhas eram folhas de papel impressas e eles calculavam à mão. Mas aqui está uma coisa interessante que surgiu com isso. Com a revolução do PC, por volta de 1980, os programas de planilhas foram ajustados para os trabalhadores de escritório, não para substituir esses trabalhadores, mas esperava-se que os trabalhadores dos escritórios fossem capazes de ser programadores. Então os trabalhadores de escritórios se tornaram programadores de planilhas. Isso aumentou suas capacidades. Eles não tinham mais que fazer cálculos, mas podiam fazer muito mais.
Hoje, começamos a ver robôs em nossas vidas. Temos o PackBot da iRobot. Quando soldados topam com bombas à beira da estrada, no Iraque e no Afeganistão, em vez de vestir o traje especial e sair cutucando-as com um bastão, como costumavam fazer até mais ou menos 2002, agora enviam o robô. Então o robô assume os trabalhos perigosos.
Temos alguns TUGs, de uma empresa chamada Aethon, em Pittsburgh. Estes estão em centenas de hospitais nos EUA. Eles levam os lençóis sujos para a lavanderia. Levam os pratos sujos de volta para a cozinha. Trazem os medicamentos da farmácia. E isso libera os enfermeiros e auxiliares de enfermaria de fazer esse trabalho de mecanicamente pegar as coisas para passar mais tempo com pacientes.
Na verdade, os robôs se tornaram meio que onipresentes em nossas vidas de muitas formas. Mas acho que quando se trata de robôs industriais, as pessoas meio que sentem medo, porque é perigoso estar por perto de robôs industriais. Para programá-los, você tem que entender vetores de seis dimensões e quaternidades. E as pessoas comuns não conseguem interagir com eles. Acho que é o tipo de tecnologia que, de certa forma, deu errado. Ela deslocou o trabalhador da tecnologia. E acho que realmente temos que olhar para tecnologias com que os trabalhadores comuns possam interagir.
Assim, hoje quero contar sobre Baxter, de que estávamos falando. E Baxter, eu entendo, como uma onda — uma primeira onda de robôs com os quais as pessoas comuns podem interagir em um cenário industrial. Então, Baxter está bem aqui. Este é Chris Harbert, da Rethink Robotics. Temos uma esteira rolante ali. E se a iluminação não for muito intensa — Ah, ah! Ali está. Pegou o objeto da esteira rolante. Ele irá trazê-lo bem aqui e deixá-lo no aparador. Então voltará para procurar outro objeto.
O interessante é que Baxter tem um senso comum básico. A propósito, o que acontece com os olhos? Os olhos estão na tela ali. Os olhos olham adiante para onde o robô vai se mover. Então a pessoa que está interagindo com o robô entende até onde ele vai e não fica surpresa com seus movimentos. Aqui, Chris tirou o objeto da mão dele, e Baxter não tentou colocá-lo no aparador; ele voltou e percebeu que tinha que pegar outro. Ele tem um pouquinho de senso comum básico, vai e pega os objetos.
E é seguro interagir com Baxter. Você não gostaria de fazer isso com um robô industrial atual. Mas com Baxter isso não machuca. Ele sente a força, entende que Chris está ali e não o empurra e machuca.
Mas acho que a coisa mais interessante sobre o Baxter é a interface do usuário. Então Chris vai agarrar o outro braço agora. E, quando agarra o braço, ele vai para o modo de compensação de força de gravidade zero e gráficos surgem na tela. Você pode ver alguns ícones, ali à esquerda da tela, para o que é o braço direito dele. Vai colocar algo na mão dele, vai trazê-lo bem aqui, apertar um botão e deixá-lo com o que está na mão. E o robô compreende, ah, ele quer dizer que eu quero pôr coisas no aparador. Ele coloca um pequeno ícone ali. Ele vem até aqui, junta os dedos e o robô infere, ah, você quer que eu pegue um objeto. Isso coloca o ícone verde ali. Ele vai mapear uma área na qual o robô deve pegar o objeto. Ele apenas se move ao redor e o robô entende que aquela é uma área de busca. Ele não teve que selecionar de um menu. Agora ele vai sair e treinar a aparência visual desse objeto enquanto continuamos a conversar.
Então, enquanto continuamos aqui, quero contar como é isso em fábricas. Estes robôs que entregamos todos os dias. Eles vão para fábricas de todo o país. Esta é Mildred. Mildred é uma trabalhadora de fábrica, em Connecticut. Ela trabalha na linha de montagem por mais de 20 anos. Uma hora depois que ela viu o primeiro robô industrial, ela o programou para fazer algumas tarefas na fábrica. Ela resolveu que realmente gosta de robôs. E foi fazendo as tarefas simples e repetitivas que ela tinha que executar antecipadamente. Agora ela tem o robô fazendo isso.
Quando saímos para dizer às pessoas nas fábricas como poderíamos ter robôs para interagir melhor com eles, uma das perguntas que fizemos foi: “Você quer que seus filhos trabalhem em uma fábrica?” A resposta universal era: “Não, quero um trabalho melhor que este para meus filhos.”
E, como resultado disso, Mildred é um exemplo muito típico dos trabalhadores de fábrica atuais, nos EUA eles são mais velhos, e estão ficando cada vez mais velhos. Não há muitas pessoas jovens vindo trabalhar nas fábricas. E, à medida que as tarefas se tornam mais pesadas para eles, precisamos dar-lhes ferramentas com as quais possam colaborar, para que se tornem parte da solução, para que possam continuar trabalhando e para que possamos continuar produzindo nos EUA.
Assim, nosso ponto de vista é que Mildred, que é a trabalhadora na linha de montagem, se torne Mildred, a treinadora dos robôs. Ela levanta o jogo, como os trabalhadores de escritório da década de 1980 levantaram o jogo no que poderiam fazer. Não estamos dando a eles ferramentas que eles tenham que estudar por anos e anos a fim de usá-las. São ferramentas que eles podem aprender a operar em poucos minutos.
Há duas grandes forças que são de volição mas inevitáveis. São a mudança climática e a demografia. A demografia realmente vai mudar nosso mundo. Este é o percentual de adultos em idade de trabalhar. E ele baixou suavemente nos últimos 40 anos. Mas nos próximos 40 anos, vai mudar dramaticamente, até mesmo na China. O percentual de adultos em idade de trabalhar cai dramaticamente. E sobe de outra forma, a quantidade de pessoas em idade de aposentadoria, sobe muito, muito rápido, assim que a geração ‘baby boomer’ chegue à idade de aposentadoria. Isso significa que haverá mais pessoas com menos dólares da seguridade social competindo por serviços.
Mais que isso, à medida que envelhecemos nos tornamos mais frágeis e não conseguimos fazer todas as tarefas que costumávamos fazer. Se olharmos para as estatísticas sobre a idade dos cuidadores, ante nossos olhos, esses cuidadores estão ficando cada vez mais velhos. Isso está acontecendo estatisticamente agora. E, à medida que o número de pessoas que são mais velhas, aumenta, haverá menos pessoas para cuidar deles.
E acho que realmente teremos que ter robôs para nos ajudar. E não quero dizer robôs em termos de acompanhantes. Quero dizer robôs fazendo as coisas que normalmente fazemos para nós mesmos, mas que ficam mais difíceis quando envelhecemos. Tirar as compras do carro, subir escadas, ir para a cozinha. Ou até mesmo, quando somos muito mais velhos, dirigir o carro quando visitamos outras pessoas. Acho que a robótica dá às pessoas uma chance de ter dignidade quando envelhecem, tendo o controle da solução robótica. Assim, eles não têm que depender de pessoas, que estão se tornando escassas, para ajudá-los.
Portanto, realmente penso que vamos passar mais tempo com robôs como Baxter e trabalhando com robôs como Baxter no nosso cotidiano. E que todos nós vamos contar com robôs nos próximos 40 anos como parte de nosso cotidiano.
Rodney Brooks
É um roboticista que constrói robôs baseados em princípios biológicos de movimentação e raciocínio. O objetivo é construir um robô que pode descobrir as coisas.
Fonte: Disponível Aqui