Ainda não foi possível saber o número de idosos residentes em instituições aqui no Brasil, porém, segundo nota existente no livro de Skinner e Vaughan (1985) o Brasil não tem dados oficiais a respeito, mas estima-se que o número de asilos no país se iguala ao número de municípios, com um número de assistidos entre cerca de 10 e 300 idosos em cada um, e fixam ainda o número de asilados em 15% da população local. Pela data da informação, é evidente que essa população aumentou já que o número de idosos tem crescido a cada ano.
Maria Amélia Ximenes Correia Lima
A Política Nacional da Saúde do Idoso (PNSI) assinala que a maior parte dos idosos é, na verdade, capaz de decidir sobre seus interesses e organizar-se sem ajuda ou com supervisão, considerando saudável aquele que mantém a sua autodeterminação ainda que seja portador de uma ou mais doença crônica.
Salgado (1982) revela que as instituições para idosos contam com um novo tipo de clientela: o idoso independente. Mas nem sempre essas instituições estão prontas para recebê-lo, já que a mesma não supre suas necessidades sociais mais comuns levando-o a apressar o seu declínio psico-físico até a morte. Ressalta ainda que a vida institucional não é característica de nossa cultura, pois violenta todas as conquistas do processo de vida e traumatiza a existência.
O artigo Quem vai cuidar de mim quando eu ficar velha? (Born, 2001), comenta que na sociedade brasileira há uma rejeição a instituições que prestam assistência ao idoso residente (embora não se negue sua importância) e que esse tipo de instituição ainda necessita passar por um grande processo de reestruturação, para que possa cumprir de maneira satisfatória suas responsabilidades implícitas perante esses idosos. Essas responsabilidades seriam de proporcionar um lar, um lugar de vida, de aconchego, de identidade e, ao mesmo tempo, cuidados.
Sejam quais forem as circunstâncias da sua internação, o idoso experimenta uma realidade nova e, por vezes assustadora, tornando-se difícil elaborar de maneira tranqüila e equilibrada essa nova experiência. Somada a essa situação, no geral, a instituição não está preparada para serviços que respeitem a sua individualidade, personalidade, privacidade e modo de vida. A tendência é priorizar as necessidades fisiológicas (alimentação, vestuário, alojamento, cuidados de saúde e higiene) desprezando a especificidade da experiência de cada indivíduo. Fica claro que o idoso ao perder (total ou parcial) as suas construções simbólicas, conseqüentemente haverá um corte com o seu mundo de relações e com sua história. (Pimentel, 2001).
Na verdade, a maioria dos idosos afirma não “pertencer” aquele lugar. Diante desse argumento conclui-se que esse “não se sentir pertencer” contraria o sentimento de comunidade, o sentimento do eu não estou aqui, não existo, portanto, não interajo com os outros ao meu redor.
O idoso, ao entrar para uma instituição, é levado a um mundo à parte, perde sua individualidade, entra aos poucos num processo de isolamento e deixa de existir. Negam-se as possibilidades de elaboração de projetos já que está vivendo num mundo sem significado pessoal.
Comungo com Mercadante (2001), quando sugere novos arranjos para a vida em comunidade e transforma questões de cunho íntimo em cunho coletivo e dá maior importância à solidariedade. Mercadante afirma que somos agentes de mudança e pensamento e, conseqüentemente, de valores, ficando atentos para que a comunidade (instituição) não se feche, impedindo a vida em sociedade. Ao trabalharmos estes conceitos essa realidade do não se sentir pertencer poderá mudar.
Moragas (1997) comenta que pode existir uma morte social do idoso em decorrência de um processo de internação em uma instituição pela mesma restringir os contatos sociais com o exterior e romper os seus laços sociais habituais.
No dia a dia de várias instituições para idosos residentes a sensação que se tem é de um lugar onde o tempo estagnou. As horas não passam e existe uma situação de “mesmice” nas diferentes horas do dia: idosos sentados estáticos, muitas vezes um ao lado do outro, sem conversas, ou, quando se ouve alguma voz na maioria das vezes é solitária. Idosos conversam, mas não se ouvem. Uns gritam sem motivo aparente, outros vagam. A sensação é de desistência da vida. Permanece um tempo vazio de “espera” da morte nas instituições.
O autor que melhor explica o termo é Rezende (2001) em seu artigo “Institucionalização do idoso”. Inicia definido o termo institucionalização na língua portuguesa: “ato ou efeito de institucionalizar”. Institucionalizar é “dar o caráter de instituição”, “adquirir o caráter de instituição”. Portanto, para ele, o idoso institucionalizado é aquele a quem se dá ou que adquire o caráter de instituição, que se transforma em instituição, o que obviamente não faz sentido.
Na língua inglesa to institutionalize, percebe-se que o termo tem um significado a mais, o de colocar ou confiar alguém aos cuidados de uma instituição especializada (alcoólatras, delinqüentes, idosos, dentre outras).
Rezende diz que a palavra que poderia englobar todas as denominações poderia ser gerocômio ou gerontocômio, termos sancionados pela Academia Brasileira de Letras (do grego géron, gérontos, velho + kómeo, cuidar). Gerontocômio é uma palavra que já existia em grego clássico (gerontokomeion), passou para o latim (gerontocomium), e depois para o português – gerotocômio. Lembra que os dicionários, tanto em português como em latim, referem-se a gerontocômio como hospício, hospital, asilo, abrigo ou albergue para velhos.
O autor informa que gerocômio e gerontocômio são termos antigos com raízes greco-latinas e, embora arcaicos e não utilizados na maioria dos países, salvo na Itália, seriam os mais apropriados para designar, de maneira genérica, qualquer instituição para idosos.
Finaliza o seu estudo fazendo crer que para expressar o recolhimento do idoso a um gerocômio, teríamos de encontrar uma palavra correspondente a institutionalization em inglês e o termo mais adequado em sua opinião seria asilamento, ato de asilar, de recolher a um asilo. Asilo vem do grego Asylon, através do latim asylum, que significa refúgio, local de amparo, proteção, de abrigo a possíveis agravos e danos de qualquer natureza.
No Brasil e demais países de língua portuguesa, as instituições destinadas a abrigarem pessoas idosas necessitadas de lugar para morar, alimento e cuidado por período integral são conhecidas por asilos ou albergues. Estas denominações com o passar do tempo tornou-se sinônimo de abandono, pobreza e rejeição e, por esse motivo, hoje se usam palavras mais suaves como abrigos, casa de repouso, casa da vovó, lares, clínica geriátrica, ancionato, dentre outras. Essas instituições têm geralmente caráter filantrópico em que a maioria são mantidas por associações religiosas ou beneficentes.
A Política Nacional do Idoso, de acordo com a lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994, artigo 3º, regulamentada pelo decreto nº 1.948 de 3 de julho de 1996, entende asilo como o atendimento em regime de internato ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação saúde e convivência social. Declara que a assistência ocorre no caso da inexistência do grupo familiar, abandono, carência de recursos financeiros próprios ou da própria família.
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), em seu Manual de Funcionamento, chama de asilo de Instituições de Longa Permanência (ILPI). Define como “estabelecimentos para atendimento integral institucional, cujo público alvo são pessoas de 60 anos e mais, dependentes ou independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio”.
Referências
BORN, T. Quem vai cuidar de mim quando eu ficar velha? Revista Kairós Gerontologia. S. Paulo, v.4, n.2, p.135-148, 2001.
FOUCOULT, M.. Vigiar e punir. 26.ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 262p.
GROISMAN, D. A infância do asilo. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999.
MACHADO, R.; LOUREIRO, A.; LUZ, R.; MURICY, K. Danação da norma: medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil.Rio de Janeiro: Graal, 1978. 559p.
MERCADANTE, E.F. O envelhecer na comunidade. Revista Kairós Gerontologia, S. Paulo, v.4, n.1, p.141-142, 2001.
MORAGAS, R.M. Gerontologia Social: Envelhecimento e Qualidade de Vida.São Paulo: Paulinas, 1997. 283p. p.239.
PIMENTEL, L.M.G. O lugar do idoso na família: contextos e trajetórias. Coimbra: Quarteto, 2001.244p.
REZENDE, J.M. Linguagem Médica: “Institucionalização” do idoso. Disponível Aqui. Acesso em: 19 mar. 2004.
SALGADO, M.A. Velhice, uma nova questão social. São Paulo: SESC, 1982. 121p.
SKINNER, B.F.; VAUGHAN, M.E. Viva bem a velhice: Aprendendo a programar sua vida. S.Paulo: Summus, 1985. 141p.
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[1] Este artigo faz parte da pesquisa de mestrado da autora, atualmente em desenvolvimento, sobre o cotidiano do asilamento.