Envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais do ser humano. São mudanças que fazem parte de um processo de vida individual que têm como ciclo: nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento e morte.
As transformações decorrentes desse processo têm suas próprias peculiaridades, relacionadas com as características genéticas, estilo de vida e forma como cada indivíduo lida, trata e se relaciona com os recursos do meio.
Ao ler a Dissertação de Mestrado “Caixa lúdica para idosos: uma nova proposta psicodiagnóstica”, de Leonardi (2011), pensa-se imediatamente na Caixa de Pandora (Bulfinch, 2002), aquela descrita através do mito de Prometeu e Pandora, que escondia elementos malignos e benignos, como a esperança.
Conta a Mitologia que Prometeu – que habitou a Terra antes do homem -, juntamente com o seu irmão Epimeteu, atribuiu aos animais coragem, força, rapidez, sagacidade, asas a uns, garras a outros… Quando chegou a vez do homem, como não havia sobrado nada de especial, trouxe o fogo, assegurando aos homens sua superioridade.
Quando chegou o momento da mulher ser criada, uma versão do mito conta que Júpiter criou Pandora para punir Prometeu pela ousadia de ter roubado o fogo do céu. Ela foi oferecida a Epimeteu que a aceitou. Ele tinha uma caixa na qual guardava artigos malignos e, Pandora tomada pela curiosidade, um dia destampou esta caixa e escaparam assim pragas que atingiram o homem. Pandora tentou tampar a caixa, mas tudo escapara, exceto a esperança.
Outra versão conta que Pandora foi mandada por Júpiter com a boa intenção de agradar o homem e como presente de casamento, ela ganhou uma caixa em que cada Deus havia colocado um bem. Quando ela abriu, todos os bens escaparam, exceto a esperança. Dizem que esta é a versão mais aceita, pois, afinal, como a esperança – algo tão precioso – poderia estar misturada com outros males?
Na verdade, nesta misteriosa caixa, muitos conteúdos estão misturados, os bons, os maus e todos, ou a maior parte, incompreensíveis para nós seres humanos, incompletos nas nossas certezas e completos nas nossas dúvidas.
Com o envelhecimento, estas questões, talvez, fiquem em evidência e não encontrem uma forma de encontrar seu caminho. Assim como a descoberta dos mistérios da Caixa de Pandora, a “Caixa lúdica para idosos na sua proposta psicodiagnóstica”, parece um importante recurso para investigar as condições que interferem no bem-estar na senescência e os fatores associados à saúde dos idosos.
Leonardi (2011) explica “O processo de diagnóstico psicodinâmico envolve uma situação bi-pessoal, com duração limitada de aproximadamente três encontros com o objetivo de descrição e compreensão da personalidade do participante, a mais completa e profunda possível. O objetivo do trabalho é o desenvolvimento de uma nova técnica de intervenção psicodinâmica, a caixa lúdica para idosos.”
Tendo como base a caixa lúdica infantil, “a técnica proposta possibilitou que cada um dos idosos depositasse em uma caixa vazia objetos de sua preferência, permitindo a expressão simbólica de conteúdos do mundo interno, circunstâncias de sua história pessoal e do grupo familiar e etário. Participaram da pesquisa oito idosos, distribuídos da seguinte forma: dois do Hospital Universitário da USP; dois da Universidade Aberta à Terceira Idade; dois de Instituição Asilar Particular; e dois da Clínica Psicológica Durval Marcondes, do IPUSP.
Com relação aos intrumentos, Leonardi explica que “Foram utilizados a entrevista psicodiagnóstica semiestruturada; o mini-mental; a caixa lúdica para idosos; e a entrevista devolutiva.
Segundo a pesquisadora, a utilização da caixa lúdica como proposta psicodiagnóstica, “permitiu aos idosos a livre expressão de seu mundo interno através da manifestação de vivências, recordações, fantasias representadas pelos desejos inconscientes; medo, ansiedade e mecanismos de defesa. Além disso, o procedimento da caixa lúdica para idosos favorece a espontaneidade, a criatividade, a ousadia, a sensibilidade, o insight sobre novos sentidos para a história de vida, novas significações e a livre expressão de fantasias inconscientes, contribuindo assim para melhorar a compreensão psicodinâmica do idoso”.
Utilizado tanto para crianças como para idosos (Dissertação – Leonardo (2011)), a caixa lúdica, conforme explica, Arminda Aberastury (1992), representa o mundo interno da criança, o mundo não verbal, contendo as representações inconscientes e as relações com seus objetos. O uso da caixa privilegiando o jogo e o brinquedo (para os pequenos ou para os grandes) torna-se valioso recurso porque difere do discurso verbal onde o sujeito tem a possibilidade de modificar o seu discurso através das defesas que se organizam para impedir que venha a tona algo que traga sofrimento.
Referências
ABERASTURY, A. (1992). A criança e seus jogos. Porto Alegre: Artes Médicas.
BULFINCH, T. (2002). O livro de ouro da Mitologia: história de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Ediouro.
LEONARDI, L.C. (2011). Caixa lúdica para idosos: uma nova proposta psicodiagnóstica. Disponível Aqui. Acesso em 21/10/2011.