A obra focaliza temas de larga relevância na questão do idoso, despertando vivo interesse em diversos setores: por suas várias facetas, saúde, educação, assistência social, justiça etc. Os assuntos discorrem sobre os distintos aspectos de um problema brasileiro, cuja tendência é de agravamento, caso o governo e a sociedade não adotem medidas específicas, cobrindo os curto, médio e longo prazo, capazes de conterem e/ou minorarem os efeitos da marcha do envelhecimento populacional no Brasil. Acolhi, com satisfação, a responsabilidade de prefaciar esta obra: “O Sistema Único de Saúde cuidando da Pessoa Idosa”. O que mais me motivou ao aceite do convite foi, primeiramente, a temática tratada na publicação em epígrafe, e, em segundo plano, mas não menos importante, a qualidade técnica e científica dos seus organizadores, o que, de pronto, antevia-se a excelência do produto final, mesmo que ainda inconcluso, por ocasião do convite.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva *
A obra focaliza temas de larga relevância na questão do idoso, despertando vivo interesse em diversos setores: por suas várias facetas, saúde, educação, assistência social, justiça etc. Os assuntos discorrem sobre os distintos aspectos de um problema brasileiro, cuja tendência é de agravamento, caso o governo e a sociedade não adotem medidas específicas, cobrindo os curto, médio e longo prazo, capazes de conterem e/ou minorarem os efeitos da marcha do envelhecimento populacional no Brasil.
De fato, acompanhando a trajetória já percorrida por países desenvolvidos, porém distanciados em décadas, o povo brasileiro vem envelhecendo rapidamente, algo evidenciado pela transformação de sua composição etária, do tipo piramidal, de base larga, para o formato em barril ou colmeia, próprio de nações ricas e industrializadas. Essa transição demográfica, com severas consequências sociais e econômicas, à reboque sobretudo da razão de dependência senil, faz-se, concomitante e paralelamente, na companhia da transição epidemiológica, com intensos reflexos na saúde, na qual sobressaem a redução da morbidade e da mortalidade por doenças infecciosas e o aumento da participação das doenças crônico-degenerativas, configurando um novo perfil epidemiológico.
O avanço das enfermidades crônicas e degenerativas, a despeito da persistência de doenças infecciosas reemergentes e do preocupante incremento recente das violências, em nosso país, aponta uma dura realidade, porquanto são, amiúde, condições mórbidas de longa duração e de elevado gastos, redundando em implemento avassalador dos custos para o provimento de saúde à população brasileira, o que comprometerá o alcance de se garantir a “Saúde, como dever do Estado e direito do cidadão”, conforme preceitua a Carta Magna de 1988, no Brasil.
Indubitavelmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) será fartamente afetado, sofrendo, inapelavelmente, enorme impacto dessa transição epidemiológica, que sorverá recursos de monta, cada vez mais progressivos, e o Ministério da Saúde, como seu principal gestor, no afã de cumprir as suas obrigações legais, de responsável, direto ou indireto, a fim de propiciar a saúde do cidadão, que, por sua vez, cobra, como seu direito inalienável, a oferta de serviços de saúde, com suficiência e da melhor qualidade.
De outro modo, considerando a curva em “U” dos gastos em saúde, o crescimento dos encargos com a prestação de serviços de saúde é patente, mormente no correr da terceira idade, cuja expectativa de vida nas idades específicas também é crescente, a chegada de novas e maiores cortes de idosos trará impacto orçamentário e gerencial à pasta da Saúde, com nebulosas consequências socioeconômicas.
Para administrar esse problema, é crucial a feitura de estudos, de forma a melhor conhecer, sob diversos ângulos, os múltiplos componentes arrolados em sua gênese, para a intervenção por meio de medidas mais custo-efetivas. É assim que se encaixa a presente obra, cuja caracterização exibe-se a seguir.
O livro foi fruto de resultados de pesquisas no campo da saúde da pessoa idosa, conduzidas por autores que tiveram a cooperação das diversas instituições de fomento e de ensino superior, as quais concorreram ativamente para a materialização de suas pesquisas, cabendo mencionar: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP, a Universidade de Fortaleza – UNIFOR, a Universidade Estadual do Ceará – UECE e a Universidade Federal do Ceará – UFC.
Como sinalizam as suas organizadoras, esta “produção, substancialmente, visa a colaborar na arte da Saúde Coletiva, introduzindo tópicos socioassistenciais e da Promoção da Saúde necessários para a formação de alunos e profissionais que se dedicam às práticas constitutivas para um envelhecimento saudável.”
O livro está disposto em três partes, ou capítulos, conforme denominam as organizadoras, que dão guarida, respectivamente, a sete, seis e três artigos. O Cap. 1 tem o título “Tributos norteadores na atenção ao envelhecimento populacional”; o segundo capítulo recebe o título “Práticas assistenciais e participação do idoso no ato de cuidar”, o terceiro é denominado “Contribuição para os cuidados farmacêuticos e terapêuticos”.
Participam deste trabalho, que eu reputo, de enorme amplitude, nada menos de 70 autores, sendo 59 distribuídos em sete categorias profissionais: enfermeiros (15), fisioterapeutas (11), cirurgiões-dentistas (9), farmacêuticos (9), médicos (8), psicólogos (4) e terapeutas ocupacionais (3); os 11 restantes compõem-se de fonoaudiólogos, sociólogos, educadores físicos, educadores etc.
Entre os autores, considerando a titulação máxima, 27 são doutores, dos quais oito possuem pós-doutorado; são 29 mestres, e desses, sete são doutorandos, sendo três matriculados no Doutorado em Saúde Coletiva em Associação Ampla UECE, UFC e Unifor; dentre os dez graduados ou especialistas, há cinco cursando mestrado. Há quatro universitários no quadro de autores, todos da Unifor, sendo três acadêmicos do Curso de Odontologia e um do Curso de Medicina.
A formação de pós-graduação dominante dos autores reside na Saúde Coletiva, campo que preserva uma longa tradição de acolher uma ampla diversidade profissional, agregando saberes e práticas de múltiplas origens, levando-os à convergência dos objetivos em prol da melhoria das condições de saúde da população, a exemplo do contingente de idosos.
Dos seus 70 autores, 42 (60,0%) têm atuação no magistério superior, com a maioria inserida no ensino de pós-graduação. Desses 42 docentes, 26 (66,7%) são professores da Unifor; há três autores vinculados a universidades de fora do Ceará, sendo dois da Unicamp e um da UFBA, os 14 remanescentes exercem a docência em outras universidades e faculdades cearenses.
Merecem encômios a organização da obra, atribuída às professoras Maria Vieira de Lima Saintrain e Ana Paula Soares Gondim e a terapeuta ocupacional Vanina Tereza Barbosa Lopes da Silva, e o suporte da Unifor, por sua inconteste liderança institucional, na concretização de muitos estudos enfeixados nesta obra.
Parabéns a todos que tomaram parte em tão promissora empreitada.
* Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Professor titular de Saúde Pública-UECE