A última edição da Revista Kairós-Gerontologia contribui com olhares sobre as diversas velhices e sobre os cuidadores.
Os temas trabalhados na 27a. edição da Revista Kairós-Gerontologia, última do ano, e com contribuições de estudiosos(as) do envelhecimento filiados(as) à Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), trazem reflexões importantes sobre o envelhecer no país, contribuindo com olhares sobre as diversas velhices e sobre os cuidadores. O protagonismo da pessoa idosa é ressaltado em vários deles, mostrando o quão importante são as políticas públicas para este segmento etário. Mas, por outro lado, o quanto ainda os cuidadores não são valorizados, sequer pensados, nestas políticas e o quanto se encontram ante o desconhecido em suas funções, são reflexões trazidas de suma importância em um país que envelhece a passos largos.
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Entre os artigos originais, chamamos a atenção dos leitores para o texto intitulado Avaliação dos conhecimentos sobre a doença de Alzheimer entre cuidadores de pessoas idosas com demência, escrito por Ana Paula Bagli Moreira, Tiago Nascimento Ordonez, Luiz Carlos de Moraes, Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez, Rosa Yuka Sato Chubaci e Thais Bento Lima da Silva. O artigo avalia o nível de conhecimento sobre a doença de Alzheimer entre cuidadores de pessoas idosas com demência, antes e após uma intervenção psicoeducativa com treino cognitivo, envolvendo 45 cuidadores de idosos com doença de Alzheimer. Os resultados obtidos, segundo os autores, indicam que a intervenção teve um impacto positivo em alguns domínios específicos do conhecimento sobre a doença de Alzheimer como “Tratamento e Gestão”, evidenciando a necessidade de ações educativas dirigidas aos cuidadores de pessoas com doença de Alzheimer.
Ana Beatriz Mendes, Letycia Parreira de Oliveira, Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez e Henrique Salmazo da Silva, no artigo Fatores associados aos desafios na cobertura e atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) brasileiras, assinalam que a atenção em saúde no contexto dos cuidados de longa duração é um desafio no Brasil. Por isso resolveram analisar os fatores associados aos desafios na cobertura e atendimento do SUS em 90 ILPIs, observando que as dificuldades são na comunicação com Superintendência de Vigilância em Saúde, financiamento e desafios quanto ao atendimento médico.
O artigo Demandas dos cuidadores de pessoas idosas com demência participantes de um grupo psicoeducativo, escrito por Thais Bento Lima da Silva, Diana dos Santos Bacelar, Maria Antônia Antunes de Souza, Sabrina Aparecida da Silva, Laydiane Alves Costa, Gabriela dos Santos, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, Walquiria Cristina Alves, Rosa Yuka Sato Chubaci, Tiago Nascimento Ordonez e Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez, identifica e analisa as demandas dos cuidadores familiares de pessoas idosas com demência, a partir de contribuições de 49 cuidadores formais e familiares de pessoas idosas com demência. Os autores destacam a carência de apoio estatal e a necessidade urgente de estratégias para melhorar o suporte aos cuidadores no Brasil.
Tássia Monique Chiarelli e Samila Sathler Tavares Batistoni, no artigo “É tempo de co-criação?” Percepções de pessoas idosas em programas públicos de inclusão digital, analisam as percepções de pessoas idosas em programas de inclusão digital de uma política pública federal em cinco municípios. Entre as percepções as autoras destacam o manter-se atualizado e a necessidade de módulos avançados de tecnologia. De acordo com as autoras, a participação das pessoas idosas pode tornar as políticas mais eficazes, incentivando a co-criação de soluções e a aprendizagem ao longo da vida.
Análise de reprodutibilidade do teste de cálculos do ábaco em pessoas idosas saudáveis, de Gabriela dos Santos, Tiago Nascimento Ordonez, Laydiane Alves Costa, Maria Antônia Antunes de Souza, Neide Pereira Cardoso, Patrícia Prata Lessa, Luiz Carlos de Moraes, Bárbara Perpétuo, Sabrina Aparecida da Silva, Diana dos Santos Bacelar, Sonia Maria Dozzi Brucki e Thais Bento Lima da Silva, analisa a reprodutibilidade de um instrumento para mensurar a habilidade de cálculos mentais de pessoas idosas, testando sua especificidade e sensibilidade em teste e reteste. Os autores avaliaram 207 pessoas idosas saudáveis, em um intervalo de seis meses, revelando diferenças significativas entre o momento inicial e após seis meses. O estudo demonstrou que o instrumento possui boa reprodutibilidade e é adequado para monitoramento cognitivo. No entanto, assinalam que os achados não demonstraram um efeito generalizado de transferência para habilidades cognitivas que não envolvem tipicamente processamento numérico ou visuoespacial.
Já Renan Rodrigues de Almeida, Tereza Etsuko da Costa Rosa e Maria Izabel Sanches Costa, em Saúde da população idosa na Atenção Básica em Francisco Morato (SP): Uma análise exploratória, analisam a atenção à saúde da população idosa na atenção primária em Francisco Morato, São Paulo, a partir de aplicação de questionários estruturados a gestores de 12 unidades básicas de saúde, além da realização de entrevistas com dois profissionais. Os dados obtidos revelam uma escassez de ações específicas para pessoas idosas, com um enfoque limitado ao campo biológico. Os autores destacam a necessidade de capacitar os profissionais da atenção primária à saúde para oferecer um cuidado integral à população idosa.
O último artigo original desta edição da Revista, intitulado Perfil das pessoas idosas participantes do Programa Vem Dançar, de autoria de Dineia Mendes de Araujo Cardoso, Carlos Alberto Cardoso Filho e Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez, descrevem o perfil sociodemográfico, os níveis de atividade física, a autoeficácia relacionada às quedas, e a qualidade de vida em pessoas idosas participantes do Programa Vem Dançar da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo (SP), além de avaliarem associações entre essas variáveis. Os autores observaram que a maioria das participantes no Vem Dançar é mulher, sem cônjuge, com boa escolaridade, mas com renda familiar limitada. Ademais, são assíduas às atividades de dança, possuem alto nível de atividade física, mas boa parte apresenta uma alta preocupação de sofrer queda.
Amizade e solidão na velhice: uma revisão integrativa da literatura, escrito por Thaíssa Araujo de Bessa, Camila Rocha Ferreira, Rita de Cássia Monteiro de Lima Siqueira, Wellington Ricardo Navarro Torelli, Thiago de Almeida e Deusivania Vieira da Silva Falcão, faz uma revisão integrativa da literatura entre os anos de 2015 e 2020 sobre amizade e solidão na velhice, com o objetivo de compreender as relações entre essas variáveis e seus impactos na qualidade de vida das pessoas idosas. A revisão identificou que redes formais e informais de suporte social são essenciais para reduzir a solidão e melhorar a saúde mental e o bem-estar dessa população. Os autores apontam a importância das relações de amizade, que são baseadas em escolha mútua, em contraste com as relações familiares, frequentemente baseadas em obrigações. A pesquisa também abordou a influência da tecnologia na promoção de conexões sociais e redução da solidão, embora o contato presencial permaneça insubstituível. Além disso, foram discutidas diferenças de gênero e estado civil na experiência de solidão, bem como, a realidade da população LGBTQIA+ idosa. Os autores sugerem a necessidade de políticas públicas que fortaleçam as redes de suporte social e promovam a integração e a participação ativa das pessoas idosas na sociedade, bem como a realização de estudos específicos sobre a realidade brasileira.
O último artigo desta edição, também de revisão, intitulado O perfil sociodemográfico de cuidadores de pessoas com demência: uma revisão narrativa, foi escrito por Gabriela dos Santos, Laydiane Alves Costa, Walquiria Cristina Alves, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, Rosa Yuka Sato Chubaci, Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez, Tiago Nascimento Ordonez e Thais Bento Lima da Silva. Os autores refletem sobre as principais características, desafios e assistência a cuidadores de pessoas idosas com demência no Brasil. De acordo com os autores, a literatura descreve os cuidadores como pessoas predominantemente do sexo feminino e familiares da pessoa idosa. Destacam que o cuidado de pessoas com demências gera múltiplos desafios, entre eles financeiros e emocionais e, por isso, recomendam ações e políticas públicas de assistência aos cuidadores.