A Flamboyant nos dá boas-vindas e enquanto nos abraça conta que as flores desta casa não foram avisadas das angústias do mundo.
Nesta casa as flores não foram avisadas da angústia do mundo e na sua exuberância e insistência florescem para lembrar que é a beleza das pequenas coisas que transformará o momento. De longe avista-se o beija-flor que paira no ar próximo ao pé de jasmim para avisar que é o movimento que sustenta o voo. Deixo então de lado o medo que paralisa e sigo a contemplar o jardim desta casa cujos alicerces de afetos, construídos, certamente irão nos proteger da constante ameaça que assombra a Terra.
O ano é 1983 e as flores parecem já querer florescer nas enormes folhas de papel desenroladas pelo professor Juvenal, amigo de docência do meu pai que, generosamente projeta a casa que irá se tornar um refúgio sagrado por todos nós da família que, certamente um dia haverá de procriar. E assim aconteceu.
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Os encontros com Juvenal acontecem na mesa da sala de jantar que fica forrada de plantas arquitetônicas da casa pensada por ele.
Debruçada na mesa, meus dezoito anos de idade borbulham em sonhos projetados naqueles papéis e em meio ao colorido da vegetação desenhada para representar o jardim interno, escolho o meu quarto cuja janela emoldura o centro do espaço composto por arecas que hoje, imensas, ultrapassam o telhado da casa toda feita de tijolos unidos talvez não apenas por cimento, mas pela afeição que nós, logo de início, passamos a ter pelo lugar.
Aquela jovem encontra-se presente neste ambiente e é o aconchego que diferencia a casa das demais do condomínio que competem com seus tamanhos de portas.
Tijolos sobrepostos constroem este lar que na feitura do jardim ganha uma muda de flamboyant na entrada.
Atualmente é esta árvore que nos recebe na chegada com suas folhas delicadas que parecem dançar com o vento do litoral enquanto abraçam as telhas da casa e as arecas do jardim interno.
Sua sombra desenha no chão os dias de calor e refresca os corpos suados que habitam a casa. Tudo aqui é poesia, tudo parece ter rimas e estrofes de pássaros e paisagem para compor cada verso aqui vivido.
A jovem olha os desenhos feitos pelo Juvenal e sente que ali viverá os tais momentos imprevistos de felicidade.
A flamboyant ganha o céu enquanto a moça debruçada na mesa recebe a maturidade pintada de prata nos cabelos e olhos que passam a avistar o que a juventude não a deixa ver.
A muda da árvore se transforma, a garota sonhadora persiste, a mulher dos cabelos de lua passeia descalça pela casa que agora parece estar pronta para acolher a velha que está por vir. Ela logo virá.
As orquídeas mostram sua grandeza, o jasmim parece querer florir, o beija-flor sustenta seu voo no ar, a flamboyant nos dá boas-vindas e enquanto nos abraça conta que as flores desta casa não foram avisadas das angústias do mundo.
Fotos de Cristiane P. Pomeranz
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