Hans e Tomiko Born relatam sua experiência ao país, a partir de reencontros, passeios, reflexões. Observaram que mulheres idosas vivem sós, muitas com atividades que dão sentido às suas vidas e as mantêm em contato social. Até quando viverão assim? Esta é uma pergunta que as mulheres e o serviço público fazem na medida em que aumenta o número de mulheres nessas condições. Por que não morar com outras mulheres, em moradias coletivas para 12 pessoas?
Hans e Tomiko Born *
Encontros – Foram quarenta dias vividos intensamente: reencontro com familiares e amigos; passeios no bosque, algumas vezes para procurar cogumelos; caminhadas nos Alpes; visitas a museus de arte; visita ao Museu Arqueológico do Sul do Tirol para ver Ötzi, o homem do gelo; contatos com especialistas de programas de cuidados à pessoa idosa; visita ao Centro de Documentação sobre o Nazismo; apresentações de música. Na Alemanha, aparentemente, estava tudo tranquilo e bonito, pelo menos em Oberphaffenhofen, uma aldeia nos arredores de Munique, onde mora Marlies, irmã do Hans. Na casa da Marlies, nada parece ter mudado. Como é o costume alemão, tiramos nossos sapatos no saguão e calçamos Hausschuhe (chinelos).
Mulheres idosas vivem sós. À semelhança de muitas outras mulheres viúvas ou solteiras, separadas, Marlies vive só após o falecimento do marido. Seus dois filhos têm, cada um, sua moradia própria. Ela é musicista amadora, depois de ter sido professora de música quando jovem e faz parte de diversos conjuntos musicais, que ensaiam muitas vezes na sua casa e com frequência são convidados para se apresentar em festas, cerimônias religiosas, residências de idosos. Essas atividades dão um sentido à sua vida e a mantém em contato com pessoas amigas. Mas, a questão é até quando poderá viver assim? Esta é uma pergunta que as mulheres e o serviço público estão fazendo na medida em que aumenta o número de mulheres nessas condições. Por que não morar com outras mulheres, em moradias coletivas para 12 pessoas?
Complexidade do problema do envelhecimento. A Alemanha tem uma das populações que mais envelhecem e diminuem na Europa. Estima-se que encolherá em 10 milhões, passando de 81,3 milhões em 2013, para 70,8 milhões em 2060. Atualmente, a população idosa representa 20% do total e há previsão de que em 2030 subirá para 29%. A taxa de fecundidade, isto é, o número de filhos por mulher em idade fértil é 1,2. Nas grandes cidades, 40% das pessoas de 40 anos e mais não tem filhos. É relativamente pequena a proporção de idosos que residem em instituições para idosos (5%), pois há vários programas de moradias e serviços de atendimento domiciliar que possibilitam a sua permanência na sua própria casa ou em residências coletivas.
Preocupação com a Doença de Alzheimer. Em Bonn, há um centro para Doenças Neuro-degenerativas, para o registro de todos os pacientes com Alzheimer, a fim de acompanhar o número e o percurso das pessoas demenciadas na Alemanha.
Refugiados. Estávamos na estação central de trem em Munique. A estação estava cheia de policiais e de bombeiros. Por que motivo? Estava chegando um trem com refugiados, que seriam cadastrados e transportados para praça de esportes de escolas e outras moradias provisórias. Assim são todos os dias. Dois mil, até quatro mil por dia, somente em Munique.
Visitamos uma destas moradias provisórias. De onde vem este pessoal? Da África, Eritreia, Síria, Iraque, Afeganistão, do Balcão. Por que tantos refugiados da África e do Oriente? Por que tanta guerra e pobreza em tantos países? Alguns refugiados são bem-vindos, pois têm mais filhos e existem vagas para trabalhar. Mas como aceitar todos os refugiados? Para começar, onde acomodá-los? É a preocupação do poder público e da comunidade.
Resumindo: Foram férias belíssimas e, também, muitas oportunidades de aprendizado. Voltamos para o Brasil conscientes de que precisamos ler, analisar melhor os acontecimentos locais e globais, refletir, enfim, aprender muito para tentar compreender o mundo complexo em que vivemos.
Fotos de Hans Born. A primeira foto é de uma excursão de idosos a um castelo medieval. A segunda foto é de um conjunto musical de crianças e a terceira é uma vista dos Alpes.
* Hans e Tomiko Born – Hans é marido de Tomiko Born, que é Assistente social, Mestre em Ciências pela Columbia University School of Social Work, Nova York, Estados Unidos, 1958. Diploma em Política Social pelo Institute of Social Studies, Haia, Holanda, 1966. Estudos sobre Política Social para Idosos, Japão, 1980. É consultora em temas como Famílias de idosos, Instituições de Longa Permanência para Idosos, cuidados etc. Vive em Caldas, Minas Gerais. É membro da Rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected].