Quando pensamos na tríade Alzheimer x Cuidado x Dignidade, uma questão muito importante se destaca, a proteção da intimidade da pessoa doente, a qual está baseada em três dimensões (legal, ética, assistencial) que se complementam e que sinalizam a necessidade de proteger a intimidade no processo de cuidar.
Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.” Antoine de Saint-Exupéry
O processo de cuidado nas demências tem ganhado grande importância no contexto mundial, principalmente quando fatores ligados à dignidade da pessoa doente são colocados em discussão. As demências no seu âmbito geral possuem no seu avanço clínico sintomas que levam a pessoa acometida à perda de funções cognitivas, funcionais e sociais, promovendo dependência para a realização de atividades consideradas básicas como também de autonomia, enquanto capacidade de tomar decisões e gerir a própria vida. E, quando pensamos na tríade Alzheimer x Cuidado x Dignidade, uma questão muito importante se destaca, a proteção da intimidade da pessoa doente.
O cuidado além de ser baseado no conceito de humanização, de respeito aos valores e princípios, também deve ser respaldado na vontade da pessoa doente, nos seus medos e vontades, gostos e aversões. Cada familiar conhece bem o seu ente querido para sinalizar essas condições e, dentro dessas descobertas, fica mais simples identificar certas vulnerabilidades e complexidades que comprometem a intimidade dessas pessoas no cuidado.
O cuidado considera a pessoa de uma forma global, mas também singular; considerando suas capacidades; seus direitos; autonomia enquanto possível; sua posição de membro de uma comunidade e sua capacidade de independência enquanto existe, para que, a partir disso, possamos criar ações de cuidado baseadas no respeito à nova condição da pessoa doente.
A proteção da intimidade está baseada em três dimensões (legal, ética, assistencial) que se complementam e que sinalizam a necessidade de proteger a intimidade no processo de cuidar.
A dimensão legal está vinculada aos direitos da pessoa, assim como lavra o Estatuto do Idoso nos artigos relacionados à proteção da honra, da imagem e da intimidade do idoso. O direito das pessoas com demência acaba se traduzindo em deveres e obrigações para quem cuida.
A dimensão ética se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas que possuem direitos e parte da concepção que toda pessoa é responsável por sua vida; pelo seu corpo; suas informações pessoais e de seus assuntos privados.
A dimensão assistencial está relacionada aos cuidados prestados pelos profissionais e familiares no âmbito da doença, baseado em assistir à pessoa naquilo que ela pode fazer visando o seu bem-estar. É considerado um apoio indispensável considerando as vulnerabilidades e intimidades da pessoa.
CONFIRA TAMBÉM:
A proteção da intimidade está relacionada com o estabelecimento de uma relação de confiança. É preciso que a pessoa cuidada se sinta segura nesta relação, caso contrário, se a pessoa percebe que quem cuida não é confiável, vai se sentir insegura e possivelmente ameaçada, bloqueando uma relação interpessoal.
A proteção da intimidade está relacionada com o estabelecimento de uma relação de confiança. É preciso que a pessoa cuidada se sinta segura nesta relação, caso contrário, se a pessoa percebe que quem cuida não é confiável, vai se sentir insegura e possivelmente ameaçada, bloqueando uma relação interpessoal.
Uma boa relação de cuidado pode gerar confiança, respeito e confidencialidade. A proteção dessa pessoa deve ser garantida em qualquer fase da doença, independente do seu grau de evolução. Quanto mais a doença avança mais se tem de usar as técnicas de comunicação para facilitar o processo de confiança e segurança que contrasta com a dificuldade da pessoa doente em recordar de quem está cuidando. Logo, comunicação verbal adequada; objetos pessoais; elementos de apego afetivo; músicas, toque, são considerados caminhos efetivos nesta relação.
É importante sinalizar os tipos de intimidade que se destaca nas demências que são:
Intimidade física e corporal: que se refere à limitação de acesso ao corpo (físico e visual) através de toques, de observação, que precisam obrigatoriamente da permissão da pessoa. Observa-se muito essa condição durante banhos, trocas de roupa, troca de fralda, auxílio para usar o banheiro etc; Quem nunca presenciou a cena de alguém ajudando uma pessoa a se banhar e chamando outras fora do contexto de cuidado para ver?
Intimidade espacial: refere-se ao espaço de cuidado desta pessoa, bem como os objetos pessoais existentes (roupas, fotografias, joias, sapatos, cartas). A intimidade espacial é importante, pois garante não só as relações interpessoais como também a realização de atividades privadas, protegendo aspectos relacionados com a personalidade da pessoa (sentimentos, valores, ideias).
Intimidade confidencial: direito da pessoa doente e, obrigação de cuidadores formais e informais e de outros profissionais de cuidado, manter e garantir a confidencialidade sobre a vida da pessoa doente ante pessoas que não fazem parte deste contexto (informações, objetos, documentos, histórias pessoais).
Existem assuntos referentes à confidencialidade que devemos ter muito cuidado como informações sobre ao estado de saúde; personalidade; relações afetivas; orientação sexual entre outras. É preciso muita cautela até na troca de informações entre profissionais.
Algumas dicas são importantes para proteger a intimidade no processo de cuidar.
– Converse olhando nos olhos, o contato deve ser visual;
– Fale com delicadeza e respeito, sem infantilizar;
– Fale sobre o que está sendo feito, peça permissão para trocar uma roupa, uma fralda, para tocar em alguma parte do corpo;
– Em cada fase da doença é necessário trabalhar com uma forma de comunicação eficaz;
– Limite a exposição da pessoa e proteja suas partes íntimas, principalmente durante troca de roupa, fraldas, banho;
– Limite também a exposição através de imagens e vídeos;
– Durante esse cuidado mais íntimo, só pessoas que realizam a ação devem estar presentes;
– Evite que a pessoa permaneça sem roupa durante muito tempo;
– Se possível, o cuidado deve ser realizado por pessoa do mesmo sexo da pessoa doente;
– Em instituições, momentos íntimos não devem ser compartilhados (banhos, trocas de roupa, roupas, produtos de higiene, etc.);
– Respeite a privacidade dos momentos, dos espaços, dos objetos;
– Documentos, prontuários confidenciais não devem estar ao acesso de todos;
– Proteja a intimidade em situações de incontinência; de perdas funcionais; no final de vida; em necessidades sexuais; em situações de urgência e emergência;
– Evite comentar alto sobre a pessoa, como se ela não estivesse presente;
– Coloque-se em seu lugar… o que gostaria que fosse feito?
Lembrando que a confidencialidade só pode ser quebrada quando: oferecer riscos à pessoa doente; quando a integridade e saúde de terceiros está em risco e quando o profissional é requerido em processo judicial.
Proteger também é cuidar!
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