Vamos celebrar a vida! Coloquem sua fantasia e vamos dançar! Esta foi a frase mais repetida durante os preparativos da festa junina realizada no CREMI – Centro de Referência da Melhor Idade em Caraguatatuba.
Divina de Fátima dos Santos *
Todos estavam muitos ansiosos para o dia da festa, que contou com vários ensaios de teatro, música e dança tendo como atores protagonistas os próprios idosos, que se divertiam, se alegravam e certamente celebravam grandes momentos de pura alegria e descontração, inclusive com recordação de bons momentos de suas vidas vividas.
Ali estavam muitos profissionais e voluntários, amigos, enfim, muita gente dedicando-se para o sucesso da realização do evento que simbolicamente permitiu fazer um balanço dos trabalhos direcionados ao público envelhescente da região.
“Não é uma simples festa, é um marco que nos permite avaliar como nosso trabalho esta repercutindo em nossa comunidade e assim conquistarmos novas adesões, visibilidade, respeito e apoio para com a pessoa idosa em nossa região”: estas foram as palavras de Marta Borges, uma das pessoas responsáveis pelo evento e coordenadora do CREMI, mas ela não estava sozinha, pois contou com a disposição de toda a sua equipe de profissionais que trabalharam duro para que cada idoso pudesse participar da sua própria maneira da festa.
“Eu até já comprei meu vestido, quero me divertir, pois aqui posso fazer o que tenho vontade sem que meus filhos se preocupem comigo” disse Maria (67 anos). Com essa fala ela contagiou a colega desanimada que, afirmava não gostar de dançar, mas que prestigiaria o evento para que as colegas se divertissem.
Aproveitamos os preparativos dessa festa para conversar mais proximamente com alguns idosos, para entender um pouco mais sobre as razões que os movem até este lugar e sobre suas histórias de vida. As respostas foram variadas. Alguns afirmavam que se fantasiar com roupas caipiras e maquiagem era bobagem, coisa de criança. Mas para a grande maioria dos idosos era momento de brincar. Para se divertir não tem idade! “A gente se diverte como uma pessoa velha e não como criança, cada uma a sua maneira” disse uma senhora idosa que cantarolou muito no evento em que tivemos um belo casamento celebrado com padre e todo requinte.
Mas para se ter uma vida longa, é preciso ser alegre o tempo todo? Estar sempre disposto? Especialistas no assunto afirmam que fatores como herança genética, alimentação saudável, atividade física e qualidade de vida, entre tantas outras coisas, podem nos dar uma possível resposta para que algumas pessoas sejam agraciadas e possam ter uma vida longeva. O estilo de vida de cada ser humano e essencial para se viver muitos anos. Mas isso é bem particular. Uma pessoa pode ser tímida, extrovertida, recatada ou extravagante, não importa! O que para alguns é alegria e muito significativo, para outros é tudo bobagem.
Para alguns dos idosos que frequentam o CREMI existem muitas explicações para se ter uma vida longa. A Sra. Mafalda, 83 anos, por exemplo, afirma que ser ativa e perseverante é sua principal receita. Ela que já é bisavó, afirma que hoje seu maior desejo é ser tataravó. Disse também que ao longo de sua vida sempre trabalhou muito e que ainda hoje trabalha como recepcionista, agendando reuniões e anotando recados no escritório de advocacia de um de seus filhos na cidade. Com esse trabalho sente-se muito bem e útil: quando está trabalhando a hora passa sem que se perceba. Ela disse que não participaria da festa junina do CREMI por questão dos limites físicos. Não consegue ficar em local agitado por muito tempo, devido às seqüelas de um acidente, preferindo a tranquilidade e segurança de sua casa.
A Sra. Otália de 91 anos compartilha com Mafalda quanto ao desejo de ser tataravó. Ela aproveitou muito bem a festa junina, dançou e brincou pra valer o quanto pode.
Mas ela não está sozinha, pois participa de tudo com sua incansável amiga Maria, de 67 anos. Juntas participaram com grande entusiasmo da festa junina do CREMI, dançaram, brincaram e se divertiram: “Quem canta os males espanta”. “A gente se sente bem aqui e tem sempre alguém para conversar” disse Maria.
A professora de dança sênior Maria José, de 63 anos, disse que se renova a cada dia de trabalho e que, por trabalhar com esse público, está se preparando para o próprio envelhecimento uma vez que aprende muito com o grande entusiasmos de seus alunos, vários deles na casa dos 80 anos. “Às vezes chego triste devido aos problemas pessoais, mas ao olhar para eles esqueço de tudo”. Sempre muito animada, participou com muita garra das quadrilhas estimulando seus alunos Acredita que sua convivência com idosos a preparará para a própria velhice.
Ainda não sabemos quais os segredos da longevidade, mas notamos que as pessoas perseverantes, flexíveis e positivas estão mais satisfeitas com a própria vida e encaram os desafios e as limitações da velhice com mais tranquilidade. Notamos também que a realização de uma festa popular, como no caso de uma festa junina, pode permitir aos idosos momentos de grande descontração, união e retorno às origens, pois podem compartilhar suas emoções com outros colegas, independentemente da idade.
Parabenizamos todas as pessoas que direta ou indiretamente colaboraram e permitiram a realização de mais um evento popular, tendo como protagonista o público idoso que certamente não esquecerá desse encontro.
* Divina de Fátima dos Santos é Mestre em Gerontologia Social e Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-SP. E-mail: [email protected]. Fotos: Divina de Fátima dos Santos