Enquanto algumas mulheres e homens, independente da faixa etária que estejam, se isolam e tem na fragilidade sua principal característica, muitos outros decidem pela vida, pela independência e pelo caminho das possibilidades.
Inicialmente, os exemplos que veremos são daquelas que trilharam o caminho da beleza, do cuidado com a estética e da valorização do sentir-se bem, por dentro e por fora. Claro que para tudo isso nascer – o encontro com as próprias potencialidades – alguém especial aparece, o fotógrafo Ari Seth Cohen, de 31 anos.
Em 2008, o jovem artista deu início a um blog chamado Advanced Style (Estilo Avançado), em homenagem aos idosos de Nova York. Na época sua procura era pela artista de quase 90 anos que se vestia de forma ousada e que tinhas cabelos vermelhos chamativos e cílios postiços da mesma cor.
Parece estranho pensar numa senhora dessa idade com toda essa extravagância? Alguns diriam que sim, os habituados aos famosos “coques” da vovozinha – como se todas as mulheres, necessariamente, se tornassem na velhice, avós na cadeira de balanço com seu crochê, casaquinho e leitinho morno. As velhices podem sim ser muitas e é direito de cada um vivê-las como quiserem.
Sobre sua procura, Cohen diz: “Eu sabia que eu tinha de encontrá-la. Ela se parecia com os desenhos expressivos e coloridos de mulheres mais velhas que eu costumava desenhar quando era a criança”.
Ao longo de 18 meses, ele ficou de olho nas ruas e lojas da região do West Village, de Manhattan. “Então, um certo dia vi essa mulher em um conjunto de moleton e um maravilhoso cabelo vermelho solto ao vento caminhando pelas ruas. Eu sabia que era ela”.
Assim, aos 93 anos, Ilona Royce Smithkin se tornava a musa de um fotógrafo de moda, uma modelo de uma grife de fama mundial.
Conta a reportagem de Tamsin Smith (Blog transforma idosas estilosas em ícones da moda mundial) que cinco anos após o primeiro encontro de Cohen com Smithkin, a amizade entre eles já estava selada: “Cohen se senta em um sofá-cama ao lado da diminuta nonagenária. Seus sapatos lilás não alcançam o chão. Ela passou os últimos 60 anos neste quarto, cercada por suas pinturas, bugigangas, lenços e chapéus. Não há cozinha e só há um banheiro”.
Sem dar o braço a torcer para a fraqueza do corpo, Smithkin admite que, de vez em quando, subir os três lances de escada de seu prédio faz suas pernas doerem, mas só um pouco.
“Mas há coisas maravilhosas quando você fica mais velha. Quando eu era mais jovem, sempre me preocupava com a maneira com que eu me parecia, se as pessoas gostavam de mim ou não. Agora, eu realmente gosto de mim mesma, e estou usando meu lado criativo mais do que eu fazia há alguns anos”.
Esse desprendimento é uma, entre diversas formas, de encontrar o próprio jeito de encarar as mudanças do corpo, do espírito e porque não dizer a visão de mundo. Fácil? Com certeza não deve ser. As pessoas, em sua maioria, carecem de leveza, de olhos “calmos” para ver o tudo de bom e de ruim que a vida pode ofertar. E não me venham dizer que esse “tudo” é aprendizado!
Cohen comenta que ama o “estilo expressivo dela”. Para ele, “Smithkin causa sensação, mas não da maneira que minhas amigas mais jovens, que estão tentando tanto serem notadas”.
Ele exibe um pôster grande de uma de suas fotos. É um close de Smithkin, envolta em penas vermelhas que se confundem com o vermelho de seus cabelos. Ela usa óculos escuros enormes, característicos dos anos 60. Nos lábios, um batom vermelho brilhoso.
A foto não serve apenas para enfeitar sua parede. Ela está por aí, online, sendo usada para vender uma grife global e para superar um estereótipo. O delineador de olhos Karen Walker é usado por pessoas que se ligam em estilo e é voltado para um mercado jovem, mas sua mais recente campanha utiliza mulheres com idades de 80 a 93 anos do blog Estilo Avançado.
A campanha não apaga rugas e não disfarça manchas de idade. Não há qualquer intenção de fingir que as modelos têm menos idade do que aparentam: “Nós não queríamos fazer uma afirmação sobre idade. Queríamos fazer uma afirmação sobre otimismo”, afirmou a designer de óculos Karen Walker.
“A reação entusiasmada e unânime de nossos consumidores mais jovens têm sido a de se dizer inspirados pelo exemplo dessas mulheres e de afirmar que eles esperam chegar à idade delas da mesma maneira que elas. E os consumidores mais velhos estão contentes que os holofotes da moda foram apontados nessa direção”.
Joyce Carpati, 80 anos, ex-diretora de beleza, moda e publicidade da revista Cosmopolitan e uma das modelos de Cohen comenta: “Tudo até agora, exceto isso (a campanha publicitária da qual participa), foi voltado para a geração mais nova, mas até mesmo quando publicitários têm alguma ideia voltada para pessoas mais velhas, é sempre com algo voltado para retardar o envelhecimento”.
Carpati pensa sobre seu próprio processo de envelhecimento e decidi não remar contra ele, mas sim torna-lo amigável, ou seja, fazer as pazes com os muitos anos que a vida lhe deu. Ela diz detestar campanhas que falam em adiar os efeitos da velhice. “Elas enviam a mensagem errada. A certa deveria ser ‘seja linda a vida toda’ ou ‘fique linda para sempre’”!
Essa beleza vai muito além da casca, da estética perfeita que brilha até ofuscar. Se enganam os que pensam que os tratamentos e pílulas antienvelhecimento darão o caminho da felicidade.
Cohen e suas origens
O fotógrafo conta que sua avó materna foi sua melhor amiga e fonte de inspiração e é fascinado há anos por pessoas mais velhas e suas experiências.
A reportagem informa que muitas pessoas estão se identificando com o tema que fascinou Cohen há anos. Seu blog já registrou 10 milhões de hits, um livro com suas fotografias e um filme sobre sua atividade estão a caminho.
O fotógrafo conta o segredo de seu bem-sucedido trabalho: “Mas eu procuro sempre encontrar pessoas fortes e que se sintam bem com elas mesmas, porque sei que elas são inspiradoras para outras pessoas. Eu constantemente procuro por mulheres mais velhas que atravessam as ruas sem que ninguém as veja, mas eu percebo a maneira que ela colocou o seu lenço ou o seu chapéu”.
No meio da Rua 62, ele para, fascinado com uma senhora parada em uma porteira com uma bengala, cabelos grisalhos soltos sob um gorrinho. Debaixo de seu casaco marrom, um lampejo de amarelo canário: “Wow! Aposto que ela tem esse vestido desde a década de 50”, afirma Cohen, se posicionando ao lado dela.
É a sensibilidade reservada a poucos, um tino que identifica o detalhe, uma virada sutil, um olhar perdido. Pode parecer pouco, mas é nas coisas simples que se identifica a riqueza das pessoas.
Ele se apresenta a senhora educadamente e sua surpresa dá lugar a um sorriso. Momentos depois ele pede que ela desabotoe seu casaco e mostre seu vestido amarelo e começa a tirar fotos.
Ela abre um grande sorriso, como se ser fotografada por um fotógrafo de moda fosse algo perfeitamente normal de acontecer quando você tem 102 anos de idade.
E quem somos nós para falar de “normalidade”?
Novas e velhas histórias
Se as histórias de Smithkin e Carpati não foram suficientes, agora mostraremos as vinte senhoras, todas com mais de 60 anos, que cursam uma faculdade da terceira idade em Maceió e ainda resolveram fazer um calendário só com fotos sensuais. O motivo? Arrecadar dinheiro para uma ONG que ajuda pacientes com câncer.
Dona Zailde Ferreira, de 67 anos, uma das modelos do calendário disse: “Foi maravilhoso. A gente pode perceber que a vida não acaba depois que a gente faz 60 anos. É uma nova etapa nas nossas vidas”.
Já para a Dona Maristela o que valeu foi a autoestima que se transformou em uma gratificação pessoal: “É para quem pensou que eu não ia ser alguém na vida. Hoje eu sou modelo se Deus quiser”.
Nós diríamos: Modelo e muito mais!
Esse é, provavelmente, o lema de vida da atriz Betty White, de 91 anos, eleita pela terceira vez como a celebridade mais sedutora dos Estados Unidos, segundo uma agência de pesquisas de mercado.
White, protagonista da série cômica “Hot in Cleveland”, superou por pouco os atores Sandra Bullock e Tom Hanks, a cantora Adele e a atriz britânica Maggie Smith, na lista anual da E-Poll Market Research relativa a 2012, divulgada recentemente.
White, com atuação premiada no seu atual programa, tem sido citada em outras pesquisas como a celebridade mais popular e confiável do país.
Como iniciamos com o sensível e bem-sucedido trabalho de Ari Seth Cohen, terminamos com a criatividade de outro fotógrafo, Karsten Thormaehlen.
Thormaehlen se dedica a produzir retratos de pessoas que chegaram aos 100 anos de idade: “Eles testemunharam todo um século cheio de eventos, incluindo duas guerras, crises econômicas, destruição, construção, divisão e reunificação. E sobreviveram”.
Karsten já expôs seus trabalhos em Frankfurt, Hamburgo e Londres e ganhou 23 prêmios.
São os anos registrados pela lente da motivação e da delicadeza.
Não somos Cronos, o tempo cronológico, diferente do tempo vivido. Somos sim Kairós, um tempo vivido em uma determinação consciente e efetiva de nossa existência. Uma consciência que é tempo, o que indica novas direções. (MARTINS, 1991)
Referências
G1 ALAGOAS (2013). Idosas fazem fotos sensuais para calendário em prol de ONG em AL. Disponível Aqui. Acesso em 12/04/2013.
MARTINS, J. (1991). Não somos cronos, somos kairós. Disponível Aqui. Acesso em 12/04/2013.
R7 ENTRETERIMENTO (2013). Aos 100 anos, idosos mostram beleza da terceira idade em ensaio. Disponível Aqui. Acesso em 23/04/2013.
SMITH, T. (2013). Blog transforma idosas estilosas em ícones da moda mundial. Disponível Aqui. Acesso em 29/04/2013.
UOL (2013). Betty White é vista como a celebridade mais sedutora dos EUA. Disponível Aqui. Acesso em 10/04/2013.
