Por que é difícil planejar novos modos de morar antes da velhice se instalar?

Por que é difícil planejar novos modos de morar antes da velhice se instalar?

Afinal, desejar uma velhice descomplicada deveria considerar soluções de moradia igualmente descomplicadas, bastando planejar para construir um futuro mais seguro e confortável na velhice.


Na adolescência, geralmente há o ímpeto de desejar a “liberdade” de morar só, com privacidade e com a vida organizada a seu gosto. Mas sabemos que liberdade tem um preço e é evidente que os sonhos dessa fase são baseados em modelos que não refletem todas as faces de uma vida independente. Depois, na juventude, a busca por uma vida autônoma vem acompanhada do necessário esforço de atender às demandas financeiras, o que exige preparo através de uma formação profissional e o empenho em conquistar o tão sonhado espaço.

As interações sociais levam aos relacionamentos e à divisão da moradia, muitas vezes seguida pela chegada de filhos, o que já determina o compartilhamento do espaço domiciliar. Os interesses pessoais vão implementando elementos que representam os desejos e as necessidades de cada morador, o que justifica adaptações ou mudanças para outros imóveis, de modo a acomodar todos da melhor forma possível. E o ciclo recomeça: adolescência, juventude e vida adulta, fase em que a busca da satisfação pessoal e profissional pode ser alcançada se houver comprometimento com atividades laborais que permitam sustentar os compromissos assumidos. 

Filhos independentes geralmente saem de casa, deixando o conhecido “ninho vazio”, mas que pode significar o início de uma fase na qual o planejamento de futuro começa ao considerar o foco na aposentadoria, mesmo quando o trabalho prazeroso pode continuar. Soluções em home office já permitem pensar na busca de outros cenários, em cidades mais tranquilas ou com paisagens agradáveis que estimulem a atividades que, antes, estavam restritas às férias ou em finais de semana.

Menos pessoas em casa, maior prioridade para ambientes preferidos, como sala de estar e cozinha, podendo ambos estarem integrados para transformar as refeições em momentos culinários diferenciados. As residências serão mais práticas, pois hóspedes podem optar pelas estruturas hoteleiras ou por sistemas de aluguel por temporada, mantendo a privacidade dos moradores permanentes. Soluções de inteligência artificial aumentam o conforto e a praticidade, além de tornar a permanência mais segura e conectada. 

Mas por que parece tão difícil planejar novos modos de morar antes de perceber essas mudanças ao longo da vida? Planeja-se a formação educacional dos filhos e há muito investimento para possibilitar condições competitivas no mundo do trabalho. Então, adolescentes e jovens iniciam a jornada na direção de realizações pessoais e profissionais para consolidar a vida adulta, vivendo prós e contras dos limites impostos a cada indivíduo. Quando as mudanças estruturais na família já não são mais um compromisso e a carreira já aponta uma linha de chegada, pensar na melhor maneira de organizar essa fase deveria ser o rascunho de uma nova meta.

Decidir como deseja morar quando a experiência já facilita as escolhas e a tomada de decisões é um ganho na maturidade. Afinal, desejar uma velhice descomplicada deveria considerar soluções de moradia igualmente descomplicadas, bastando planejar para construir um futuro mais seguro e confortável na velhice.

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Fotos de cottonbro/Pexels


Neste próximo sábado (28/8), das 15h30 às 16h30, falaremos dos avanços e retrocessos do Estatuto do Idoso e debateremos alguns temas que nos chegam quase todos os dias, além de ver qual é a relação dele com o que a OMS está propondo, ou seja, colocar a velhice como doença na próxima edição da Classificação Internacional de Doenças a ser implantada em janeiro de 2022. Não perca! https://www.youtube.com/watch?v=9RRZbZNKc3g


Maria Luisa Trindade Bestetti

Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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