A felicidade diminui com a idade e com a falta de educação, de acordo com o Observatório da Dívida Social da Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA) e da Fundação Navarro Viola. Os idosos que perderam um cônjuge ou vivem sozinhos são menos propensos a serem felizes do que aqueles que vivem em companhia de outros.
A Argentina é um dos países com o maior número de idosos na América Latina. De acordo com o Censo de 2010, o país tem mais de 10,2% de pessoas acima de 65 anos. Daqui a 15 anos a população chegará a 12,7% e, em 2050, a 19%, quando o número de idosos será maior ao de crianças e adolescentes com menos de 15 anos.
Este fenômeno, registrado em todo o Ocidente, começa a ser visto no continente latino-americano. O mundo está em envelhecimento. A fim de se construir novos significados para a vida que a cada dia se torna mais longa, o Observatório da Dívida Social da Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA) e a Fundação Navarro Viola, ouviram os velhos de hoje a respeito de como se sentiam satisfeitos, ou não, com a vida que levavam.
Existem diferentes formas de se envelhecer ou oportunidades desiguais para se ter uma velhice digna? Esta foi a questão principal da pesquisa realizada recentemente em Buenos Aires. O resultado do estudo revela que 15,4% dos idosos expressam sentimentos de infelicidade. Revela ainda que quanto mais velhos, mais longe estão da felicidade.
A pesquisa partiu do pressuposto de que a felicidade é o objetivo perseguido por cada homem, reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Pela Resolução nº 66/281, considerada uma aspiração universal entre os objetivos da política pública. No entanto, à medida que se envelhece a felicidade é menos frequente. Ela está relacionada com a falta de recursos, mas principalmente com a ausência de um “outro”. Os idosos que perderam um cônjuge ou vivem sozinhos são menos propensos a serem felizes do que aqueles que vivem em companhia de alguém.
Dos entrevistados, 17,5%, todos com 75 anos para cima, expressaram estar mais infelizes do que aqueles com 60 e 74 anos (14,6%), demonstrando que a infelicidade tende a aumentar com o envelhecimento, embora o estudo tenha entrevistado idosos bem idosos que declararam estar satisfeitos com suas vidas ou muito felizes.
O estudo revela ainda que há uma pequena diferença entre homens e mulheres. Os homens se sentem menos infelizes do que as mulheres. A diferença de fato encontrada está no nível educacional. De acordo com o estudo, quanto menor a escolaridade (até o ensino fundamental) maior é a infelicidade (17,5%) em comparação com aqueles que completaram o ensino fundamental (12,1%). Essa lacuna é menos importante entre as pessoas com mais de 75 anos. O estudo destaca que em geral as pessoas nascidas antes de 1955 não tiveram tantas oportunidades educacionais como as mais jovens. Apenas 27,7% das pessoas com mais de 60 concluíram o ensino fundamental, a maioria (72,3%) não. O estudo destaca ainda que, embora a infelicidade seja mais acentuada nos níveis socioeconômicos mais baixos, é quase duas vezes maior nos níveis socioeconômicos mais altos. Os resultados são atravessados pela satisfação de necessidades básicas, como saúde e moradia.
Um dado do estudo que chama a atenção é que o maior grau de descontentamento está nas pessoas idosas que vivem sós (21,8%): solteiras, viúvas e separadas. O viver só é o fator que mais influencia na infelicidade, mais do que o nível socioeconômico. Na Argentina, uma a cada cinco pessoas idosas vive só.
Para Enrique Valiente Noailles, advogado e presidente da Fundação Navarro Viola, uma das explicações para a infelicidade, especialmente entre os mais velhos, é que que as sociedades contemporâneas introjetaram a produção como o principal valor da vida, criando assim um valor negativo profundo naqueles que estão fora dela, como inativos. Esta sensação é agravada pelas baixas aposentadorias recebidas, o que não é suficiente para se viver uma vida decente.
Diego Aguilar, psicólogo da Fundação Leon, trabalha em dois projetos com idosos, e em sua experiência observa que a felicidade das pessoas mais velhas está em se relacionar mais com os outros, do que com dinheiro. Ele assinala que convive com muitos voluntários idosos que chegam muito tristes porque enfrentam o “ninho vazio”, ou aposentadoria. O fato de ajudarem outras pessoas melhora sua sensação de felicidade, sentindo-se de novo inseridos na sociedade e tendo satisfação em se sentirem úteis. Segundo ele, a felicidade em pessoas mais idosas está ligada à capacidade de iniciar novos projetos.
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