O envelhecer não é mais como antes

O envelhecer não é mais como antes

O envelhecer não é mais como era antes, pois os baby boomers, geração que nasceu no pós-guerra e que atualmente tem mais de 50 anos, está revolucionando a velhice.

 

Maristela Negri Marrano (*)

Estava com minha mãe revendo o álbum de fotos do casamento dela, em uma tarde de domingo. Meus pais se casaram em 1964 e a foto da minha avó materna chamou minha atenção. Perguntei quantos anos minha avó tinha naquela época. E no auge dos seus 87 anos ela respondeu: “Tinha 62 anos quando me casei, e logo depois morreu”. Levei um susto, pois parecia ter muito mais.

A foto revelou que na década de 60, refiro-me a essa década por conta do ábum, as pessoas acima de 60 anos pareciam bem mais velhas e viviam menos. Hoje, uma pessoa com a mesma faixa etária, como dizem minhas (meus) alunas (os), está na “flor da idade”. De 1940 a 2016, a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer aumentou em mais de 30 anos e hoje, de acordo com o IBGE, é de 76 anos. Uma revolução ocorreu no último século: a da longevidade, diz Alexandre Kalache, médico, especialista em envelhecimento e presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade.

O envelhecer não é mais como era antes, pois os baby boomers, geração que nasceu no pós-guerra e que atualmente tem mais de 50 anos, está revolucionando a velhice. São pessoas com maior nível de saúde e vitalidade, têm um padrão educacional mais alto do que seus pais e avós, voz ativa, são mais exigentes nas escolhas diárias, com os familiares e com os médicos. Muitas, de acordo com depoimentos de minhas (meus) alunas (os), já vão ao consultório com pesquisas realizadas no Google sobre determinados sintomas para “debater” com os profissionais.

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Muitos dos idosos dessa geração aprenderam a dizer sim e também a dizer não, respeitando a própria vontade e priorizando o tempo para si mesmos. São pessoas que buscam ocupar suas vidas com inúmeras atividades, como educação, trabalho, atividades físicas, voluntariado, artesanato, bailes e viagens. Aprendem uma nova língua, buscam atividades que desafiam a mente, pois acreditam que a longevidade está relacionada ao bem estar e ao estilo de vida que permita autonomia e independência para ir e vir de acordo com suas próprias escolhas.

As pessoas desse segmento etário chegaram numa fase em que com sabedoria e reflexão conseguem abrir mão do que não é mais necessário, para seguirem adiante mais leves, mais conscientes de quem verdadeiramente são e qual caminho querem trilhar. Querem viver com mais leveza e utilizar o tempo e energia com atividades e pessoas que enriqueçam o seu espírito e, principalmente, gostam de aproveitar ao máximo o presente e os anos vindouros.

Sabemos que essa etapa da vida é multifacetada e heterogênea. Não tive como objetivo, neste momento, tratar dos preconceitos, violências e discriminações sofridos por muitos idosos, apesar de ter consciência dos inúmeros problemas relacionados ao envelhecimento. Mas, sim, reconhecer a possibilidade que temos em seguir um caminho possível de chegar na última fase da vida com autonomia, independência, mais plena e feliz.

(*) Maristela Negri Marrano é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap), pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade pela UFRJ e mestre em Educação Física pela Unimep. E-mail: [email protected]

 

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