Em muitos casos, o acúmulo de um arsenal de conhecimentos pode nos tornar arrogantes, entricheiradas atrás de uma muralha de certezas, bombardeando o mundo com uma saraivada de opiniões não-solicitadas, convencidas de nosso direito de converter e subjugar todas as pessoas que não têm a sabedoria de pensar como nós. Por isso cultivando o não-conhecimento e abraçando a não-certeza, exercendo a não-opinião e praticando o não-debate. Ouvindo e aceitando, acolhendo e abraçando.
Alex Castro *
Nosso sistema educacional nos treina para acumular conhecimentos e formar certezas, expressar opiniões e debater ideias.
São valores raramente questionados: quando foi a última vez que nos aconselharam entesourar menos conhecimentos e cultivar mais incertezas, autocensurar opiniões e evitar debates?
Mas, em muitos casos, o acúmulo de um arsenal de conhecimentos pode nos tornar arrogantes, entricheiradas atrás de uma muralha de certezas, bombardeando o mundo com uma saraivada de opiniões não-solicitadas, convencidas de nosso direito de converter e subjugar todas as pessoas que não têm a sabedoria de pensar como nós.
Por outro lado, cultivar o não-conhecimento nos leva a abraçar a não-certeza, que nos faz exercer a não-opinião e, assim, praticar o não-debate.
Uma atitude que, longe de estimular a apatia e a alienação, faz com que estejamos livres para agir politicamente no mundo com menos narcisismo e com mais liberdade, com menos autocentramento e com mais empatia.
Cultivar o não-conhecimento
Três votos budistas: a) Praticar o não-conhecimento, abrindo mão de certezas prévias; b) Testemunhar a alegria e o sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; e c) Agir no mundo de acordo com essas duas posturas.
Sou escritor, professor, crítico. Décadas de estudo formal e de pesquisas acadêmicas, em três países e em três idiomas, me treinaram a acumular, demonstrar, repassar conhecimento.
Não seria exagero dizer que cultivar uma postura de não-conhecimento vai literalmente contra tudo o que fui treinado em minha vida adulta.
Assim, ao reconhecer a enormidade do meu não-conhecimento, a primeira coisa que perdi foi aquela profunda certeza na solidez das minhas opiniões.
Sem essa certeza, eu já não me sentia mais tão impelido a julgar e opinar sobre as vidas alheias.
Sem julgar e sem opinar, minhas interações humanas começaram a se tornar menos egocêntricas e autocentradas.
Agora, já era possível simplesmente estar ali, ao lado de outra pessoa, de maneira plena e aberta, não como mais um juiz que tudo sentencia ou como mais um mestre que tudo aconselha, mas apenas como um outro ser senciente, falho e ignorante, mas capaz de ouvir e de aceitar, de acolher e de abraçar.
Durante algum tempo, eu temia que cultivar o não-conhecimento e exercer a não-opinião significasse me omitir de agir politicamente no mundo.
Mas não.
Ao testemunhar a alegria e a dor alheias a partir de uma postura de não-conhecimento, eu podia agir no mundo de forma mais efetiva e mais generosa, menos egóica e menos violenta, mais transformadora e mais política.
Nem sempre consigo. Aliás, quase nunca.
É um processo, um caminho, uma prática.
Leia o artigo na íntegra Aqui
* Alex Castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha vídeo-biografia, me siga no facebook, assine minha newsletter.