Foi assim:
Caminhava eu por uma trilha pedregosa da história, quando a encontrei. Ela, de pronto, me encantou.
Waldir Bíscaro *
Era uma linda mulher, brilhante em todos os sentidos. Impossível, naquele momento, ser tudo o que era e representava. Custei a acreditar, mas lá estava ela em toda realidade e em toda grandeza e gracilidade.
Como, me perguntei, poderia existir, ao mesmo tempo, um ser tão frágil e tão poderoso, em meio a tanto tumulto e a tanta dor?
Não era rainha, como Branca de Castela, nem guerreira como Joana D’Arc, mas tinha porte de rainha e coragem de guerreira.
Era assim essa italianinha de Veneza, vivendo na França, viúva aos vinte e cinco anos, sem poder contar com ninguém, com mil encargos de família, sem ter em quem se espelhar.
Estava só. Não se desespera, nem se entrega.
Quer vencer com as próprias forças e vai empreender uma caminhada nunca dantes percorrida por qualquer outra mulher. Decide, então, que vai enfrentar a vida empunhando uma arma, incomum até para um homem: a PENA.
Escreve poesias, baladas, temas políticos, temas religiosos, biografias e até um tratado de arte militar. Escreve a favor da paz, em tempos de muito ódio e escreve em defesa dos direitos da mulher, em tempos de total depreciação de suas iguais.
Enfrenta intelectuais e clérigos que a queriam desqualificar. Ela consegue calá-los.
(Alguém poderá pensar: É normal que uma intelectual assuma esse papel de defesa dos direitos da mulher)
Acontece que Christine – é esse seu nome – não tivera ninguém antes dela a assumir essa missão. Christine de Pisan pertence ao século quatorze – 1364 – 1431.
Eu a encontrei – e por ela me apaixonei – entre as páginas de um livro escrito por outra grande mulher: Bárbara Tuchman (Um Espelho Distante – 1978).
*Filósofo e psicólogo e ex-professor de Psicologia do Trabalho na PUC/SP. E-mail: [email protected]