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O amor e os pares de meia

Um viva ao amor que consegue envelhecer e que não descarta as diferenças como possibilidade de construção de caminhos. O amor velho cujo coração de um bate no coração do outro. Assim como a cesta cheia de meias desordenadas que exigem flexibilidade na arrumação, sejamos flexíveis ao amar. Sejamos flexíveis ao viver!


Não me perguntem o porquê, mas se trata de uma função que coube à mim, semanalmente fazer: dobrar as roupas íntimas e as meias de toda família.

Uauuuuuu! Que estimulante! Calcinhas, cuecas e sutiãs não são problema, mas os pares de meia tomam um tempo absurdo do meu final de domingo.

Tento ser positiva e encaro a atividade como um momento de estimular o cérebro, afinal precisamos fazer as associações por cores, semelhanças, tamanho etc., as estampadas são como coringas pois saltam aos nossos olhos e pronto! Fácil dobrar a tal bolinha!

Já as meias com tonalidades escuras e sem nenhuma estampa, tenho vontade de destruí-las ou, quem sabe, transformá-las em algo lúdico como uma bola de futebol. Preciso colocar óculos para ver a tal listinha na lateral da meia escura e saber distinguir a textura do tecido, preto ou marinho? A confusão para meus olhos de 54 anos gera um enorme tormento.

Pois bem! Sabe aquelas pequenas coisas que vão causando uma leve irritação que aos poucos nos sucumbem? É isso que os inúmeros pares desordenados dessas meias me causam.

Para aliviar a tensão, resolvi, enquanto fazia a tal separação, conversar com uma grande amiga pelo áudio do WhatsApp.

Sim, os pares de meia se assemelham ao amor, tamanha desordem que causa quando chega ao coração, chegamos a esse acordo.

Em meio a uma cesta de pares desordenados, algumas combinam mas não conseguem, de maneira alguma, formar o tal par verdadeiro.

Algumas tantas vezes, cegos pelo amor, pegamos o primeiro pé de meia que encontramos na cesta. Ao vesti-las notamos que apesar das semelhanças, enquanto o pé direito engole a meia de tão pequena, o esquerdo vira meia 3/4.

O desconforto se faz incômodo.

Sim! O amor tem dessas coisas, ora nos ajuda a caminhar, ora nos aperta o pé. Precisamos estar atentos para nossas escolhas, já que muitas vezes buscamos a igualdade nas aparências. Com tanta gente cruzando nosso caminho, como escolher a pessoa certa para compartilhar a vida?

As meias me ensinaram. Tanto faz se tem uma listinha na lateral ou duas!

Precisamos ser tão exigentes assim? Buscamos sempre o amor perfeito e o par de meia idêntico? Que coisa chata! Passaremos a vida de lupa olhando todos os detalhes das meias e das pessoas para nos juntarmos apenas ao igual? Não.

Neste domingo, ao realizar a tal tarefa refleti sobre o amor que como tudo na vida precisa ser cultivado para germinar frutos.

Tentando deixar meus finais de domingo mais divertidos e os amores mais intensos, lanço aqui o desafio de escolhermos as meias e os amores por outra ótica.

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É quente o suficiente? Nos impulsiona o caminhar pela vida com alegria? Pega no pé? Afrouxa tanto que cai, solta, se perde? Pares de meia, assim como o amor, se perdem tão fácil! É preciso cuidar pois quando somem ninguém consegue sequer dizer como se perdeu.

E as meias velhas que já possuem o formato do nosso pé e parecem se calçar sozinhas? Não serão as “mais mais” da gaveta? Quiçá o amor velho que já conhece cada parte do corpo e da alma amada.

Um viva ao amor que consegue envelhecer e que não descarta as diferenças como possibilidade de construção de caminhos. O amor velho cujo coração de um bate no coração do outro. Assim como a cesta cheia de meias desordenadas que exigem flexibilidade na arrumação, sejamos flexíveis ao amar. Sejamos flexíveis ao viver!

Próximo domingo vou promover a mistura desordenada como regra.

Pares perfeitos de cores e modelos diversos, mas dobrados em bolinha pela maciez que toca a sola para deslizarmos pelos caminhos da vida e do amor. Perfeição ao ver as diferenças formarem o todo e as partes sucumbirem o incompleto.

Um viva ao amor capaz de caminhar rumo ao envelhecer, sem exigir e reivindicar. Amar apenas por amar.

No mais, meu marido sairá para trabalhar com um pé de meia preta e outra azul. Quer saber? Aposto que nem ele, nem ninguém irá notar tal diferença.
Branco com preto, azul com amarelo, judeu com cristão, meia de bolinha com meia listradinha, russo com japonês…

Sejamos livres nas escolhas! Do amor e dos pares de meia!
Sem julgamento, sem regras impostas!

Para toda forma de amar e para qualquer tipo de meia, é o amor que faz o caminho.

Um viva ao amor, seja ele qual for!

Este texto foi escrito para homenagear o velho amor dos meus pais que me inspira a percorrer, com meias desordenadas, um caminho de amor ao lado da melhor meia que poderia ter escolhido para usar rumo à velhice.

Meus agradecimentos à amiga Marie Claire por fazer parte das minhas viagens, ao meu filho Bruno Pomeranz, grande defensor das diferenças, e à artista Leda Catunda que na obra “Meias” de 1989 mostrou criatividade, beleza e uma possibilidade de transformar pés de meia perdidos, desiguais, e quem sabe furados, em estética artística! Feliz dia dos namorados!


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Cristiane T. Pomeranz

Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemorias.art.br E-mail: crispomeranz@gmail.com.

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