Joana sempre tivera uma relação próxima com a sua irmã, Mafalda, mas com a morte da mãe, e posterior AVC do pai, tudo se desmoronou. No pós-operatório o pai foi viver para a casa de Joana, de onde nunca mais saiu. Joana assumiu todas as responsabilidades, desde a contratação da prestação de cuidados de higiene, à alimentação, esperando que Mafalda assumisse um papel mais activo. De facto não a consultava nas decisões, mas tinha um secreto desejo que a irmã se voluntariasse.
Carla Pacheco *
Uma das principais causas de conflito entre irmãos surge no momento de decisão sobre os cuidados a prestar aos pais. Muitas dinâmicas familiares entram em completa ruptura baseadas em sentimentos de injustiça ou resvalando nas questões financeiras relacionadas com heranças, impedindo que se tomem decisões ponderadas sobre a prestação de cuidados.
Joana sempre tivera uma relação próxima com a sua irmã, Mafalda, mas com a morte da mãe, e posterior AVC do pai, tudo se desmoronou. No pós-operatório o pai foi viver para a casa de Joana, de onde nunca mais saiu. Joana assumiu todas as responsabilidades, desde a contratação da prestação de cuidados de higiene, à alimentação, esperando que Mafalda assumisse um papel mais activo. De facto não a consultava nas decisões, mas tinha um secreto desejo que a irmã se voluntariasse. Por seu lado Mafalda pensava constantemente “nunca me pede opinião”. A falta de comunicação foi-se alastrando e quando chegaram as férias as irmãs estavam já de costas voltadas.
Frequentemente os irmãos que vivem distantes ficam automaticamente excluídos da prestação de cuidados, enquanto sobre os mais próximos recaem as responsabilidades no acompanhamento a consultas, compras, etc. Verificamos também que existe diferenciação em função do sexo, sendo as irmãs muitas vezes nomeadas para a função de cuidadora como se de algo natural se trata-se, já que esta não é uma actividade para homens. Por outro lado, os cuidadores manifestam sentimentos de frustração e cansaço pelo não reconhecimento dos irmãos sobre o trabalho desenvolvido.
Assistimos igualmente a contendas sobre a gestão do património dos pais. No mundo actual onde a disputa pelo dinheiro é constante, por vezes, a contratação de cuidados profissionais vê-se relegada para segundo plano em prol da poupança. Um filho que durante anos cuidou dos seus pais pode sentir direito a uma parte maior da herança. Por outro lado, os irmãos que estão distantes podem acreditar que quem cuida está a gastar mais dinheiro do que deveria.
Alexis Abramson autora do livro The caregiver’s survival Handbook diz-nos que quando os irmãos discutem sobre quem vai cuidar da mãe ou do pai ou se recusam a ajudar-se mutuamente na prestação de cuidados, verifica-se que o problema, normalmente, não está nos cuidados de saúde em si, mas nos conflitos e lutas de poder existentes desde a infância.
A chave para a resolução destas questões reside na comunicação. Ficam aqui algumas dicas que poderão ajudar à maior cooperação entre irmãos:
– Peça ajuda! Explique as suas necessidades. Afinal, pode ser que o seu irmão não faça a menor ideia do que para si é importante.
– Partilhe informação! Compile todos os elementos clínicos, legais, burocráticos, bancários, convoque uma reunião, para que a informação seja veiculada. Através das novas tecnologias, quem está longe também pode assistir.
– Divida responsabilidades! Cada um poderá assumir tarefas para as quais se sente mais vocacionado, assim um poderá ficar responsável pelo pagamento das contas e outro assumir o acompanhamento a consultas médicas.
– Actualize-se através de sites e fóruns! O que está a viver é comum nos dias de hoje. Encontrará dicas importantes para o seu caso em particular.
– Procure ajuda especializada! A simples contratação de prestação de cuidados de higiene para o pai que está acamado diminui a escalada de tensão entre irmãos. A intervenção de técnicos especializados serve para a mediação entre as partes.
– Não queira mudar o outro! Não é realista pensar-se que perante esta questão toda a família terá de estar unida, quando em muitos casos a divisão sempre existiu. Procure ser empático e escute atentamente as outras opiniões. Não assuma que detém a totalidade dos factos e que apenas a sua visão está correcta.
– Faça uma pausa! Parar, distanciar-se por um ou dois dias, poderá ajudá-lo a ponderar, a relativizar os factos, tomar melhores decisões e aceitar outras.
* Carla Pacheco – Psicóloga. Directora Técnica da Good4life| Family & Career Services. Porto/Portugal. Site: Acesse Aqui. Email: [email protected]