A doença de Parkinson é considerada uma doença degenerativa do sistema nervoso central, onde ocorre perda da substância negra do cérebro, local onde existem neurônios responsáveis pelos movimentos do nosso corpo. Sua progressão é lenta e até os dias de hoje não possui uma causa conhecida, ela acomete ambos os sexos e geralmente pessoas acima dos 60 anos, em alguns casos raros antes dos 60 anos e 50 anos. No mundo, a estimativa é que exista seis milhões de pessoas com a doença. No Brasil, a prevalência é de 100/200 casos para cada 100 mil habitantes.
Simone de Cássia Freitas Manzaro(*)
“O meu maior temor, virou o seu tremor”!
“Ele sempre foi um homem ativo, descendente de família italiana tradicional, trabalhou desde muito jovem na lavoura no interior de São Paulo… lembro-me até hoje do seu jeito único de comer macarronada, ‘a macarronada da nonna’, logo depois dava uma bela limpada na boca com a toalha branca da mesa. Como não se lembrar do patê de azeitonas pretas, o seu favorito. E das previsões do tempo? Ah, o senhor nunca errava. É, ao longo dos seus 80 anos, jamais imaginei que essa doença seria sua parceira no fim da vida… Em uma época em que a doença era pouco divulgada, não se sabia o que fazer nem como agir…Fazíamos questão de sua companhia à mesa mesmo que ele se sentisse triste por conta da comida que caía e espalhava-se sobre a toalha, por isso ele preferia se isolar…O que não sabíamos é que sua partida estava tão próxima… Saudades do meu avô”.
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É dessa forma que começo o meu artigo, falando um pouco da trajetória do meu avô que teve a Doença de Parkinson em uma época em que a informação sobre ela era pouco divulgada. O carinho e respeito na minha prática profissional com idosos vieram de uma dor pessoal, que fez todo sentido quando eu menos esperei.
Quantas e tantas vezes durante nossa vida, pegamo-nos pensando sobre como será nosso futuro? Será que seremos ativos? Será que vamos realizar todas as viagens que sonhamos, todos os almoços de domingo com nossa família, será que seremos acometidos por alguma doença?
Cada vez mais casos de demências são diagnosticados na população com idade mais avançada.
Além da Doença de Alzheimer que é a demência mais incidente na população, temos também em segundo lugar a Doença de Parkinson. No mundo, a estimativa é que exista seis milhões de pessoas com a doença. No Brasil, a prevalência é de 100/200 casos para cada 100 mil habitantes.
A Doença de Parkinson (DP) foi descrita em 1817 pelo médico inglês James Parkinson que, na época, publicou um artigo sobre uma doença chamada “paralisia agitante”, vindo a ser denominada Doença de Parkinson logo depois. Outro médico, o francês Charcot, foi quem desempenhou um papel importante na descrição da doença, inutilizando o termo ‘paralisia’ e descrevendo sintomas de rigidez, lentidão de movimentos, bradicinesia, distúrbios da fala, entre outros, e também foi quem introduziu a primeira droga para amenizar os efeitos da doença.
A DP é um tipo de demência, e é considerada uma doença degenerativa do sistema nervoso central, onde ocorre perda da substância negra do cérebro, local onde existem neurônios responsáveis pelos movimentos do nosso corpo. Sua progressão é lenta e até os dias de hoje não possui uma causa conhecida, ela acomete ambos os sexos e geralmente pessoas acima dos 60 anos, em alguns casos raros antes dos 60 anos e 50 anos.
A doença tem como sintomas característicos a presença de tremores, rigidez, instabilidade postural, alteração no equilíbrio, na voz, distúrbios do sono e, com o seu avanço, podem aparecer dificuldades na deglutição e também déficits de memória, quando não outra demência associada. Seu diagnóstico é feito por exclusão, ou seja, através de outros exames descarta-se a possibilidade de doenças orgânicas e cerebrais que podem produzir sintomas parecidos.
É Doença não Mal
Sim, sei que me perguntarão por que não uso a denominação “Mal de Parkinson”. Ora, porque o uso da palavra “mal” traz alusões errôneas em torno da doença, podendo acentuar aspectos inexistentes, confundir os leigos e rotular as pessoas que são acometidas pela doença. Não existe um Mal, existe uma doença, que precisamos tratar e cuidar.
Infelizmente, a doença ainda não tem uma cura, existindo no momento o tratamento medicamentoso para alívio dos sintomas e algumas cirurgias para controle dos sintomas.
A Psicologia dentro deste contexto atua como uma mediadora do diálogo entre paciente X família X profissionais de saúde; colabora para o entendimento sobre a doença bem como aceitação; cria estratégias para lidar com o paciente no dia a dia, estabelecendo uma rotina; realiza reabilitação neurológica a fim de estimular funções comprometidas; ajuda e orienta sobre mudanças funcionais e estruturais no lar bem como auxilia na reorganização de novos papéis familiares; presta auxílio psicológico e suporte à família e ao cuidador que tanto necessitam de apoio. O papel do psicólogo é acompanhar esse ser humano em um dado momento da sua vida onde tudo parece caminhar para um fim e, ajudá-lo a adotar a postura “Hoje farei o meu melhor”.
O principal objetivo é, sabendo das capacidades perdidas da pessoa, auxiliá-la naquilo que ainda pode ser realizado, fazendo com que mesmo momentaneamente, os sintomas possam ser esquecidos.
Os cuidados mencionados colaboram para que a pessoa com Parkinson possa ter o máximo de qualidade de vida, promovendo a ela autonomia, enquanto esta ainda existir.
Neste momento, só o amor sabe o que é possível fazer!
“Ah, se só por um minuto, pudéssemos ter a chance de voltar no tempo com toda a experiência e conhecimento de hoje, para fazer tudo diferente”.
Em homenagem ao meu saudoso e querido avô Constantino Manzaro, uma saudade sem fim e, ao meu querido amigo Emílio João Mazzetto, que fizeram sua partida cedo demais em nossas vidas (In Memorian).
(*) Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, realiza atendimento psicológico de adultos e idosos. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer-ABRAz. Possui experiência em estimulação cognitiva para pacientes com demências, principalmente Demência de Alzheimer; atua também com estimulação cognitiva preventiva; Realiza consultoria gerontológica, orientando familiares e cuidadores, criando estratégias e atividades para lidar com o paciente no dia a dia, supervisionando treinamento prático. É membro colaborador do site Portal do Envelhecimento. Email: simonemanzaro@gmail.com