Organização internacional mediu bem-estar das pessoas com mais de 60 anos em 96 países. Portugal ficou a meio de uma tabela liderada pela Noruega. Gustavo Sugahara, colaborador do Portal do Envelhecimento, em entrevista à imprensa portuguesa, diz que “Os idosos portugueses foram muito afectados pelas medidas de austeridade impostas pelo Governo nos anos mais recentes”.
Alexandra Campos *
Portugal vai ser o terceiro país mais envelhecido logo a seguir ao Japão e à Coreia do Sul, em 2050, a crer num índice elaborado por uma organização internacional que mediu a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas com mais de 60 anos em 96 países. Divulgado no Dia Mundial do Idoso [01/10/2014], o Índice Global de Envelhecimento 2014 é liderado pela Noruega, que suplantou a Suécia e ocupa agora o primeiro lugar, enquanto Portugal surge um pouco acima do meio da tabela, na 37.ª posição.
Apesar da classificação moderada no global, Portugal é dos piores entre os países situados na Europa Ocidental, estando apenas à frente de Itália (39.º lugar), Malta (55.º) e Grécia (73.º).
Elaborado pela organização não-governamental Help Age International, com o apoio do Fundo Mundial da População para as Nações Unidas, esta espécie de ranking dos melhores sítios para envelhecer no planeta coloca Portugal abaixo de países como o Uruguai, o Panamá, o México e a Tailândia. Os primeiros países da lista são quase todos da Europa Ocidental e da América do Norte, à excepção do Japão, que surge em 9º lugar. A seguir à Noruega e à Suécia, a Suíça, o Canadá e a Alemanha posicionam-se como os melhores países para envelhecer. Do lado oposto estão o Afeganistão e Moçambique.
Portugal já tem uma elevada percentagem de pessoas com mais de 60 anos (25,1%) e estima-se que este número aumente para 40,8% em 2050, sublinham os autores do relatório.
A avaliação baseia-se em quatro áreas-chave. No domínio da chamada “segurança dos rendimentos” (cobertura das pensões e níveis de pobreza), Portugal posiciona-se em 12º lugar; na área da saúde fica na 23.ª posição, muito graças ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mas, no domínio das competências (educação e emprego), resvala para a 79.ª posição, destacando-se pela negativa com “a terceira maior taxa de desemprego” na faixa etária entre 55 e os 64 anos da OCDE, só suplantada pela Grécia e a Espanha.
“Os idosos portugueses foram muito afectados pelas medidas de austeridade impostas pelo Governo nos anos mais recentes”, comenta, a propósito, Gustavo Sugahara, do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e do território do ISCTE (Instituto Superior das Ciências de Trabalho e Empresa), de Lisboa.
Apesar da elevada taxa de cobertura das pensões, a taxa de pobreza “cresceu significativamente em comparação com 2013”, refere, lembrando que, ao mesmo tempo, o custo de vida agravou-se no caso dos idosos afectados pela revisão da lei das rendas ou que sentiram as consequências do decréscimo da diminuição das tarifas subsidiadas nos transportes públicos.
Na saúde, apesar de o SNS continuar a ser “um forte pilar”, as medidas de austeridade causaram “deterioração” das condições oferecidas, acrescenta o investigador, aludindo a situações “preocupantes” que têm sido noticiadas, como por exemplo a de pessoas com cancro em áreas rurais isoladas “que foram forçadas a parar com o tratamento devido aos cortes na comparticipação estatal dos transportes”.
Este índice com 96 países (em 2013 incluia menos cinco) representa já 91% da população com mais de 60 anos do mundo. Actualmente há 868 milhões de pessoas com mais de 60 anos (aproximadamente 12% da população mundial) e perspectiva-se que em 2050 este número atinja os dois mil milhões.
* Do jornal Público, Portugal. Matéria disponibiliza também um vídeo. Acesse Aqui . Gustavo Sugahara, colaborador do Portal do Envelhecimento, é do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e do território do ISCTE (Instituto Superior das Ciências de Trabalho e Empresa), de Lisboa.