Os filhos estão preparados para cuidar dos pais, na velhice?

Os filhos estão preparados para cuidar dos pais, na velhice?

Como filha, confesso que não estou preparada para cuidar de meus pais na velhice, acho que preciso protegê-los, e penso até que já não podem ficar mais sozinhos.

Silvia Helena Americano (*)

 

É preciso pensar em algo mais, é preciso entender a velhice não como um problema, mas algo que nos apresente trazendo novas possibilidades, criando novos valores, dando importância ao que eu velho penso da vida e o que é realmente essencial para mim.

Os filhos nem sempre entendem que no processo de envelhecer virão fragilidades, perdas, doenças crônicas, mas que podem ser superadas pelo eu velho.

A família pode achar que eu velho não sou mais produtivo, pois resolvi viver como eu quero, não me importo mais com que os outros pensam, eu velho encontrei em cada etapa cronológica da minha velhice razão para de fato olhar para mim e descobrir que as dificuldades, os limites do meu corpo, ainda são superados.

Eu velho, ainda tenho o controle da minha vida, essa vida é a minha biografia, é a minha obra de arte.

Eu velho quero continuar morando aonde me sinto conectado com a minha história, encontrando meus vizinhos no café da tarde, saindo para dar uma voltinha com meu carro no bairro ou até levando meu cachorro para passear.

Eu velho, ainda quero me sentir ativo enquanto a minha saúde permitir, amo fazer as coisas, não tenho mais urgência, o tempo, as pessoas, meu aprendizado, meu auto conhecimento estão me ajudando a lidar com a minha velhice de um jeito mais feliz.

É como canta Almir Sater na música Tocando em Frente:

“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais Feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
Conhecer as manhãs
E as manhãs
O sabor das massas
E das maças
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente ….”

Eu, como filha, confesso que não estou preparada, penso que meus pais são vulneráveis quando saem na rua, enxergo fragilidades, mas parece que eles não percebem que já estão com dificuldades em se locomover, já engasgam ao engolir algum alimento, esquecem algumas palavras, acho que preciso protegê-los, penso até que já não podem ficar mais sozinhos.

Como posso me preparar para entender a fragilidade dos meus pais e valorizar positivamente?

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Ao envelhecer nos tornamos singulares. É natural da família diante da fragilidade tentar impor necessidades que não são dos nossos pais.

Agimos naturalmente, protegendo-os, fazendo escolhas que são favoráveis a nós familiares e acabamos esquecendo que é necessário ouvi-los, escutá-los, mas com delicadeza, com espírito leve, com respeito, relevando as possíveis mágoas, entendendo o tempo do outro e aí sim, quando necessários, assumindo o papel de cuidar, sim dos pais.

Muitas vezes haverá necessidade do familiar buscar conhecimentos práticos para poder dar atenção adequada diante de uma fragilidade maior no fim da vida.

Respeitar uma decisão que pode ser feita através de um testamento vital, jamais devemos esquecer que a vida precisa ser vivida dignamente em qualquer etapa e precisamos dialogar antes com os nossos pais para saber quais são as vontades deles, de como querem morrer enquanto ainda estão no controle da vida. E se o momento for de invertemos os papéis com os nossos pais é necessário que passamos a assumir com responsabilidade, com muito amor, assim estamos permitindo que eles continuem conectados com aquilo que ainda lhe proporcionam vínculos afetivos e de felicidade e afastando o sofrimento na etapa mais frágil da velhice.

 

(*) Silvia Americano – Formada em administração, carreira desenvolvida nas áreas de planejamento e comercial. Atualmente atua no mercado da terceira idade, com vendas de serviços de teleassistência – botão de emergência da empresa Telehelp, o que permite um contato direto com a terceira idade e a necessidade de buscar conhecimentos constantes para entender o processo de envelhecimento. Texto escrito para o curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, ministrado pelo Cogeae (PUC-SP), no primeiro semestre de 2018. Email: E-mail: [email protected]

 

 

 

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