Quem poderia dizer que viveríamos uma época de inovações e criatividade, um momento novo em que surgem, todos os dias, ações, possibilidades, alternativas de “um outro viver” que possa acolher aqueles que envelhecem?
Dentre tantas novidades que se fazem necessárias em função do acelerado envelhecimento da população brasileira, uma que chama nossa atenção é uma instituição para senhores e senhoras com “alguns” senão muitos anos de vida para passar algumas horas do dia.
Ocorre, no entanto, que infelizmente nossa mídia não está preparada para interpretar esses novos equipamentos. É o caso da matéria ‘Creche’, agora, também é lugar de vovô passar o dia), do jornal “A Folha de S.Paulo”. Esse tipo de equipamento urbano é erroneamente chamado de “creche”, como podemos observar neste pequeno trecho da matéria: “Esse novo tipo de negócio tem crescido em São Paulo. Alguns já nasceram como creches ou centros-dia -como preferem chamar certos especialistas. Outros são casas de repouso que estão aproveitando o espaço ocioso para atender a idosos por diárias. Alguns chegam a oferecer serviço de transporte (leva e traz)”. Detalhe: na matéria nenhuma das instituições citadas carrega o nome creche.
Pior ainda é “ouvir” – nessa mesma matéria – de um consultor na área de gerontologia, como Eduardo Bonini, a seguinte expressão: “As creches são uma tendência. É bom negócio para as casas de repouso porque aproveitam a estrutura física e de pessoal que já têm. E resolve o dilema das famílias que não querem deixar seu idoso asilado”.
A título de esclarecimento, creches são instituições públicas voltadas prioritariamente para o atendimento de crianças (0 a 3 anos) pobres. Tal opção, justificada pela necessidade como também vontade da mãe trabalhar fora, fez com que a creche surgisse como instituição provisória, emergencial e substituta, sendo interpretada como um mal menor na experiência de vida das crianças.
Ora, o que leva a mídia a nomear um novo equipamento para idosos, chamado principalmente por Centro Dia com o mesmo nome de um espaço para crianças? O que está por trás, ignorância ou incapacidade de reconhecer novos espaços para novas demandas?
Nesses novos espaços equipamentos urbanos os idosos chegam pela manhã, levados normalmente por familiares; ali, eles fazem de quatro a seis refeições ao dia e desenvolvem várias atividades monitoradas; têm sessões de fisioterapia e fonoaudiologia; no final do dia voltam para o convívio familiar.
Pode parecer estranho para os familiares e idosos, mas essa é mais uma possibilidade, importantíssima, que deve ser considerada quando pensamos que, em suas casas, muitas pessoas passam o dia na mais completa solidão e isolamento social, sem contato externo, apenas acompanhados pela televisão e alguns cochilos, para o tempo passar.
Esses espaços, emergentes e inovadores no cenário urbano, chegaram para promover o encontro entre as pessoas idosas, alimentando assim as relações. Só não vale a mídia continuar chamando equivocadamente de “creche”.
Está mais do que na hora da mídia, de modo geral, atualizar seu manual de redação!
Referências
COLLUCCI, C. (2012). ‘Creche’, agora, também é lugar de vovô passar o dia. Disponível Aqui. Acesso em 02/09/2012.
G1. “Creche do idoso” é inaugurada em Capão Bonito, SP. Disponível Aqui. Acesso em 16/07/2012.