Não quero ter filhos para cuidarem de mim

A principal questão deste texto é compreender que mesmo as mulheres idosas que estão envelhecendo sem precisar casar e ter filhos podem ter uma vida saudável e com as pulsões de vida e de morte voltadas justamente para as próprias questões sem precisar se preocupar com a família que, muitas vezes, pode se tornar julgadora, e sim com o outro que a faz bem e feliz.

Caroline Mihailovici e Ruth Gelehrter da Costa Lopes *

 

nao-quero-ter-filhos-para-cuidarem-de-mimO texto em questão tem como objetivo refletir, através de um enfoque psicanalítico, sobre o artigo “Quem vai cuidar de você na velhice?” de Mirian Goldenberg, publicado no Jornal “A Folha de S.Paulo” em 2014, que é possível Envelhe-Ser bem sem a necessidade de construir uma família nos moldes tradicionais.

Vivemos em uma sociedade em que a mulher não tem mais a obrigação de casar e ter filhos para continuar a família. Normalmente quando isto ocorre, acaba acontecendo depois de certo tempo, pois a mulher contemporânea não possui mais o papel de dona de casa, a mesma sai nas ruas e vai à procura de um mercado de trabalho e de uma posição de igual para igual com os homens.

Porém mesmo com todas as conquistas de independência da mulher, ainda há pessoas que perguntam a essas mulheres que optam por viver sozinhas e sem filhos: “Quem vai cuidar de você na velhice?”.

Como a sociedade atual enxerga a vida do idoso? Este velho de hoje não possui mais o mesmo papel de antigamente, daquele que trabalha com foco na aposentadoria e permanece sempre à disposição da família.

Os idosos atualmente procuram uma forma de Envelhe-Ser sendo, ou seja, envelhecer de uma forma saudável, pensando desde jovens que um dia este período irá chegar e que cada vez mais será um período longo e este deve ser aproveitado e cultivado da melhor maneira possível.

A ideia é que se estabeleçam ligações mais saudáveis, sem obrigações ou interesses, dando a possibilidade de se criarem relações afetivas recíprocas e de constante cumplicidade.

Goldemberg em seu artigo afirma que “Os vínculos gerados pelo afeto, e não pela obrigação ou interesse, podem criar relações de reciprocidade e de cumplicidade entre as mulheres, que se divertem, se acompanham e cuidam umas das outras, especialmente na velhice”.

A velhice tem relação direta com o biopsicossocial e a questão do tempo sempre parece surgir para assustar os idosos, pois a morte vai se aproximando e as perdas vão ficando cada vez mais presentes na vida, o que faz com que essas pessoas convivam com seus próprios mecanismos de defesa.

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Para Bergeret (2006), os mecanismos de defesa constituem operações de proteção postas em jogo pelo Ego ou pelo Si-mesmo para assegurar sua própria segurança.

Os mecanismos de defesa não representam apenas o conflito e a patologia, eles são também uma forma de adaptação. O que torna “as defesas” um aspecto doentio é sua utilização ineficaz ou então sua não adaptação às realidades internas ou externas.

Estes mecanismos de defesas ajudam as pessoas que chegam nesta fase a amenizar a situação imposta pela idade e a aproximação de fantasias: como será a própria morte?

Outro aspecto importante, segundo a Psicanálise, é que o conceito sexual na terceira idade é confundido pela população como uma questão genital simplesmente relacionada ao sexo.

Esclarecemos que a questão sexual representa a libido a qual está ligada diretamente com os sentimentos, principalmente o amor. Ou seja, ainda é possível obter um objeto de prazer e as pulsões de vida e morte ainda estão acontecendo nas pessoas (Andrade, 2013)

A principal questão deste texto é compreender que mesmo as mulheres idosas que estão envelhecendo sem precisar casar e ter filhos podem ter uma vida saudável e com as pulsões de vida e de morte voltadas justamente para as próprias questões sem precisar se preocupar com a família que, muitas vezes, pode se tornar julgadora, e sim com o outro que a faz bem e feliz.

Referências

Andrade, E.L. (2013). Psicanálise: na Velhice o Sujeito deve Envelhe-Ser. Disponível Aqui. Acesso em: 05/05/2015.

BERGERET, J. (2006). O problema das defesas. In: Bergeret, J. …[et al.]. Psicopatologia: teoria e clínica. Porto Alegre: Artmed.

GOLDENBERG, M. (2014). Quem vai cuidar de você na velhice? Disponível Aqui. Acesso em: 05/05/2015.

* Caroline Mihailovici – Aluna do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. Email: [email protected]

Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Supervisora Atendimento Psicoterapêutico à Terceira Fase da Vida. Profa. Dra. Programa Estudos Pós Graduados em Gerontologia e no Curso de Psicologia, FACHS. Email: [email protected]

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