O conceito “lugar de fala” nada mais é do que o “fim da mediação”, a pessoa idosa fala por si, como protagonista da sua própria velhice. Ou seja, os velhos têm a legitimidade para falar sobre a velhice e o envelhecimento.
Qual é o “lugar de fala” do envelhecimento? Quem tem o direito à voz numa sociedade que nega a velhice e tem a juventude como valor?
Para refletirmos a respeito das velhices diversas, o evento Diálogos, promovido pela PUC-SP e Banco Itaú, realizará no próximo dia 28 de novembro, das 9 às 12 horas, em São Paulo, um debate com Estela Brick, que em seu lugar de fala discorrerá sobre a longevidade na Síndrome de Down; Feres Lourenço Khoury, que falará sobre sua experiência pessoal e o trabalho artístico, construindo uma vida melhor; e Vera Luzia do Nascimento, que falará sobre o que é ser mulher, negra, viúva, idosa e cidadã, moderados por Ruth G. da Costa Lopes.
O conceito sobre o lugar de fala tem muitas polêmicas, mas ele traz para discussão o rompimento de uma voz única. No caso do envelhecimento, ainda são os profissionais, pessoas normalmente mais jovens falando “sobre” e não “desde”. Até inventaram uma indumentária, composta com óculos fundo de garrafa, tampões de ouvido e pesos colocados ao longo do corpo e nas articulações, para que aqueles que atuam com os velhos possam entender de perto o “peso da idade”, como se existisse apenas um tipo de velhice.
Isso acontece porque os velhos não estão inseridos nos diversos espaços para que possam ser ouvidos, seja em lojas, supermercados, bancos, agências de publicidade, farmácias, enfim, lugares em que possam falar desde sua multiplicidade de condições e não por indumentárias.
Portanto, o conceito “lugar de fala” nada mais é do que o “fim da mediação”, a pessoa idosa fala por si, como protagonista da sua própria velhice. Ou seja, os velhos têm a legitimidade para falar sobre a velhice e o envelhecimento.
Entendemos que está na hora de os diversos velhos, ou como queiram ser chamados (maduros, terceira idade, envelhescentes…) ocuparem na sociedade sua voz a fim de desenvolverem narrativas que reflitam diferentes olhares e perspectivas das velhices que estão aí e que virão. Pensar nos próprios protagonistas em seus lugares de fala é romper com a visão única que ainda se tem da velhice, esta sempre associada a doença.
Não há precisão quanto a origem do termo “lugar de fala”. Para alguns pesquisadores, suas raízes estão no debate feminista americano, por volta dos anos 1980. De acordo com o filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da USP Pablo Ortellado, em depoimento ao jornal Nexo, o que se tornaria o “lugar de fala” aparece pela primeira vez no artigo “O problema de falar pelos outros”, da filósofa panamenha Linda Alcoff, e no ensaio “Pode o subalterno falar?”, da professora indiana Gayatri Spivak.
Esse conceito, aplicado ao envelhecimento, pode ajudar os diversos profissionais, entre eles pesquisadores e professores, como também familiares e até idosos que não se consideram idosos, a compreenderem como o que falamos e como falamos reproduz, ainda que sem intenção, o idadismo.
Serviço
Evento “Lugar de fala: as velhices diversas”
Dia: 28 de novembro
Horário: das 9 às 12 horas
Local: Espaço Itaú de Cinema: Rua Augusta, 1475, Consolação, estação Consolação da linha verde de metrô
Inscrições gratuitas e limitadas: E-mail: [email protected]
Promoção: PUC-SP e Banco Itaú
Realização: Portal do Envelhecimento
Saiba mais em: https://www.facebook.com/events/757899561222932/