Cada vez mais escutamos as pessoas falarem sobre casais que se reencontraram aos 60, 70 e até mesmo 80 anos. O que será que estamos assistindo? Vivenciamos um novo fenômeno que faz parte desta nova possibilidade que a idade avançada vem produzindo – e não somente doenças e complicações na qualidade de vida e dificuldades na aposentadoria.
Dorli Kamkhagi *
Vivemos um momento novo na história. Os papéis de homens e mulheres estão sendo ampliados, permitindo assim novas reconfigurações e transformações.
As pessoas também estão se permitindo sair de um lugar de solidão e viuvez em busca de novos companheiros e viver, quem sabe, o último amor. Para algumas pessoas esse será o primeiro amor, pois somente nesse momento se permitiram escolher.
Ah, como é bom fazer planos e se deixar levar pela suave música que toca nos ouvidos daqueles que voltam a amar. A capacidade de nos relacionarmos com alguém abre novas portas, permitindo assim que se descortinem paisagens e habilidades que nem sabíamos que possuíamos.
Os meus pacientes que puderam voltar a encontrar algum conforto afetivo após viverem longos períodos de solidão percebem-se com uma nova disposição para enfrentar as dificuldades da vida e partilhar também pequenos segredos e cumplicidades.
Não tem nada de indecoroso nem de ridículo. O amor não tem fronteiras, e o tempo pode ser sim um fator a ser repensado e entendido. Cada vez mais vamos em direção àquilo que deve nos fazer bem. Chega de carregar histórias tão pesadas, também é importante deixarmos que o novo aconteça.
E como já dizia o poeta: “Que seja eterno enquanto dure, posto que é chama…”
* Dorli Kamkhagi – Doutora em Psicologia Clínica, mestre em Gerontologia e pesquisadora Do Lim 27- Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]