É isso aí, um “Doce de Mãe” na pele da tresloucada Dona Picucha, divinamente incorporada por Fernanda Montenegro, está de volta, mas agora no formato seriado. No final de 2012 a Rede Globo exibiu a história dessa, digamos, exótica senhora, no seu especial de fim de ano.
Claro, como o sucesso foi estrondoso, a emissora aproveitou o “boom” do envelhecimento, assunto de calorosas discussões atualmente – tanto na televisão como no cinema e até no teatro – para trazer um tipo de velhice e envelhecimento que ainda hoje poucos acreditam.
Para quem não lembra, não quis ou não teve o prazer de assistir o especial, “Doce de Mãe” retrata as aventuras de Picucha, uma mãe de quatro filhos que, aos 85 anos, encara a vida de forma leve, despretensiosa e muito bem humorada. “A gente pensou em nossas mães. Existem muitas Picuchas no Brasil. Todo mundo tem uma avó, uma mãe, uma tia que passa pelas situações que vamos mostrar. É uma história comovente porque, além de engraçada, tem ternura e emoção, como a vida mesmo”, explica o diretor Jorge Furtado.
A história de Picucha e sua família nos faz refletir sobre esses tais pequenos passos que damos no dia a dia – bons, maus e até os mais inofensivos – e mal percebemos a consequência deles na nossa existência e na relação com o mundo.
Andamos, andamos e muitas vezes, mal sabemos para onde a maré nos conduzirá. Temos a impressão, ao ver “Doce de Mãe”, que a vida pode sim ser bem mais simples do que a transformamos: uma confusa engenhoca de complexas engrenagens. Para Picucha tudo é bem básico e até o que não é, aos olhos dela, torna-se assim.
Com todo o carisma de Picucha, Fernanda Montenegro parece nas nuvens com sua deliciosa personagem: “É muito legal voltar a dar vida à Picucha. Eu sempre interpreto senhoras ricas e bem vestidas. E fazer essa velhinha simpática é uma alegria danada”, afirma.
Sobre o Emmy – considerado o Oscar da televisão internacional –, a atriz diz: “No Brasil, esse tipo de prêmio é muito valorizado, mas não mudou nada para mim. Para os atores estrangeiros, sim. Eles têm sua rotina modificada, o salário aumenta. Depois que eu venci, voltei para casa numa boa”, brinca Fernanda.
Talvez seja por essa e muitas declarações semelhantes que Jorge Furtado tenha eleito Fernanda Montenegro como sua Picucha querida, um “Doce de Mãe”. Quantas mais nos encantariam com tanta simplicidade?
Muitos podem perguntar o que, exatamente, mudou, nessa fase do seriado? Afinal, o que ainda pode acontecer de tão interessante na vida de uma senhora de 85 anos? Esperar a morte chegar? Ah, é óbvio que não, meu caro e “Doce Leitor”. Para Picucha todo dia guarda uma novidade, um susto, uma alegria, uma brincadeira, um desafio, quem sabe.
O estranhamento na tela
Nesta temporada, Picucha foi parar em uma casa de repouso. Mas antes de isso acontecer, os filhos se reuniram e o diálogo entre eles foi assim:
– Ela não pode mais ficar só e uma pessoa com ela não funciona.
– Quem vai ficar com ela?
– Só pode ser numa casa de nós?
– Na minha não dá, porque ela interfere demais.
– Só dá para ela ir para um asilo.
– Quem vai dizer isso a ela?
Esse diálogo, cada vez mais comum nas nossas famílias por esse Brasil afora, começa a preencher a telinha, e de forma cômica, com certeza uma boa maneira de se tratar um tema que cada um de nós deve pensar, mais cedo ou mais tarde.
Voltando aos filhos de Picucha, eles resolvem então conversarem com a mãe, dizendo que tem algo pra falar. E ela diz:
– Antes que vocês digam algo eu vou falar: não posso e não quero ficar mais aqui no apartamento… Eu quero ir para um asilo – dá o nome que você quiser. Essa fala surpreendeu a todos, filhos e telespectadores.
“Ela vai se meter em confusões, mas continuará se saindo bem de todas elas”, diz o diretor, Jorge Furtado. De acordo com ele, entre as novidades da trama estão a chegada de Rosa, vivida por Drica Moraes, e a trilha sonora dos capítulos. “A Picucha vai escutar muita música brasileira, como Cartola, Vinicius de Moraes e Chico Buarque. É ótimo poder mostrar a riqueza das nossas canções no horário nobre”, afirma.
No primeiro episódio de “Doce de Mãe”, Picucha descobriu que seu marido – “era um professor universitário, coitado”- já morto, teve uma filha fora do casamento. Não bastasse a surpresa, ela vai se assustar ainda mais quando souber que a tal moça está namorando o seu filho Sílvio (Marco Ricca) e terá de interferir.
A desconfiança de que a personagem seja filha do marido morto surgiu depois que ela encontrou, nos antigos pertences dele, alguns recibos mensais, sempre com o mesmo valor, destinados a um curso de medicina em nome de Rosalinda Bauer.
Picucha logo ligou os pontos e percebeu que se trata do mesmo sobrenome da antiga babá da filha Suzana (Mariana Lima) que o marido despediu de uma hora para outra. “Essa busca pela verdade sobre Rosa foi um dos motes do primeiro programa e mostrou o lado mais humano de Picucha. Ela não foi atrás da moça por vingança, mas movida por um senso de justiça: querer compensá-la de algum jeito, até materialmente, alugando seu apartamento por um baixo custo para a moça.
No segundo programa o namoro da moça com seu filho deve começar, e como vocês podem bem imaginar, Picucha fará de tudo para separar Sílvio de Rosa, já que ambos podem ser irmãos. “Nessa trama, quanto mais mal-entendidos, melhor. O engraçado é que, quanto mais a Rosa desejar, por exemplo, transar com o possível irmão, mais divertidos vão ficar esses encontros e desencontros entre os dois”, revela Drica Moraes.
Depois disso, você vai perder esse “Doce de Mãe”? O seriado vai ao ar toda quinta-feira, logo após o Big Brother Brasil.
Trailer: Acesse Aqui
Referências
OTEMPO (2013). Doce de Mãe. Disponível Aqui. Acesso em 30/01/2014.