Aos 75 anos, Ney Matogrosso segue com energia e disposição. Confira no site do artista a agenda do show Atento aos Sinais e entenda o porquê da homenagem.
Quarta-feira, 19 de julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Maitê Proença e Zélia Duncan, apresentadoras do 28o Prêmio da Música Brasileira, receberão no palco Ney Matogrosso, o homenageado da noite. Dono de uma carreira artística impecável, impressionou desde o primeiro momento ao interpretar O Vira, no início da década de 1970, na companhia do grupo Secos & Molhados:
O gato preto cruzou a estrada
Passou por debaixo da escada
E lá no fundo azul
Na noite da floresta
A lua iluminou
A dança, a roda, a festa
Vira, vira, vira
Vira, vira, vira homem
Vira, vira
Vira, vira lobisomem
Vira, vira, vira
Vira, vira, vira homem, vira, vira
A voz de Ney Matogrosso é seu grande trunfo. Como consegue? Voz de contratenor, dizem os entendidos, como se isso explicasse o fenômeno. Ney Matogrosso tem uma voz única. É um interprete genial. Consegue tocar quem o escuta de um jeito especial. Como ouvir Rosa de Hiroshima e não se emocionar? O poema de Vinícius de Moraes foi outro ponto forte na carreira do artista:
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensam nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
A rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Da alegria do Vira à angústia da Rosa, este é Ney Matogrosso, capaz de fazer rir e chorar, fazer o ouvinte/expectador experimentar mil sensações, é intenso, completo e único. Por isso o reconhecimento. Seu talento, sua voz singular, sua capacidade de se reinventar é para ser reverenciada, aplaudida e festejada todos os dias.
Ney Matogrosso, o homem-pássaro, leva a vida cantando e procura falar o mínimo necessário com os repórteres. Suas respostas são curtas porque as perguntas se tornaram repetitivas e preconceituosas. Durante anos respondeu mais sobre sua orientação sexual do que sobre seu trabalho artístico. Agora que vive o processo de envelhecimento, o preconceito aumenta. Além das perguntas de caráter sexual, surgem perguntas do tipo:
– “Qual o segredo para se manter jovem?”
Ney Matogrosso responsabiliza a genética por um lado e, por outro, os hábitos que cultivou ao longo da vida. O repórter se anima. Pensa em sexo.
– “Pode dar um exemplo?”
– “Sempre comi pouco. Este é um dos segredos da longevidade, não é?”
De longevidade o repórter não entende nada, por isso volta correndo para sua pauta e dispara as velhas perguntas sobre homossexualidade, aids, a relação com Cazuza…, mas Ney Matogrosso repete o que vem anunciando há algum tempo na mídia nacional:
– “Não me sinto melancólico com o envelhecer. Observo as diferenças que ocorrem no meu corpo, mas olho com naturalidade”. E diz mais:
– “A morte faz parte da vida. Não adianta fingir que não vai acontecer. Vai acontecer inexoravelmente. E eu aceito isso”.
O recado está dado!