Efigênia selecionou Campinas e Belém para avaliar as relações entre condições de gênero, idade e renda familiar de idosos. O objetivo foi traçar um perfil dos idosos residentes nos dois municípios, descrevendo as condições de saúde e de satisfação com a vida. Independentemente do nível de desenvolvimento social das amostras das duas cidades, as condições socioeconômicas sugeriram interferências no envelhecimento, às vezes protegendo e outras precipitando os riscos nessa fase.Preocupação com vida ativa e autônoma predomina.
Isabel Gardenal Foto: Antônio Scarpinetti. Edição de Imagens: Fabio Reis
Estudo de doutorado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) com uma população de 1.247 pessoas com mais de 65 anos, dos municípios de Campinas-SP e de Belém-PA, concluiu que a percepção desses idosos sobre a sua própria saúde, o seu desempenho funcional e a sua satisfação com a vida atuou como amortecedor para os efeitos dos riscos sobre a funcionalidade. A pesquisa, de Efigênia Passarelli Mantovani, também constatou que essa população demonstrou muita preocupação com a manutenção de uma vida ativa e autônoma.
Por outro lado, segundo a estudiosa, independentemente do nível de desenvolvimento social das amostras das duas cidades, as condições socioeconômicas sugeriram interferências no envelhecimento, às vezes protegendo e outras precipitando os riscos nessa fase. A tese, desenvolvida no formato de três artigos, foi defendida no programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e teve orientação do professor Sérgio Roberto de Lucca.
A pesquisadora empregou como base parte dos resultados obtidos do projeto Fibra (Fragilidade em Idosos Brasileiros), polo Unicamp, uma pesquisa nacional feita a partir de 2008, envolvendo 3.478 idosos residentes em sete cidades brasileiras: Campinas-SP, Belém-PA, Ivoti-Rio Grande do Sul, Poços de Caldas-Minas Gerais, Ermelino Matarazzo-SP, Campina Grande-PB e Parnaíba-PI. O projeto contou com a coordenação-geral da professora Anita Liberalesso Neri, do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da FCM.
Efigênia selecionou Campinas e Belém para avaliar as relações entre condições de gênero, idade e renda familiar desses idosos. O objetivo foi traçar um perfil dos idosos residentes nos dois municípios, descrevendo as condições de saúde e de satisfação com a vida.
Essas duas cidades foram escolhidas pelo fato de terem mais de 1 milhão de habitantes e de serem populações diferenciadas em termos de condições de desenvolvimento econômico. Enquanto o PIB per capita de Campinas, entre 2008 e 2009, era de R$ 29.731, 00, o de Belém era de R$ 9.793,00.
A amostra foi composta de 676 idosos de Campinas e de 571 de Belém, de ambos os sexos. Em Campinas, 54% deles apresentavam uma renda superior a três salários mínimos. Em Belém, 65,5% da amostra tinha uma renda familiar de menos de um a três salários mínimos. “Esses dados refletiram que, na renda média mais elevada de Campinas, é possível supor que as condições estruturais da sociedade contribuem fortemente para o padrão de vida melhor de seus moradores”, explicou.
Questões
Efigênia analisou questões abertas sobre velhice saudável e velhice feliz. Tanto para o conceito de velhice saudável como para o conceito de felicidade, a expressão mais citada pelos avaliados foi saúde. “Logo, boa saúde constitui-se um elemento-chave de uma vida longa e com autonomia para esses idosos”.
Saúde e funcionalidade foram motivos de forte preocupação para os idosos. Mas, em ambas as cidades, eles se declararam muito satisfeitos com as relações familiares e de amizade, e com a capacidade de resolver situações do dia a dia.
Quanto ao item satisfação, Efigênia observou que, “curiosamente, às vezes o idoso apresentava várias doenças, mas, quando se comparava com outros idosos da mesma idade, ele julgava sua saúde melhor”, disse.
Quando Efigênia estudou a avaliação da saúde nas duas amostras, essa autoavaliação associou-se à baixa escolaridade, três ou mais doenças crônicas e défice visual. Foram notadas associações adicionais com fadiga, três ou mais sinais e sintomas de saúde – como incontinência urinária e fecal, problemas de mastigação, sintomas depressivos e outros –, uso de serviços públicos de saúde e depressão.
Ao avaliar o número de doenças e a capacidade funcional, a pesquisadora verificou que, em Campinas, os idosos que não citaram doenças crônicas ou que relataram apenas uma ou duas estavam muito satisfeitos com a vida em comparação a outros da mesma idade e também com a capacidade de resolver problemas, com as amizades, com o ambiente, com o serviço de saúde e com o transporte. Já em Belém, para os mesmos parâmetros, os idosos se intitularam satisfeitos com a vida de uma forma geral, não se atendo a aspectos específicos.
Conforme a estudiosa, os idosos campineiros relataram mais acesso ao sistema cooperativo de assistência médica (convênios) e os de Belém um uso predominante dos serviços públicos (principalmente do Sistema Único de Saúde – SUS).
Em Campinas, os que tiveram melhor desempenho num teste de marcha demonstraram maior nível de satisfação com a vida, com a capacidade de resolver problemas do dia a dia e também com as amizades. Alta força de preensão palmar também correspondeu a maior satisfação para resolver os problemas do dia a dia.
Em Belém, os que exibiram melhor desempenho na marcha tiveram um nível mais elevado de satisfação com a memória para resolver situações do dia a dia. “A motivação foi maior para sair, encontrar grupos de amizade, utilizar os meios de transporte e resolução de problemas do cotidiano”, descreveu.
Para Efigênia, os resultados da sua investigação deixaram claro que ações de curto prazo devem ser orientadas pela efetivação de políticas públicas ao segmento idoso. “Então os serviços e os programas devem focalizar os idosos, principalmente aqueles com sinais sugestivos de vulnerabilidade social e em saúde”, defendeu.
Na sua opinião, em médio prazo, as ações devem incluir planejamento de serviços que abranjam grupos de convivência, instituições de longa permanência e cuidados que os idosos necessitam. Em longo prazo, é preciso planejar e avaliar ações de educação e de saúde para crianças, jovens e adultos, a fim de lhes garantir um envelhecimento melhor.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013 eram 21,6 milhões de idosos no Brasil com idade igual ou superior a 60 anos. As estimativas para 2050 é de que o número de idosos centenários chegue a 2,2 milhões. Em 1999, eram 145 mil, número que deve aumentar 15 vezes até 2050, sinalizou Efigênia, que é profissional de educação física e que trabalha com idosos em faculdades de terceira idade e em instituições de longa permanência.
Tese
“Satisfação com a vida, condições e autoavaliação da saúde entre idosos residentes na comunidade” é o título da tese de doutorado de Efigênia Passarelli Mantovani, que teve como orientador o professor Sérgio Roberto de Lucca, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Disponível Aqui