A velhice se adapta e modifica a sua visão a partir do momento em que se apropria de sua condição e impõe suas necessidades e demandas que vão contra alguns ditos estereótipos de velhice. Por exemplo, o projeto chamado Advanced Style faz fotos de ativas e estilosas mulheres entre 50 e 100 anos. Mostra à sociedade e, principalmente, aos velhos que é possível serem criativos e cheios de vida, independente da idade.
Quando tombamos, levantamos. Darwin nos disse que fomos selecionados durante milhares de anos, somos preparados para responder a determinadas demandas, situações cotidianas que já estamos acostumados, principalmente na velhice. O tombar causa agonia – a possibilidade de não levantar, ainda mais quando convivemos com o medo constante da “queda” iminente.
A velhice é atravessada por fatores que, juntos, corroboram para a atual conjuntura problemática que sofre. Ser velho, nos dias de hoje, é ser estigmatizado por diversos preconceitos produzidos por uma sociedade capitalista que valoriza quem consome.
Ser velho é estar submetido ao próprio corpo sucumbindo à vida, já que fisiologicamente nosso corpo se prepara para a morte – por que dentes se não vamos mais mastigar? Por que termos articulações saudáveis, se não vamos mais correr?
Essas questões influenciam a visão econômica da classe mais velha, porém, o ser velho é uma constatação, uma forma de se posicionar no mundo que precisa ser vista pelo olhar de quem envelhece, até porque esperamos que todos passem por isso. Como jovem, não gostaria de me apropriar de uma visão que não tenho propriedade para construir uma análise do que seria o ser velho, mas posso analisar pela visão de quem será um.
Se posicionar como velho começa com o “reconhecimento”, pois não podemos definir quando somos considerados velhos. Convivemos com espelhos, porém chega o momento em que nos defrontamos com ele de maneira diferente: a velhice carrega os cabelos brancos para alguns, a falta de energia, os problemas de saúde, as rugas, mas envelhecemos aos poucos e de uma vez só.
É dada a hora, estamos velhos, e agora? Ao nos reconhecermos velhos, nos definimos, nos encaixamos em ideias pré-estabelecidas que foram construídas durante toda a vida.
Começamos a nos entregar para a idade, acreditar que agora temos de nos comportar de determinada maneira, pensar de determinada maneira e por fim, nos prepararmos para a morte. Analisar as problemáticas da velhice é entender como cada indivíduo viveu a própria vida.
A velhice se adapta e modifica a sua visão a partir do momento em que se apropria de sua condição e impõe suas necessidades e demandas que vão contra alguns ditos estereótipos de velhice. Por exemplo, o projeto chamado Advanced Style faz fotos de ativas e estilosas mulheres entre 50 e 100 anos. Mostra à sociedade e, principalmente, aos velhos que é possível serem criativos e cheios de vida, independente da idade.
Tais fotos mostram às pessoas que envelhecer pode ser algo maravilhoso, essas mulheres aceitam suas idades e se sentem bem consigo mesmas. Sempre que saem de casa, elas se vestem e se sentem melhor, contrariando a cultura atual que ignora o velho, doutrinado, controlado numa cultura em que jovens são valorizados nas capas de revistas de moda, costume, cultura. O blog do Advanced Style tem o objetivo de mostrar esse lado vivido e renegado dessas mulheres que estão cansadas de serem pressionadas pelo mercado midiático da moda, extrapolando tal mercado em direção à busca de suas individualidades, indo de encontro com a autoaceitação e valorização de si mesmas.
Assim dito, o tombo da velhice é uma metáfora que representa o medo de cair, porém também mostra a vitalidade e força que o velho precisa para lidar com suas problemáticas, seus limites fisiológicos e sociais. É tempo da velhice, sua capacidade de adaptação, às vezes julgada como limitada pela sociedade, é justamente seu maior valor, sua potencialidade. O velho se transforma a cada dia numa classe com mais voz. O tombo por fim será de uma sociedade preconceituosa e restrita que tem como objetivo envelhecer.
A apropriação da velhice deve ser desconstruída em seu princípio. Discutir o velho é discutir uma relação necessariamente horizontal entre o mesmo e o restante da sociedade.
Universidades, em sua maioria, são lugares nos quais a velhice é excluída. Sendo assim, tal debate e desconstrução devem começar na sala de aula, com referências acadêmicas feitas por e para a velhice.
Referências
Fonte: imagem extraída do blog https://www.advanced.style/.
Por Lucidio Luiz Ferreira – aluno do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. E-mail: [email protected]. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – supervisora atendimento psicoterapêutico à terceira fase da vida. Profa. Dra. do Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia e do curso de Psicologia, fACHS. E-mail: [email protected] Ruth Gelehrter da Costa Lopes