A pesquisa Qualidade de vida de um grupo de cuidadores familiares de portadores de doença de Alzheimer, de Cristiane de Fátima Travensolo – fisioterapeuta e mestre em Gerontologia -, de mestrado em Gerontologia na PUC-SP, foi realizada com cuidadores familiares de portadores de Doença de Alzheimer (DA) que frequentaram as reuniões promovidas pela Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ), em São Paulo.
Beltrina Côrte
Segundo a pesquisadora, a figura do cuidador é imprescindível frente à perda de autonomia e independência do portador de Alzheimer, que se torna incapaz de decidir sobre sua vida, ocorrendo uma verdadeira inversão de papéis. Diante desse quadro, o cuidador familiar se vê obrigado a reorganizar sua rotina, podendo advir desta situação a sobrecarga física e emocional.
Por isso ela quis conhecer e analisar a influência do desempenho de cuidar de portadores de DA na qualidade de vida do cuidador familiar, uma vez que com o progressivo aumento do número de idosos no Brasil, tende a aumentar o número de pessoas com a Doença de Alzheimer e, consequentemente, afetar a qualidade de vida dos seus cuidadores caso a sociedade e o estado não fortaleçam as redes de suporte.
Cristiane de Fátima Travensolo hoje é professora titular do Centro Universitário Filadélfia (Unifil), Londrina (PR), e membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Respostas Cardiovasculares e Exercício (GECardio). É grande colaboradora do Portal do Envelhecimento desde seu lançamento. Vamos à entrevista.
Por que decidiu fazer mestrado sobre envelhecimento?
Por se tratar de um tema de estudo que ia aprimorar meus conhecimentos profissionais e também pessoais. Na ocasião eu estava concluindo uma especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória no InCor-USP, onde tive a oportunidade de me aprofundar bastante em temas específicos de fisioterapia respiratória e me preparava para retornar a Londrina – PR. Conversando com amigos que cursavam o Mestrado em Gerontologia da PUC (quero destacar o Carlos Alberto Moraes – In Memorian) me interessei bastante pelo programa como forma de ampliar o leque de opções profissionais.
Como se decidiu pelo seu tema de pesquisa e como foi o seu desenvolvimento?
O tema cuidador sempre me motivou bastante pelo contato que tinha profissionalmente, no ambiente hospitalar, domiciliar e em instituições para idosos. Na vida familiar pude acompanhar de perto as dificuldades enfrentadas pelo cuidador quando uma pessoa da família com Doença de Alzheimer adoeceu e faleceu. A pesquisa foi realizada sob orientação da Dra. Ursula Karsch e teve como tema central a investigação da qualidade de vida de cuidadores de idosos dependentes no ambiente domiciliar. Foram entrevistados sete cuidadores familiares de pessoas com Doença de Alzheimer que participavam das reuniões promovidas pela Associação Brasileira de Alzheimer – ABRAz e que aceitaram participar da pesquisa. Foi utilizado um questionário semiestruturado e as respostas foram gravadas. Posteriormente as respostas foram transcritas e analisadas na busca pelas estratégias de enfrentamento utilizadas pelos cuidadores.
Que desdobramentos acha que esta pesquisa teve na prática ou ainda terá?
Após o retorno a Londrina tive a oportunidade de participar de um grupo que promovia encontros com cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e convidava profissionais da cidade para falar de temas voltados à saúde dos idosos e cuidadores. No Centro Universitário Filadélfia – Unifil- onde leciono, procuro estimular os alunos a pensarem no tema envelhecimento humano, dentro da disciplina de fisioterapia aplicada à geriatria e em cursos de extensão à comunidade que participo.
Por algum motivo acha que a sociedade ainda não está preparada para implementar, na prática, o que você discute na pesquisa?
O resultado mais relevante encontrado na pesquisa foi que os cuidadores familiares necessitam de suporte. Cada um encontrou maneiras de enfrentar a situação difícil que era cuidar de um familiar com Doença de Alzheimer, seja através da religiosidade, lazer, família, dentre outros, porém problemas de saúde dos cuidadores, principalmente do cuidador idoso, que apareceram ou se agravaram em decorrência da tarefa de cuidar, mostraram que o suporte da sociedade é fundamental. Acredito que a sociedade brasileira precisa avançar bastante no tema envelhecimento para lidar com o aumento do número de idosos da forma mais abrangente possível.
O que o mestrado e a pesquisa acrescentaram em sua vida pessoal e profissional?
Na parte profissional o mestrado me permitiu ingressar na vida acadêmica, ministrando aulas na graduação e futuramente após concluir o doutorado que estou iniciando em 2012 pretendo dar aulas em cursos de especialização e quem sabe programas de mestrado também. Pretendo fazer a pesquisa do doutorado da melhor maneira possível e adquirir ferramentas para me tornar uma pesquisadora mais autônoma. Na vida pessoal estudar temas relacionados ao envelhecimento, principalmente atividade física em idosos, tem me ajudado a encarar meu próprio envelhecimento de uma maneira mais ativa e positiva.
Quais os principais desafios que enfrentou durante o desenvolvimento da pesquisa?
Cada etapa de desenvolvimento da pesquisa teve desafios que foram sendo superados com a ajuda da orientadora, mas as entrevistas foram a parte mais delicada do estudo.
Sua pesquisa traz uma discussão importante. De que forma acha que ela contribui para a cultura da longevidade?
Penso que o tema: qualidade de vida do cuidador familiar de idosos dependentes nos faz pensar que os idosos constituem uma população muito heterogênea, onde temos na sociedade idosos desde atletas até totalmente dependentes, e a nossa sociedade deverá se capacitar para atender toda a demanda que a longevidade trouxe.
O que diria para quem está começando a estudar na área?
Para perseverar.
O que não teve no mestrado e sentiu falta?
Na ocasião em que fiz o mestrado na PUC tinha pouquíssima experiência com pesquisa, mas agora vejo claramente que o maior corpo de pesquisas da área da saúde (em que faço parte) é realizado com método quantitativo. Como conclui o mestrado em 2003 não sei se houveram mudanças na grade curricular do programa, mas se não, sugiro fortemente a inclusão de metodologia de pesquisa quantitativa e estatística nas disciplinas do programa.
Saiba mais
Curríclo Lattes de Cristiane de Fátima Travensolo: Disponível Aqui. E-mail: [email protected]