Saber falar sobre sexualidade ajudará muito no diagnóstico, acolhimento e orientações para uma vida sexual mais prazerosa e segura na velhice
Pode ser que alguns jovens não lembrem do célebre Chacrinha, mas quase todos, independente da sua idade, conhecem uma de suas mais famosas frases: “Quem não se comunica, se trumbica”, expressão que resgato para refletirmos sobre a importância da comunicação. Como qualquer habilidade, comunicar-se envolve aprendizado, treino e muita reflexão. E mesmo que duas pessoas falem a mesma língua, é até possível que numa conversa não consigam transmitir ideias ou serem entendidos efetivamente.
Com esses conhecimentos em mente, dialogar e ouvir sobre sexualidade ou expressão sexual não é diferente. Nesses anos à frente do ambulatório de sexualidade do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP tive o privilégio de observar médicos residentes relatarem uma evolução em sua capacidade de conversar com pessoas idosas sobre sua sexualidade.
No mesmo sentido, vejo que muitas vezes são os profissionais de saúde e não as pessoas idosas, aqueles com maiores barreiras ou dificuldades em abordar tais assuntos. Constatação também observada por pesquisadores de Israel, que publicaram um artigo recente que discute como essas questões são abordadas em consultas.
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Eles separaram os médicos em dois grupos, um com treinamento específico em sexualidade e outro sem. Para aqueles que não eram treinados ou especializados neste tema, questões sexuais relatadas eram tratadas principalmente sob um foco biológico e fisiológico, com orientações terapêuticas baseadas quase exclusivamente em intervenções medicamentosas.
Já aqueles com maior aptidão e estudo sobre este conteúdo relataram maior conforto e respeito em sua abordagem, demonstrando uma capacidade de correlação entre aspectos biológicos com as dimensões psíquicas, sociais e culturais de seus pacientes. Além disso, foram capazes de estabelecer maiores orientações e tratamentos, quando necessários.
Por essas razões, falar de sexo, principalmente nas consultas, não pode ser um assunto proibido. Claro que há a maneira, o local e a privacidade ideais para isso. Dessa forma, não só as residências e especializações em geriatria e gerontologia, como também os profissionais em formação devem buscar treinamento de habilidades para se comunicarem com as pessoas idosas. Isso irá ajudar muito no diagnóstico, acolhimento e orientações para uma vida sexual mais prazerosa e segura na velhice.
Por fim, resta dizer “alô, alô, Terezinha”, já chegou a hora de perder o medo de se comunicar!
Referências
Levkovich I, Gewirtz-Meydan A, Ayalon L. Communicating with older adults about sexual issues: How are these issues handled by physicians with and without training in human sexuality? Health Soc Care Community. 2021 Sep;29(5):1317-1326
Foto destaque: pexels
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