É manhã de terça-feira e uma sala ao final do corredor do Centro de Medicina do Idoso (CMI), do Hospital Universitário de Brasília (HUB), nem parece fazer parte de um ambiente hospitalar. No local cheio de telas nas paredes, duas mesas redondas estão repletas de senhores e senhoras pintando quadros, ao som de música new age. Os idosos são pacientes com mal de Alzheimer, doença degenerativa do cérebro que faz a pessoa perder a memória e a capacidade de raciocínio. É uma das causas mais comuns de demência. Alegres, eles pegam o pincel, a tinta e transformam a pequena tela branca. Por instantes, voltam à infância e desenham o sol, árvores, montanhas, figuras abstratas. Alguns estão sozinhos e descobrem no projeto Pintando o Sete aos Setenta uma oportunidade de se expressar e se socializar. Outros vêm com acompanhantes, que também acabam se envolvendo com a pintura. “Nós não queremos apenas tratar o doente, queremos cuidar da pessoa e da família”, afirma o geriatra e diretor do CMI, Renato Maia.
De acordo com a pedagoga coordenadora do projeto, a voluntária Carmen Fraga, o trabalho – que começou no ano passado após uma exposição na Semana dos Idosos – possibilita, entre outros benefícios, a descoberta do prazer para esse público, que em geral fica muito só e em casa. Apesar de não haver comprovação científica das benesses do trabalho, em breve Maia e Carmen farão uma comparação entre os desenhos do início e os atuais dos participantes. ”Faremos uma leitura da linguagem e vamos verificar se os desenhos melhoraram a auto-estima e a concentração dos pacientes. As imagens podem servir como reflexo do que se passa no interior dessas pessoas”, explica Carmen.
Arabela desenha um coqueiro: saudades do Piauí Rodolfo Grilu/UnB Agência
Tem gente que demonstra na pintura saudades da terra natal. É Arabela Lopes dos Santos, piauiense, de 72 anos, que desenhou um coqueiro. O filho é quem a leva às terças-feiras para participar do trabalho. A mãe, segundo ele, dá sinais de melhora do mal de Alzheimer.
Mistura de técnicas
Carmen, que também é artista plástica, trabalha com o público a técnica mista. Os materiais também são doados por ela: massa corrida, pó de mármore, massa acrílica, cola, cristais e pigmentos. “Os cristais trazem uma energia boa e deixam o trabalho mais bonito, mas também auxiliam a parte da coordenação”, explica.
Dona Hayidée Grassi Rizzo, 82 anos, conta que descobriu a liberdade ao pintar. Na tela, traços de uma árvore, do céu e da montanha. “Essa pintura abre a cabeça da gente e obriga a gente a fazer força”, brinca a descendente de italianos. Há seis meses, ela teve um infarto, mas hoje é pura saúde e alegria.
Maria Cleofa sempre fica mais animada depois das aulas Rodolfo Grilu/UnB Agência
Acompanhada da filha Adália Figueiredo, Maria Cleofa dos Santos, 80 anos, participa das aulas de pintura desde fevereiro. Quando termina tudo conta que fica mais animada. “Eu gosto porque a gente vai lembrando das coisinhas e faz muitas amigas”, diz a senhora que veio do Piauí. Aliás, esse é um dos objetivos do Centro de Medicina do Idoso. “Queremos transformar esse lugar, num grande centro de alegria e não apenas de tratamento e diagnóstico”, comenta Renato Maia.
Maiores informações: Voluntária Carmen Fraga pelo telefone (61) 9965 6989 ou pelo e-mail [email protected] de Medicina do Idoso pelo telefone (61) 3448 5269.
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Fonte: ACS-Assessoria de Comunicação. Acesse Aqui