Por sermos velhos, não podemos nos sentir bem, alegre, feliz, satisfeito… sem ter que recorrer a eufemismos que empobrecem nosso ser?
David Zolotow (*)
Um domingo de manhã, na costa de Mar del Plata, um senhor mais velho estava na aula de patinação, duas pessoas de idade semelhante se aproximaram dele e parabenizaram, dizendo: “você é um homem jovem”, ele respondeu: Eu não sou um jovem, sou um velho descobrindo novas maneiras de envelhecer.
É uma prática generalizada usar expressões que aludem à juventude, em atividades, instituições e situações em que os idosos são os protagonistas. Expressões como: “juventude acumulada”, “segunda juventude”, “sou jovem porque frequento um programa universitário para idosos”, “na academia me dizem a eterna juventude”, “dirijo meu carro como um jovem”, etc.
Alguém se pergunta com que tipo de juventude querem se identificar? Com os jovens que estudam, com os trabalham, com os que cometem crimes, com os drogados, com os violentos, com os voluntários em instituições de bem comum, solidários ou egoístas, membros de gangue que vandalizam os espaços públicos, com os que colaboram com sua família, com os que vivem às custas disso, com os que gozam de boa saúde ou com os que frequentam diariamente centros de saúde?
A nomeação de jovens é suficiente para produzir transformações ou é outra forma de negação do processo de envelhecimento e de cair em preconceito contra essa faixa etária?
Outro aspecto que emerge em consonância com o anterior é quando pessoas mais velhas usam a expressão: “Eu me sinto jovem”, e embora no quesito emocional ou afetivo seja difícil objetivar e ainda mais quantificar, “quão jovem você se sente”, cabe aqui as mesmas perguntas anteriores, jovens: felizes, deprimidos, inquietos, apáticos, desorientados, angustiados, seguros de si, felizes, zangados.
Em ambos os aspectos quando questionados sobre toda a variedade de comportamentos e atitudes, as respostas são inclinadas para os aspectos positivos, deixando de lado as demais características. A pergunta é: por ser velho, não se pode se sentir bem, alegre, feliz, satisfeito, em sua maior condição, sem ter que recorrer a eufemismos que empobrecem seu ser?
Todos as etapas da nossa existência têm seus aspectos positivos e negativos, ignorar esta situação é um reducionismo empobrecedor, tanto para quem idealiza alguns estágios quanto para outros, neste caso, jovens ou juventude, assim como para aqueles que recusam a possibilidade de se reconhecerem em suas várias etapas da vida.
Uma outra forma de discriminação ou de auto discriminação, é ter internalizado os preconceitos contra a velhice e ignorar as possibilidades oferecidas por esta etapa da vida, bem como outras. Os preconceitos contra os idosos vêm de longa data e embora muitas organizações internacionais e nacionais, assim como os meios de comunicação, geralmente tentem evitar essas situações através de uma diversidade de ações, são os próprios idosos que podem com suas atitudes contribuir para diminuir e superar os preconceitos existentes.
Nesse sentido, a experiência dos últimos anos, os programas universitários para idosos ou PUAM, compartilhando nas salas de aula das universidades com alunos de outras idades tem facilitado intercâmbios e experiências favoráveis para todos, e demonstrado a falsidade na crença de que as pessoas mais velhas não podem aprender. Como também são ideias erradas que os idosos são assexuados, rígidos e de mau caráter.
Às vezes, são os profissionais ligados ao trabalho gerontológico os transmissores desses preconceitos, ao se referirem às conquistas ou conquistas dos idosos, como conquistas da segunda juventude, ou juventude prolongada, ignorando o potencial das pessoas mais velhas.
A sociedade precisa de todos os seus membros para se enriquecer e seguir fortalecendo-se, não é uma questão de competição entre diferentes gerações, mas de complementar os esforços a partir do reconhecimento das semelhanças e diferenças, sem ter que se assimilar a outros grupos, valorizando suas experiências e, no caso do velho, descobrindo novas formas de viver a velhice.
(*) Lic. David Zolotow, e-mail: [email protected]. Texto enviado da Argentina. Tradução livre.