Monica Bergamo, Jornal “A Folha de S.Paulo”, Caderno “Ilustrada”, já trouxe para sua coluna, os olhares sobre a velhice de muitas divas: Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro e Betty Faria. Agora tivemos o prazer de ler um pouco sobre a divina Renata Sorrah, 66, moradora do Jardim Botânico, no Rio, que anda “encantada” por São Paulo. “Sei que também tem violência, mas tô achando a cidade tão bonita”, diz.
Aqui pretendemos nos ater às questões da mulher e profissional Renata, temas como envelhecer, relações virtuais e a cultura das celebridades. A seguir trechos da entrevista concedida à repórter Lígia Mesquita.
Envelhecer, o difícil enfrentamento da finitude, até para as divas.
“Você aprende, assim como quando é criança, quando é adolescente. Todas as partes da vida são aprendizado. Você aprende a envelhecer também. Tem que aprender, senão não fica bom. Tô num ponto que é difícil. Tá ligado ao final. Quando você é adolescente, tem um caminho grande. Quando se tem mais de 60, você começa a ver que isso é finito, tem alguns amigos que morrem, tem seu pai com 99 anos. Tenho um neto de três anos, uma neta de um. É revigorante. Ainda quero trabalhar muito, fazer coisas legais”.
Papéis após os 50, o destino de ser mãe e avó reinventadas. Filha: nunca mais
O teatro é mais generoso [com as mulheres]. A TV e o cinema, não. Aí você começa a fazer as mães. Você tem que saber se inventar, inventar a vida. Não pode deixar a vida montar em cima de você, senão ela te maltrata. É você que monta nela, dá a direção.
Vaidade, a inevitável comparação com o “rostinho” do passado e as decisões do presente
Tudo é aprender. Você vê fotos suas mais jovem e fala: “Como tava bonitinha”. E eu nem me achava tão bem [risos]. Já fiz plástica nos olhos, mas agora decidi que não vou mais fazer.
Celebridades, nem que seja por um dia. A importância pelo olhar do mundo
Tem ator que gosta desse star system, dessa coisa de celebridade, de ser atriz o tempo inteiro. Eu acho que ser atriz é outra coisa, é minha profissão. Tenho orgulho, gosto, estudo. Mas isso não me dá glamour, nada.
E há agora uma coisa tão engraçada, de as pessoas normais quererem ser celebridades. Acho uma maluquice essa coisa de “quero aparecer, ser celebridade por um dia”.
Privacidade: sim, ela me pertence
Não gosto e nunca deixei muito [invadirem a minha privacidade]. Nossa vida é tão boa quando tem um charme, uma coisa que é só sua, acho essencial. Não existe disposição maior do que você estar no palco. Ali podem me devastar, escanear. Mas, fora dele, não. É a minha vida, são as minhas coisas; tenho minha casa, meus amores, meus amigos, meus netos.
Só no virtual, um perigo, uma ameaça: a solidão computadorizada
Tenho um pouco de medo dessas relações virtuais. Por isso, cada vez gosto mais do teatro. Tenho medo dessa solidão das pessoas em frente a um computador. Vejo às vezes em restaurante, casais que não conversam, cada um com seu iPhone ou seu tablet. Acho um pouco assustador, não sei no que isso vai dar.
Cinema, um desejo, um sonho
Eu tenho vontade de fazer mais cinema [seu último filme foi “Árido Movie”, de Lírio Ferreira, em 2006].
Folha – Você já contou que o recado na sua secretária eletrônica era em alemão porque esperava que um dia o diretor Wim Wenders ligasse para você. Hoje de quem espera um telefonema?
Um Woody Allen, um Stephen Daldry. Mas sabe quem eu gostaria mesmo? O Karim Ainouz [cineasta cearense]. Eu fiz uma pequena participação em “Madame Satã” [2002], adoro ele.
Renata Sorrah, uma mulher simples que se reinventa a cada papel, a cada passo, a cada palavra. E é assim que se vive…criança, jovem adulto, velho e quem sabe o que mais.
Pela irreverência de Millôr Fernandes: “Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento para envelhecer”.
Referências
BERGAMO, M. (2013). Reinventando a vida. Disponível Aqui . Acesso em 29/07/2013.