Durante os 50 minutos de apresentação, crianças, adultos e idosos se divertem, se emocionam, torcem e admiram a jornada. No entanto, nota-se a importância desta manifestação de cultura popular no estado de São Paulo haja vista o grande número de idosos que vieram de cidades do Nordeste tradicionais na apresentação deste folguedo natalino e que, ao prestigiarem o espetáculo, conseguem rememorar momentos de suas histórias de vida.
Wanda Patrocinio * Fotos: Robson Sampaio
Estamos em momento de ensaios do espetáculo “O Pastoril de Jornada”, um tradicional folguedo nordestino, que ocorre durante o mês de dezembro e as festividades de Natal e que é pouco divulgado no Sudeste e Sul do Brasil. Trata-se de uma importante manifestação de cultura popular no estado de São Paulo pelo grande número de idosos que vieram de cidades do Nordeste, tradicionais na apresentação deste folguedo natalino e que, ao prestigiarem o espetáculo, conseguem rememorar momentos de suas histórias de vida.
A manifestação é um auto de Natal que retrata a viagem de um pastor e suas pastorinhas à cidade de Belém para ver o Menino Jesus. Durante esta jornada, pastor e pastorinhas são guiados por um anjo e, ao longo do caminho, encontram diferentes personagens, como a borboleta, a cigana e a camponesa. Entre cantos, música, dança e interpretação, o espetáculo envolve e convida o espectador a seguir junto nesta jornada.
A representação é uma recriação brasileira dos autos da Península Ibérica trazidos pelos portugueses na colonização do Brasil. Surgido na Europa na Idade Média, o auto sagrado era realizado dentro ou defronte de igrejas ou, ainda, em palcos ambulantes, desde que com o patrocínio e permissão da Igreja. A representação do nascimento de Cristo, que no Presépio era estática, ao chegar ao Brasil com os colonos portugueses, assumiu aspectos dramáticos, originando assim o Pastoril de Jornada, manifestação tipicamente encontrada nos estados de Pernambuco e da Paraíba. No estado de São Paulo há um grupo no município de Campinas que recria este espetáculo na época de Natal.
As cores encarnado (vermelho) e azul, caracterizadas pelas pastoras por meio de dois cordões, que são respectivamente comandados pela mestra e pela contramestra, representam, simbolicamente, a batalha ente cristãos e mouros durante as Cruzadas.
O espetáculo
“Meu São José
Dai-me licença
Para o Pastoril entrar
Viemos
Para adorar
Jesus nasceu para nos salvar”
Entoando seu canto, pastor e Diana pedem licença para entrar, e junto com as pastorinhas, iniciar a caminhada por entre desertos, florestas e planícies rumo à cidade de Belém, para adorar ao Menino Jesus, que acabara de nascer.
Seguindo a estrela de Belém e guiados por um anjo, estes viajantes, durante sua jornada, encontram uma cigana do Egito, uma borboleta e uma camponesa, que deixam esta aventura ainda mais mágica e encantadora.
A apresentação é envolta em música, canto, dança e interpretação. Os cordões encarnado e azul, numa disputa acirrada, lutam pela atenção e preferência dos espectadores. A participação do público no Pastoril é fundamental, tornando o que poderia ser uma mera apresentação uma troca constante e instigante, repleta de alegria, graça e emoção.
Durante os 50 minutos de apresentação, crianças, adultos e idosos se divertem, se emocionam, torcem e admiram a jornada.
Como há um grande número de pessoas idosas nordestinas vivendo na região sudeste, este folguedo natalino permite aos mesmos rememorar momentos de suas histórias de vida.
Não há ainda datas previstas para as apresentações, mas elas costumam ocorrer desde o início de dezembro.
* Wanda Patrocinio – Pedagoga, Mestre em Gerontologia, Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas; bailarina e diretora da GeroVida – Arte, Educação e Vida Plena. É membro da rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]. A imagem da primeira foto foi criada pela artista Adriana Frias (uma imagem do Pastoril).
