Tenho orgulho de ser o que sou! E porque quero deixar como legado às gerações mais jovens a possibilidade de estas vislumbrarem e desejarem suas velhices, serem velhxs sem medo.
Hoje, 2 de fevereiro, completo 60 anos e como prometido, inauguro este blog para escrever desde o meu lugar de fala: oficialmente uma velha!
Essa mudança de categoria, da condição de adulta para a condição de velha, não é nova para mim, pois ao deixar meus cabelos seguirem seu processo natural, os brancos começaram a denunciar a idade e, mesmo antes dos 60, muitos já me viam como tal, e me cediam seus lugares especialmente no metrô, situações que fui acolhendo prazerosamente…
Mas uma em particular me marcou pela gentileza do gesto.
Era um dia qualquer desta Sampa, tempo fechado, e precisava embarcar para mais uma avaliação de curso pelo Inep. Congonhas estava um caos, nunca peguei um aeroporto com tanta gente acumulada. Entrei na fila para fazer o check-in e como de costume olhando o celular. Na minha frente estava um casal de mais idade. Num dado momento um rapaz abriu passagem no cordão para o casal passar e gentilmente olhou para mim e me perguntou:
– Perdão, se a senhora não se incomodar, pode passar por aqui também.
E, eu, surpresa com tamanha elegância, respondi:
– Faltam apenas poucos meses, seria um prazer. Preciso mostrar documento?
– Acredito que ninguém irá pedir os documentos para fazer essa verificação.
– Muitíssima obrigada!
E foi agradecendo que entrei nessa etapa da vida. Uma bela entrada, foi o que pensei em toda minha viagem…
Assim, lentamente, fui vivenciando essa experiência de ser velha. Sim, velha, porque quem entra na etapa da velhice é velha, simples assim, assim como é criança quem está na infância e jovem quem está na juventude. Não há segredo. O resto são eufemismos. Aquelas palavras que a gente inventa para designar o mesmo, mas que não dizem muito ou quase nada, tipo idoso, maduro, experiente, talento grisalho e outras tantas nomenclaturas…
Como blogueira – não como CEO do Portal do Envelhecimento, do Espaço Longeviver, da Portal Edições, Revista Longeviver, nem docente da PUC-SP – quero, com este blog, “Orgulho de ser velha”, registrar minhas percepções a respeito de minhas vivências nesta nova etapa de minha existência.
É claro que tenho consciência que “Eu sou eu e a minha circunstância”, como já dizia o filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Isto é, a união do “eu” e da circunstância é indissociável, pois é impossível me compreender sem a minha historicidade porque esta integra, além da realidade histórica, o meu modo de conhecer e interpretar. Portanto, o que neste blog escreverei será sempre resultado dessa união.
E por que orgulho de ser velha?
Primeiro, porque tenho orgulho de ser o que sou!
Segundo, porque quero deixar como legado às gerações mais jovens a possibilidade de estas vislumbrarem e desejarem suas velhices, serem velhxs sem medo.
Assim como eu começo a viver a minha velhice, contemporânea como eu!
Ububtu para você*!
* Ubutun “É a essência do ser humano. Ele fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligada à sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ele fala sobre a totalidade, sobre a compaixão. Uma pessoa com ubuntu é acolhedora, hospitaleira, generosa, disposta a compartilhar. A qualidade do ubuntu dá às pessoas a resiliência, permitindo-as sobreviver e emergir humanas, apesar de todos os esforços para desumanizá-las.” (Desmond Tutu – Prêmio Nobel da Paz de 1984)