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Programas intergeracionais e suas potencialidades são tema de curso

Numa sociedade que envelhece é de extrema relevância e urgência a discussão dos laços intergeracionais, se entendemos que gerar solidariedade entre as gerações é uma das estratégias de cuidado para com os mais velhos.

Cláudia Soares de Oliveira (*)


Penso no estudo da intergeracionalidade como o estudo de fronteiras[1]. Vivemos num mundo sem fronteiras no qual as barreiras e limites se encontram hoje enfraquecidos e desvalorizados. Considerando as transformações no contexto atual, busca-se compreender as transformações pelas quais vem passando a temática das relações intergeracionais, uma vez que, numa sociedade que envelhece é de extrema relevância e urgência a discussão dos laços intergeracionais, se entendemos que gerar solidariedade entre as gerações é uma das estratégias de cuidado para com os mais velhos.

Mas o envelhecimento da população não é a única característica da nossa sociedade. Hoje enfrentamos a velocidade dos avanços tecnológicos e as consequências de subjetividades produzidas por um capitalismo econômico cada vez mais devastador. Assim, pensar na temática das relações intergeracionais exige que formulemos muitas questões, entre elas destaco aqui algumas:

Diante dessas questões, podemos ainda refletir sobre as bases que estruturam as relações intergeracionais contemporâneas, ou seja, as pessoas de diferentes gerações, hoje, tendem a se conceberem diferentes umas das outras? Em que medida isso se dá e, a partir daí, que tipo de vínculos podem elas estabelecer umas com as outras nos diferentes âmbitos da vida?

Fácil perceber que o que temos hoje são muitos fluxos, muita hibridação, produção de diferença intensificada; mas, paradoxalmente, pouca escuta para este burburinho, pouca fluidez, potência de experimentação debilitada. É nesse ponto que vejo como sendo de grande relevância os programas intergeracionais.

É diante deste contexto que devemos pensar na elaboração dos programas intergeracionais e a partir dele abrir possibilidades de temáticas a serem trabalhadas nos programas intergeracionais. 

O que quero mostrar no curso “Intergeracionalidade: Potências de um conceito inexplorado” a ser ministrado no Espaço Longeviver é que pensar, por exemplo, num programa intergeracional dentro de uma empresa para se buscar minimizar apenas as consequências entre as diferenças entre gerações, ou possibilitar a transmissão de conhecimento de uma geração para outra e assim aumentar a produtividade, esse programa estará fadado ao fracasso.

Pensar em intergeracionalidade passa por vários outros conceitos e passa por diferentes perspectivas. A começar que um bom profissional para gerir tal programa deverá ser um profissional capaz de possibilitar relações humanas e não humanas. Um profissional capaz de se dispor a perceber não somente as luzes, que são tão evidentes, mas também o escuro que faz parte delas, e não identificamos de imediato. Se a escuridão faz parte, pertence à luz, para reconhecê-la precisamos desenvolver a habilidade particular de impedir que o que está na luz nos distraia da necessidade de buscar o que não está nela aparente. Sobretudo com relação ao tema da intergeracionalidade, que passa pelo estudo do envelhecimento, da velhice e de como o tema da juventude atravessa tudo isso nos dias de hoje.

Esta é a tarefa que se impõe: aprender a ver o que já está naquilo que dele se fala, mas ainda no escuro dessa fala. Assim, os pilotos automáticos de certos discursos poderão ser desativados. Alguns discursos se dizem e passam com o ato que os pronunciou, e outros são retomados constantemente. Mas pode-se forçá-los a tomar posição em questões sobre as quais estavam desatentos. Ver aquilo que ninguém viu muda tudo num trabalho com este, assim como muda tudo em uma vida.

É preciso um distanciamento e um estranhamento para poder sair do domínio do poder e de seus dispositivos. Exercer o pensar, ousar pensar; pensar nunca é reafirmar aquilo que está posto. Pensar a intergeracionalidade e elaborar programas para que possamos criar novos modos de existência que fuja aos padrões impostos pela nossa sociedade, que tanto despontecializa a Vida, deve ser a meta de um profissional da intergeracionalidade.

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Serviço

Curso Online “Intergeracionalidade: Potências de um conceito inexplorado”
Datas: Sábados – 22/08, 29/08 e 05/09, das 9 às 12 horas
Público alvo: Profissionais que atuam em organizações de saúde, educação, lazer, cultura e que promovem atividades diversificadas (lúdicas, oficinas, cursos, encontros) para público intergeracional, e também interessados na temática.
Local: Acontecerá online via Microsoft Teams
Contato: cursos@portaldoenvelhecimento.com.br
Vagas limitadas
Inscrições: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/intergeracionalidade-potencias-de-um-conceito-inexplorado/

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Referências
BORGES, C. C. Laços intergeracionais no contexto contemporâneo (in): Estudos de Psicologia, 16(2) p. 171-177, maio-agosto/2011.
FERRACINI, R. Em torno da fronteira. [2014]. Disponível em: https://primeiroteatro.blogspot.com/2014/07/em-torno-da-fronteira.html. Acesso em: 15 jul. 2018.


[1] Sobre esta noção, Ferracini (2014) afirma que “fronteira não é linha. Nem demarcação meramente espacial ou temporal entre dois pontos ou territórios. Não é uma marca de delimitação. Em realidade é também… mas não é, absolutamente, esse o sentido comum–senso-comum-que interessa. Espaço-entre, in-between, MA (TADASHI ENDO), Entre-mundo (BHABHA), Indiscernibilidade (DELEUZE), esses são os outros nomes de fronteira que interessam, pois eles não são apenas nomes, mas estados-de-vida-em-aberto-e-em-potência. Um espaço, um território de fronteira, é, por excelência, um território de devir”.

(*) Cláudia Soares de OliveiraPsicopedagoga (PUC-SP, 2005), Especialista em Psicomotricidade (ISPE – GAE – OIPR, 2002), Gestão de Programas Intergeracionais (Universidade de Granada, 2011) e Gestão do Terceiro Setor (IATS, 2011), Mestre em Gerontologia (PUC/SP, 2018). Atualmente trabalha na Associação Travessia atuando com crianças, jovens e adultos especiais. Tem experiência na área Pedagógica e Psicopedagogia atuando principalmente nos seguintes temas: longevidade, envelhecimento, aposentadoria, memória, cuidado, saúde e doença.


Inscrições: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/intergeracionalidade-potencias-de-um-conceito-inexplorado/
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