Os efeitos das decisões de curto prazo no longo prazo nem sempre aparecem na eleição seguinte. Mas aparecerão, cedo ou tarde, com uma próxima pandemia, que ainda não sabemos onde e quanto irá começar, nem quando irá chegar às nossas terras.
“Governo deve gastar com a pandemia, neste ano, apenas 6% do que gastou em 2020” diz a manchete da matéria[1] do Brasil Econômico, datada de 18/01/2021. Dias depois, em 26/01/2021, outra matéria[2] – assinada por Vinicius Sassine – aborda que o “Governo corta benefícios fiscais para pesquisa científica e atinge projetos de Butantan e Fiocruz na pandemia” e que a “Cota de importação cai de US$ 300 mi para US$ 93,29 mi; valor é insuficiente para combate à pandemia, diz CNPq”.
Entre essas duas leituras, outra matéria[3], datada de 22/01/2021, também traz à tona um tema muitíssimo preocupante: “O outro vírus que preocupa a Ásia (e como os cientistas tentam evitar que provoque mais uma pandemia)”. Assinada por Harriet Constable, da BBC Future, coloca a pergunta no ar: qual será a próxima ameaça pandêmica após o coronavírus?
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A matéria destaca que a destruição ambiental na Ásia – complemento: e, quem sabe, não só lá, pois o que ainda não sabemos sobre a Floresta Amazônica? -, reflexo do crescimento urbano desenfreado e seus impactos sociais, econômicos e ambientais – que andam de mãos dadas -, poderá trazer novas consequências maléficas para a humanidade.
As matérias deixam questionamentos sobre os impactos das decisões alocativas de curto prazo – em que áreas do governo federal gasta o dinheiro arrecadado com os tributos dos cidadãos brasileiros no ano – e seus efeitos de longo prazo à população, em especial, população idosa brasileira. Corta-se dinheiro à ciência no ano e anos depois, uma pandemia exigirá muito mais gastos em saúde e previdência (pessoas aposentadas por invalidez permanente decorrente de danos à saúde como consequeência de efeitos de uma doença pandêmica. Esta será uma das contas que não fechará e “os juros e correção monetária” serão altíssimos.

Eu me lembro quando em março do ano passado algumas redes sociais começavam a destacar o que estava acontecendo lá China e lia respostas de internautas, em tom de pouco caso, afinal, era “lá na China”… em um mundo globalizado e interligado por aeroportos e portos, o “lá” não é tão distante como fora séculos atrás.
As pessoas idosas seguem em altíssimo risco pelo coronavírus. Com pouquíssimas vacinas e testagens, o risco aumenta quando se corta dinheiro da ciência. A conta chegará um dia e será alta.
Em termos políticos eleitorais, osefeitos das decisões de curto prazo no longo prazo nem sempre aparecem na eleição seguinte. Mas aparecerão, cedo ou tarde, com uma próxima pandemia, que ainda não sabemos onde e quanto irá começar, nem quando irá chegar às nossas terras.
Por isso, é prudente refletir e cobrar decisões alocativas dos políticos que administram o orçamento público, já que barreiras territoriais à movimentação humana não foram capazes de brecar o avanço de um vírus sem a ajuda da ciência.
Notas
[1] Disponível em: https://economia.ig.com.br/2021-01-18/governo-deve-gastar-ccom-a-pandemia-neste-ano-apenas-6-do-que-gastou-em-2020.html
[2] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/amp/equilibrioesaude/2021/01/governo-corta-beneficios-fiscais-para-pesquisa-cientifica-e-atinge-projetos-de-butantan-e-fiocruz-na-pandemia.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw&__twitter_impression=true
[3] Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-55710648
Foto de Pew Nguyen/Pexels
